“Triumph” confira o enigmático novo álbum de George Bolton’s Trancendental

Para algumas gerações, a cena techno dos anos 90 foi determinante para a formação de caráter de muitos músicos. O estilo que absorveu o legado do synth pop dos anos 80, com uma pegada menos dark e mais eletrônica, revelou ao mundo movimentos embalados pela eurodance e congêneres. George Bolton’s Trancendental vai mais além neste universo. Em seu novo álbum “Triumph”, ele traz tudo isso em profundidade, mas com sentimentos caminhando lado a lado com a virtuose. A fórmula das batidas pesadas e elementos modernos estão aqui, adicionando um pouco mais de empatia, mistério e empolgação. Talvez você terá uma boa experiência com isso.

Original da cidade de Boston, Massachusetts (EUA), Bolton é um mestre dos sintetizadores. Suas influências vêm justamente da crescente cena dos anos noventa, dessa maneira, nomes como The Orb, William Orbit, Orbital estão entre as suas principais infalências. Mas o projeto não se limita apenas em gravar, pois já foi responsável por conduzir raves, além de se apresentar em clubes. Este último lançamento, publicado pela Gaia Records, possui treze faixas intensas e, ao mesmo tempo, suaves, dependendo do momento mental em que o ouvinte estiver. A título de informação, o George Bolton’s Trancendental já vem lançando álbuns há anos.

O ‘full length’ começa imediatamente com a faixa título e, logo nos primeiros momentos, já dá para sentir a pressão sonora. São batidas fortes com uma produção limpa, mas envolta a uma atmosfera densa. Os vocais femininos realçam essa atmosfera com um toque de sedução e leveza. Mais à frente, “Aaooeeyy” se destaca pela sua introspecção não muito diferente da primeira. Em contrapartida, a segunda música abre um pouco mais a cortina para um espetáculo belíssimo de técnica e melodia. A faixa também exprime um pouco de mistério, o que lhe rende algumas doses de sabor amargo.

Após isso, o caminho está aberto para “Drown In Your Love “, uma música comportada com um andamento simples, porém legal. Um verdadeiro balé de notas menores do sintetizador. Essa música é do tipo trilha sonora de filmes de ficção científica, mas pode inspirar em várias situações. A imaginação do fã pode alertar a si mesmo sobre o que se pode sentir. Do épico de ficção científica às batidas do trap music em “Glorious”. Essa música, inegavelmente, se inclui em uma seção mais empolgante do álbum. É simplesmente impossível ouvir os seus elementos eletrônicos e ficar com o corpo parado.

Algo a se notar em “Triumph” é que, embora o álbum seja uma prova da boa produção, alguns climas são mais peculiares, sugerindo um trabalho mais caseiro, livre de clichês de estúdio. Não é para menos que o álbum foi gravado no próprio estúdio de Bolton, em Boston. Esse lado mais intimista, está contido em músicas como “Where Are We?”. Mais particular ainda é “Summertime”, uma balada incrível com o soar sedoso de um vocal feminino, cujas texturas massageiam nossa audição sem esforço. Esta música prova que George Bolton’s Trancendental consegue ser mais versátil, pois nem de toda batida vive um músico produtor.

Por conseguinte, “Arp Angel” dá sequência ao repertório com um pouco mais de balanço para você. Com um timbre de guitarra meio funk, a música pode promover o alto-astral de muita gente. O bom de se ouvir algo deste artista, é que ele não investe muito na complexidade, logo, o projeto acaba se tornando digerível. A versatilidade já mencionada, também apresenta vários lados. Em “Hold You”, por exemplo, constata-se o uso de atabaques, destacando uma percussão criativa. A intimidade de Bolton com efeitos de sintetizador, nesse sentido, é muito valiosa para a criação de diversas bases como melodia.

Ao darmos continuidade à audição, nos deparamos com “Water Sprite” que, até aqui, se mostra como a música que tem ais influência da house music. Sua base balanceada é um convite às pistas de dança, mas não há nenhuma extravagância. Essa execução está mais para algo na zona do groove, portanto, ótima para ouvir em ambientes de conversação. A música que emenda, chamada “Echo”, também é outra maravilha do universo eletrônico, com seu poder sofisticado e uma trilha em loop do sintetizador. Esse conjunto de elementos resulta em uma faixa livre, harmoniosa e bem estruturada como todas as outras, claro.

Na trinca final do disco, “All You Need” encabeça com uma melodia mais trabalhada, quase mergulhando em linhas mais complexas. Já a próxima, “XRD1” tem uma cara mais futurista, fazendo parte daquela seção de temas de ficção científica. No entanto, a cereja desse bolo se chama mesmo “Night Skyline”, uma música mais suave com um perfil de epitáfio, ou a última pessoa que sai e fecha a porta. Em linhas gerais, George Bolton’s Trancendental conseguiu aqui manter o seu respeito como grande músico e compositor, além de contribuir para uma cena musical mais envolvente e interessante. Grande e maravilhosa obra!

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