Há algumas histórias que parecem ser protocolos para formações de bandas. Uma delas é quando os integrantes se conhecem na escola. Quantas vezes você não viu isso enquanto pesquisava sobre bandas e suas formações? Pois é, mas não são regras, porém acontece muito.
Não é muito diferente com o The Psychsomatics, que teve início quando dois de seus integrantes se conheceram no ensino médio pelo fato de ambos tocarem saxofone (isso mesmo!). Claro, a amizade foi crescendo, eles deixaram o instrumento de lado, descobriram que sabiam tocar guitarra, teclado e bateria e foram amadurecendo dentro de si mesmo.
Logo a banda estava formada, e hoje se estabelece com Steven Siggard na bateria e vocal, Sierra Siggard no baixo, Jacob Dodge na guitarra e Zaz McDonald nos teclados. Um quarteto clássico, com instrumentos clássicos, mas que faz um som um tanto quanto diferenciado.
Diferenciado não significa reinventar a roda, até porque muitos dos elementos que o ouvinte irá encontrar no som do The Psychsomatics vêm de influências, de vários estilos e isso consta em seu novo álbum, este “Seams of Expectation”, que na verdade é a estreia do grupo radicado em Salt Lake City (Estados Unidos)
São nove composições onde o mote principal fica por conta de o quarteto conseguir trazer o psicodelismo aos tempos atuais, mesclando com elementos mais modernos e com uma execução um tanto quanto complexa das faixas. Mas, o resultado é mais simplista do que se imagina, isto é, não exige tanto do ouvinte e acaba em composições de fácil compreensão.
Isso tudo se deve a naturalidade com que a banda consegue expor seus objetivos. Mesmo tendo uma proposta inicial, que é a de levar ao ouvinte um rock orgânico através de uma viagem nostálgica, o The Psychsomatics vai além, conseguindo inclusive adentrar diversos nichos.
E o mais incrível é como a banda tem uma forte identidade, que pode ser identificada em seus timbres, suas linhas vocais e também na produção orgânica, que capta a essência dos instrumentos, mas não esnoba os recursos tecnológicos atuais. Aliás, a produção primou por isso e os timbres são extremamente agradáveis.
“Seams of Expectation” começa com “Alien Friends”, uma canção que não faz muita parcimônia. Seu início levemente influenciado pelo soul já desperta curiosidade no ouvinte, mas logo ela se insere no indie psicodélico com guitarras de efeitos lisérgicos, uma bateria cadenciada, mas cheia de viradas e interpretação vocal dramática. É um ótimo cartão de visitas do disco.
“Descend 2 Rise” é mais dinâmica e melodiosa, além de direta (em sua levada, pois tem mais de 6 minutos). Os teclados se destacam por seus efeitos mirabolantes, além de Steven cantar quase em falsete. A faixa revela uma veia mais pop da banda, mas, ao mesmo tempo progressiva.
Mantendo a viagem, mas ganhando um tom mais introspectivo, “Darkness of the Sea” traz bases simples de guitarras, deixando a explosão para os teclados. Mais uma vez a cozinha faz o seu papel de forma primordial, com linhas que dão a vibração necessária à composição. A faixa transita pelo lado brando de seu verso até a agressividade de seu refrão.
“Phase Her” é a primeira faixa que traz mais sujeira nas guitarras, porém não em tempo integral. Ela continua com o teor indie atmosférico da banda, mas ganha cordas distorcidas esporadicamente, se aproximando mais do garage rock. E logo no início de sua primeira metade, em “Whoever Asked To Live”, a banda dá mais intensidade e dinâmica, inserindo uma veia mais ‘power-pop’ ao tracklist. Destaque sem dúvidas para as guitarras vintages e as linhas vocais mais graves. Essa faixa é, sem dúvidas, surpreendente.
Incrivelmente, “Glamorous Woman” também segue um teor clássico, inclusive ganhando guitarras bem ‘bluesísticas’, além de uma levada muito bem sacada. O conceito ‘power-pop’ sem mantém, mas a veia rock aqui fala mais alto e o ar ‘descolado’ é incorporado naturalmente à canção.
O mais interessante vem nas três faixas finais. Nelas, o The Psychsomatics soa mais objetivo, mas não muda as características que todas as composições têm em comum, que são as levadas indie, o ar psicodélico e o clima viajante. No entanto, a média das composições, que giravam em torno de 6 minutos, cai pra 3 e é somente isso que muda.
“Maus Haus” é a mais introspectiva e parece nos sinalizar para o fim, enquanto a semi-balada “I Will Wait For You” parece ter sido feita para ser a mais acessível do disco. Mesmo assim, ainda tem um instrumental técnico e muito bem executado. Fechando o trabalho, o The Psychsomatics nos surpreende mais uma vez, entregando a pesada “Canyon”, que poderia se encaixar perfeitamente dentro do rock alternativo.
Inserido dentro do rock, em suas facetas do indie, progressivo e alternativo, “Seams of Expectation” traz como tema em comum as expectativas da vida, suas consequências como decepções e surpresas, entre outras coisas. Além de tudo, é um álbum que nos convida a refletir.
https://open.spotify.com/artist/39DG8iOHpqUsnlAyUN7Bn2?si=7e6ulaXvTs2LgoJVwZXteQ
https://m.soundcloud.com/the-psychsomatics
https://thepsychsomatics.bandcamp.com/album/seams-of-expectation
https://www.youtube.com/@thepsychsomatics6213