Voice Of One Crying In The Wilderness | Valley Of Salt anuncia álbum conceitual que reimagina o antigo conto da fé, da convicção e da redenção

É de grande admiração quando uma obra se inicia de maneira a instigar diferentes sensações no ouvinte. Na presente faixa, antes mesmo que ela evidencie sua verdadeira natureza emocional, ela já consegue difundir sensos de um intrigante desconforto no espectador. Da vulnerabilidade, passando pelo medo e o mais temeroso espectro da insegurança, o sonar grave que ressoa pela atmosfera de maneira tremulante sob sua origem grave evoca a solidão e a carência como elementos que norteiam a experiência sensorial em andamento. Surpreendentemente, o que acontece é que a conjuntura sonora que se desenvolve em seguida se configura por meio de uma amenidade fresca e contagiante. Agraciada por um corpo consistente em virtude do groove marcante do baixo na base melódica assumindo notável destaque perante os demais elementos, a canção experiencia uma cadência midtempo graças a uma bateria que se apresenta sob frases repicadas. Harmônica graças à identificação do teclado proporcionando um agradável toque simultaneamente aveludado, adocicado e ácido, The Love Of God Is All Around Us explora, de maneira precisa, as atmosferas do rock progressivo ao mesmo tempo em que se arrisca com uma espécie de folk irlandês e um rock alternativo suave.

Não é possível não associar. Afinal, a semelhança soa um tanto gritante. Aqui, a bateria funciona como o único elemento a fornecer o amanhecer do novo cenário. Sob uma levada firme, precisa e consistente, em virtude pela base de seu desenho rítmico, o instrumento cria uma frase percussiva bastante parecida com aquela exercida por Nicko McBrain na introdução de The Prisioner, single do Iron Maiden. Aquém dessa similaridade, a canção, conforme vai se desenvolvendo, vai se apropriando de uma espécie de heavy metal aos moldes britânicos conforme experimenta texturas de um épico pegajosamente dramático em suas curvas melancólicas. Fornecendo uma boa sintonia entre os personagens sonoros presentes, Don’t Be Afraid soa como a representação do momento em que feixes de luz do Sol rompem a densa camada de nuvens escuras fornecendo lapsos de esperança em meio ao caos. Na presente faixa, inclusive, não é difícil para que o ouvinte, em um dos momentos que ocupam o seu diálogo épico, encontre evidências da influência do Deep Purple perante a musicalidade de Brian Stemetzki.

É como um oásis no deserto. A aparição de um céu límpido e calmo no ápice da atividade de um furacão. Por meio do piano, o que acontece aqui é a experimentação da delicadeza, da sutileza e da criação de aromas. Culminando com a criação de uma atmosfera profundamente intimista e hipnótica graças aos sonares tilintantes semelhantes aos dos sinos de vento valsando ao primeiro contato com a brisa do entardecer, a canção surpreende o ouvinte ao ofertar uma gama de sonoridades até então inéditas em seus diálogos. Durante seu desenvolvimento, Wilderness Interlude, enquanto traz um baixo que caminha livremente pelos terrenos do blues e do R&B por meio de um groove encorpado e levemente saliente, evidencia a presença do sopro aveludado-estridente do trompete se fundindo com a agudez adocicada-estridente da sanfona em meio à construção de seu âmbito harmônico. É assim que a obra se torna marcante em seu êxtase sonoro.

Com lançamento previsto para 03 de fevereiro, Voice Of One Crying In The Wilderness é um álbum que só pode ser definido por uma palavra: grandiosidade. Afinal, a cada um de seus 10 capítulos, o ouvinte é convidado a viver viagens sonoras que jamais imaginou poder experienciar. Do torpor ao ânimo, passando pela melancolia, a fragilidade e o êxtase, o espectador acaba até mesmo se perdendo na ampla gama de texturas ofertadas nas canções.

Conceitual, o álbum mostra, graças ao auxílio da sensibilidade e musicalidade de Marty Willson-Piper no campo da produção, o Valley Of Salt dialogando abertamente sobre questões inerentes à crença. De maneira subjetiva e até mesmo intuitiva, o material propõe, ao mesmo tempo em que permite ao ouvinte reimaginar, com sua própria bagagem de vivências, uma espécie de adaptação do antigo conto da fé, da convicção e da redenção.

Não à toa que as primeiras três canções da track list se destacam. Afinal, elas apresentam roupagens que permite um caminhar livre perante essa temática um tanto mística que chega a beirar o esoterismo. Do rock psicodélico ao metal progressivo, flertando com a roupagem dura do doom, o álbum é um verdadeiro vociferar hipnótico que conduz o espectador à abertura de seu próprio inconsciente na ânsia de lhe permitir atingir o seu próprio cerne. 

Claro que canções como Machaerus, com sua introdução gutural e seu desenrolar para o terreno de um hard rock mais ácido; assim como a surpreendente balada acústica e folk Receive You, também têm seu brilho. Afinal, por meio de seus diálogos verbais e outros terrenos melódicos, elas exploram novos ambientes sentimentais de Brian Stemetzki. Não é à toa que Voice Of One Crying In The Wilderness se configure como um álbum lexicalmente marcante.

Mais informações

Site Oficial: https://valleyofsaltband.com/

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