Xperi-Lab é o projeto no qual o produtor canadense GC apostou para imergir em sonoridades infinitas, buscando em caráter irremediável o desafio de mergulhar em prognósticos carregados de experimentalismo (como seu pseudônimo artístico já determina) e estruturas ambient. Aliás, o ano de 2022 vem se primando por um aumento incessante de intentos instrumentais minimalistas e que proporcionam uma “desaceleração” dos sentidos ao imergir na experiência sensorial com a música. Possivelmente é um reflexo da nova relação das pessoas com a mesma, grande parte nem consegue ouvir uma canção por inteiro, como ficou relatado em uma pesquisa recente…
Mas “Connecting Dots”, seu lançamento autoral em formato de álbum, o artista demonstra uma de suas múltiplas facetas, pois carrega grande experiência no terreno musical. “Uso criação de áudio ilimitada, tentando ultrapassar os limites, explorar novas técnicas de criação e design de som”, atesta o autor frente a incrível experiência promulgada neste soberbo conjunto de nove faixas, onde o mergulho frente a um universo carregado de caminhos desconhecidos e a ausência de limites delimitativos, permeiam o status da obra. Os trabalhos iniciam em proporções cinematográficas com “Dark Shadows”, onde uma atmosfera soturna envolta em sintetizadores agrega probabilidades minimalistas das mais díspares, como cantos de pássaros e ruídos que denotam uma certa tensão, fazendo jus ao título. Muitas imagens brotam sucessivamente deste percalço sedutoramente lúgubre, remetendo a um fascinante tema de thriller de ficção-científica, onde a encore se dá com “um barulho estranho no mato quando estava no banho” que o canadense fez questão de registrar em formato manual. Aliás, o trabalho como um todo se estabeleceu em um prisma de total isolamento, completamente independente e solitário!
“Perpetual Factory” novamente desprende sintetizadores em total profusão ambientada em mistério, com a perspectiva hipnótica sendo promulgada de maneira que sejamos totalmente abduzidos pelo processo. É absolutamente IMPOSSÍVEL não mergulhar em toda a viagem sinergética promovida pela faixa. “A Night in the Forest” explora os elementos da natureza e novamente o “desintegrador de moléculas” fascinante desmedido neste processo, arrebata-nos para dentro do processo que se consuma. Grilos registrados na ilha de Antigua, no Caribe, são aspectos determinantes para a riqueza do universo elaborado em muitas estruturas ambient. Novamente um cenário futurista desprende seus campos magnéticos em “Intermitent Lava Bubbies”, onde a fluidez de perspectivas conduz em pretensões de robótica e comunicação espacial, todo o percalço devidamente explorado neste mergulho ao desconhecido. “Connecting Dots” é um registro no qual se torna indubitável a total imersão no fantástico resultado obtido, tornando tarefa impossível pular alguma destas canções onde somos devidamente imergidos nesse prognóstico SENSACIONAL!
A envolvente “ADX-31” tem detalhes interessantes em sua concepção, como a utilização das ferramentas Moog Concertmate MG-1 e um Korg Kaossilator, proporcionando um som único e irremediavelmente conciso em proporções encantadoras. Cada partícula carrega grande dose de sofreguidão em seus passos estabelecidos, denotando sentimento de grandes insights melódicos que reverberam princípios dissonantes de humanidade e robótica simultaneamente. “O resultado final foi obtido ajustando os parâmetros no Kaossilator, mas sem ouvir os efeitos aplicados”, mais uma característica singular que emula o processo contemplado neste trabalho de proporções magistrais! ”Reprocessed Processes” é uma verdadeira suíte com permeios eletrônicos, onde percebemos ecos do mestre Brian Eno, apesar da faixa exaurir personalidade pelos poros, explicitando a identidade artística poderosa de Xperi-Lab!
Os sons que se complementam frente ao minimalismo que progride em instâncias gradativas, carrega um aspecto amplamente sedutor frente ao fazer instigado: “notas tocadas em uma escala específica, gravadas digitalmente muitas vezes e cada vez eu estava ”tocando” um efeito (modulando alguns parâmetros).
Assim, cada camada foi tratada ao vivo por muitos tipos de efeitos como delays, reverbs, síntese granular e distorção e adicionado sobre a camada anterior.” São mais de nove minutos revertidos em projeção ondular que desatina experiências das mais vívidas e absolutamente inesquecíveis em seu prognóstico totalitário!
“The Spy” assume proporções épicas, onde devidamente entramos em uma trama carregada de estigmas envolventes e congruados, frente a uma sinergia que desprende espacialidade e tensão abruptamente. Não temos dúvida que o grande Vangelis amaria se apropiar desta peça absurdamente tentadora nos mistérios discorridos a cada nota, emulando frequências de abismos incógnitos! “Inverted Fibonacci Frequence” funciona como uma vinheta urgente e esplêndida em seu fascínio assombroso, sendo um intento investigativo em suas sondagens frequentes ao desconhecido. E a obra-prima se encerra com “Half Circle”, uma verdadeira oficina do caos, onde a sensação esfumaçada de apocalipse em sentidos poéticos, determinam os rumos deste processo, um dos maiores fechamentos já presenciados, onde o crescimento desmedido leva a contextos de destruição emulante! Fatalmente, este debut de estreia conduzirá o nome Xperi-Lab para dimensões estratosféricas, chegando até os recantos mais inóspitos do planeta, pois é isso que sua música propõe juntamente as experiências que enalteceram esse processo tão instigante. “Connecting Dots” é muito mais que um álbum apenas, mais um acontecimento de infindáveis proporções, tamanho o poderio desbravador desprendido. Disponibilizado para audição abaixo:
https://xperi-lab.bandcamp.com/