Se você não deve julgar um livro pela capa (nem um álbum, aliás), também não deve fazê-lo pela música de abertura. Muitas vezes, a faixa inicial resume bem um trabalho e/ou serve como um belo de um cartão de visitas, mas, no primeiro caso isso não é uma regra. Já, quanto a convidar o ouvinte a imergir num disco, isso é meio que o básico.
Aqui, neste novo trabalho do jovem Will Sims, pelo fato de “Lose Control” ser a mais técnica, intrincada e impactante música do disco, cremos que estaremos diante de um trabalho mais tarimbado do que a sequência que nos é entregue. Porém, nos enganamos. Não é bem assim, e isso não é algo pejorativo, pelo contrário, o músico se mostra mais versátil e abrangente do que imaginamos.
“Lost Control” abre o álbum “You Have a Voice, Use It”, que o artista de Baltimore, Maryland (EUA), soltou em outubro último. A música traz uma mescla espetacular de rock alternativo e progressivo, com guitarras de bases magnificas, um ritmo levemente quebrado, com uma pegada extraordinária. Além das bases, os solos de guitarra são maravilhosos, uma das cerejas do bolo da canção. Além disso, vocais dramáticos entonam refrãos com ‘backings’ guturais, o que surpreende o ouvinte novamente. Como dito, a faixa impacta e faz sua função de abrir o disco magistralmente.
Porém, em “Move It Or Lose It”, a coisa muda quase que drasticamente. Cantando em ‘drives’ e com um riff baseado no rock and roll clássico imortalizado pelo Motörhead, Sims mostra uma faceta menos séria e mais agressiva, incluindo refrãos pegajosos e uma estrutura mais simplista.
O rock alternativo retorna na terceira música, “To Remind You”, mas sem a veia progressiva que ele se mescla na faixa de abertura. Aqui, a música ganha um ar mais dramático e melodias mais intensas, resultando em uma faixa emotiva e com uma base mais simples.
Eis que cheguemos na metade do disco, e não poderia nos faltar uma balada. Mas, Sims passa longe de ser piegas e muito menos meloso, ao menos aqui. Ele entrega uma faixa com uma estrutura impressionante, além de arranjos muito bem encaixados. Trata-se de “I Should Never Have Given Up On You”, que segue uma veia mais alternativa. Com um violão de cordas de aço como base, uma bateria semi-candenciada e linhas vocais limpas, ele traz mais uma faixa de refrão primoroso, incluindo o trabalho de ‘backing vocals’.
E, incrivelmente, começando a segunda metade de “You Have a Voice, Use It”, temos mais uma balada. Porém, “Fears” é uma faixa que tem um tom dramático mais exaltado, e as bases são mais objetivas e simples, também seguindo com um violão. Provavelmente essa agradará os corações mais sensíveis e têm mais chances de entrar para um playlist de alguma rádio. O piano que o artista encaixou ficou perfeito.
Voltemos ao barulho. “What Are You Doing?” chega com uma mescla de rock alternativo e pop punk (esse com doses homeopáticas). A faixa, uma das mais velozes e diretas do repertório, é daquelas que acostumamos a ouvir nos anos 2000, quando algo mais melodioso com guitarras agressivas comandavam as paradas.
Will Sims também sabe andar pelos elementos modernos, e isso pode ser provado em “Lose Each Other to the Truth”, penúltima faixa do disco. A canção, apesar de trazer timbres mais sujos, encarna uma veia diferente. Com sintetizadores auxiliando nos arranjos, a música tem uma batida levemente industrial. A veia do rock alternativo, visivelmente o mote do trabalho, fica por conta das linhas vocais, que mantêm o script.
Por fim, “Where Are You Now?”, que encerra o disco, mostra que Sims não quis arriscar muito para fechar “You Have a Voice, Use It” com chave-de-ouro. Com um ritmo cadenciado e melodias mais incisivas, a faixa carrega aquele ar mais dramático de faixa de despedida, do qual o músico mostra entender bem. Pesada, a canção prima por suas guitarras sólidas, acompanhadas por um violão discreto e a bateria com muita pegada. Mais uma vez ele arrasa no refrão, que fica na mente por alguns minutos depois de acabar a canção (isso se você não apertar o repeat do disco).
Encerrada a audição, temos que dizer que Will Sims simplesmente conseguiu aquilo que queria, tanto em termos líricos, quanto musicalmente. Ele transita pelo rock alternativo (maior foco do trabalho), punk, pop, progressivo e até metal, com climas que variam do mais descontraído, agressivo, passando pela euforia, mas principalmente trazendo uma gana de passar sua mensagem (afinal o nome do disco, em uma tradução livre é “você tem a voz, use-a”) e um tom mais dramático.
Como ele mesmo explica, os temas transcorrem o inconformismo contra a situação atual do mundo, decisões mal tomadas que geraram arrependimentos, além da evolução pessoal e crescimento. Estamos diante de um álbum musicalmente magistral e com temas que acrescentam. Ou seja, o pacote completo.
‘discovered and supported via Musosoup #sustainablecurator’
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