Cada compasso monossilábico pronunciado pela guitarra incentiva um súbito estado de introspecção. Com sua delicadeza e breve generosidade exortada em forma de um embrionário veludo, a canção vai se enveredando para uma ambiência estética baseada em um blues completamente minimalista. É com esse cenário que Claudia Tomàs entra em cena com seu timbre agudo, aberto e cru. O que impressiona é que a interpretação lírica dada pela cantora faz com que Quarantined Senses soe como se estivesse sendo cantada por ninguém menos que Janis Joplin. Uma constatação que causa arrepios constantes.
Ainda bebendo do máximo minimalismo possível, a presente canção propõe uma interação direta e bruta entre bateria e baixo. Construindo um ambiente de base preciso e consistente, ainda que tão monossilábico como a sonoridade da faixa anterior, Gonna Take A Break, felizmente, passa a vivenciar a experimentação de texturas aveludadamente ácidas que propõem um andamento mais fofo e sensual. Graças ao sonar do teclado ao preencher a base harmônica, a faixa conquistou seu toque de contágio, caráter percebido e salientado por Claudia e sua interpretação lírica pautada em improvisos e espontaneidade.
Delicada, sensual e indiscutivelmente romântica, a faixa explora um senso de paixão irresistível através de um veludo completamente convidativo. Protagonizada pelo afofar típico do som do fender rhodes, essa textura preenche a composição em todas as suas camadas, a tornando um produto viciante e até mesmo hipnótico. Doce e delicada, mas exortando, através da interpretação lírica de Claudia, notas de decepção, I’ve Seen You Lose captura a sensibilidade do ouvinte em virtude do seu profundo senso de introspecção se sobrepondo em meio a uma estrutura melódica deliciosa e embrionariamente jazz.
Eis aqui um material delicado. Cada textura e cada sensibilidade proposta pela sua construção sonora permite ao ouvinte um vislumbre de completo torpor em meio a nuances que beiram aconchego e conforto, mas também lapsos de drama e decepção. Expondo lados românticos e introspectivos a tal ponto que deixa escapar brisas dramáticas, Yearnings of modern life chama a atenção pela sua ampla sensibilidade.
Fundindo jazz com flertes singelos com a estrutura típica do R&B, o material, invariavelmente dá destaque à Claudia, ao seu timbre e à sua forma única de interpretar o conteúdo lírico. Sempre cheia de emoção, a cantora faz com que cada uma das faixas sejam como uma experiência sonora única. Mesmo que as três primeiras obras tenham maior destaque por possuírem um aspecto emotivo mais saliente, o EP é, inteiro, um produto que entorpece a audiência pela sua entrega e pela sintonia aguçada existente entre o time de músicos que acompanha a vocalista.
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