“Smooth Roller”: Tolpamin exibe a riqueza de se fazer arte conectando e desconectando suas peças artísticas

Imagine uma placa de vidro inteira. Bata com força nela e veja o que acontece. Ela se parte em vários pedaços, correto? Óbvio que cada pedaço terá um tamanho diferente, imperceptível a olho nu, outros serão do mesmo tamanho, embora exista a discrepância do formato, por exemplo. Agora volte às características da placa; pense nela como era antes de espatifar-se em pequenos pedaços. Era uma peça única, não é? Muito bem, agüente firme que voltaremos para nossa equação!

“Smooth Roller” é um álbum de pequenas frações, 12 ao todo, que podemos associar a nossa placa única. Cada pedacinho varia o tempo: 28, 30, 31 ou 32 segundos. Cada faixa à sua maneira nos apresenta uma parte do todo, cada universo nos conta alguma história; talvez não faça muito sentido olhando o quebra-cabeça apenas na superfície, mas se pararmos para montá-lo e apreciá-lo com dedicação, será possível encontrar um contexto. Bem, ao menos tentaremos!

E Tolpamin, o idealizador, a mente criativa por trás de “Smooth Roller”, diretamente de Winnipeg, Canadá, aposta todos os dados para ver se nos sairemos bem nessa jornada, estendendo o tapete, que daqui observamos desenrolar. E uma das primeiras informações que trago ao ouvinte é que tudo aqui é eletrônico. Há texturas, desenhos atmosféricos que mudam a direção, mas firmemente focados no universo da música sintetizada.

 “Silent Treatment” é aquela abertura ambiente que oferece inúmeras possibilidades. Não é triste, tampouco assustadora. Soa como se estivéssemos dentro de um filme anos 80, com temática policial. Quem sabe um jogo de diversas fases, ou um roteiro cinematográfico em que aventuras estejam no cardápio, como disse, um leque de possibilidades se abre. As impressões brotam através da tecla insistente e da camada submersa que desempenha certo suspense.

E tão rápido quanto conseguimos respirar, “The Road to Eleusis” aponta na curva. Caímos em outra dimensão. Uma estrada em que precisamos correr; apertar o passo, pois as paredes estão encurtando. A batida entrelaçada às teclas pulsantes nos encaminha junto às texturas que rodopiam na mesma direção e o caminho vai afunilando.

“To the Nines” é aquele painel brilhante, reluzente, de um equipamento interestelar dos filmes de ficção científica. A linha de baixo caminha tensa entre a batida e as teclas coloridas que dançam nessa atmosfera. Tudo brilha por aqui. Há um peso neste espaço, que poderíamos facilmente imaginar que essa sonoridade tem um pé no metal, de alguma maneira!

“Venus in the Noise” curiosamente nos acena novamente a teoria de que a sonoridade busca suas referências no metal. Embora estejamos cientes de que são as teclas nos oferecendo, através de seus entrelaçamentos, a tônica eletrônica, parece que cordas nos sorriem também. Mas definitivamente, elas são pesadas!

Enquanto isso “These Waves” se aproxima mais dançante e puramente eletrônica. É um olhar que passeia; vaga no espaço por onde nosso caminho trafega e explora.

E se havia ainda um resquício de dúvida no ar, “Funkier Than Thou” deixa bem claro que a influência rock está presente. A base rítmica intensa, ainda que em linhas eletrônicas, conta com uma textura que parece a vocalização de uma pessoa e desenhos que nos remetem a ideia de guitarras pesadas no ambiente. Quer mais metal que isso?

“Somewhere or Other” troca para uma fase tranqüila, como se tivéssemos parado para a meditação. A mais relaxante até o momento. Batina fina, vagarosa, quase nos abraça com sua suavidade, sem contar as teclas, que mais uma vez flutuam na superfície.

Mas “All One” quebra a vibração da calmaria acelerando mais uma vez a nossa carruagem. Outro túnel; caímos novamente em um redemoinho temporal em que o que está à frente é tão rápido e extenso que mal conseguimos observar tudo com calma. É um compasso rápido em direção ao desconhecido.

Mas isso tudo é para exibir a beleza e a delicadeza de “Smooth Roller”, faixa harmoniosa, de batidas espaçadas que aos poucos adquirem a condução mais acentuada, e que dá titulo a coleção. Teclas cintilantes combinam com o otimismo e alegria do espaço e podemos dançar livremente junto à melodia!

E como o álbum não cansa de nos surpreender, “Optional Culture” se apresenta com tons de descoberta. Temos a impressão, ainda que veloz, de estarmos imersos entre violinos e cordas que nos emocionam profundamente. É um dos 30 segundos mais belos da obra!

“The Sugar Cube Dies” chega tecnológica e borbulhante. Um pedaço que encaixa com exatidão lá no começo. Se colocarmos uma faixa ao lado da outra veremos que se pertencem. A continuação da nossa peregrinação espacial enquanto observamos o painel reluzir.

 “Stardust Charm”, a última apresentação, fecha o ciclo com chave de ouro. Batida mais profunda combinada com uma linha ondulada de sintetizador e texturas sonoras obscuras.

Se você se propuser a tocar “Smooth Roller” em sentidos opostos, ou mesmo, mudar a ordenação das faixas, vai perceber experiências variadas. No entanto, a coleção faz parte de um único tecido; pequenos trechos que unidos tomam a forma da nossa placa na condição inicial, lembra? E que depois de quebrada tem ainda toda substância que a torna um belíssimo quebra-cabeça feito de música e genialidade.

Por isso, querido leitor e ouvinte, fique à vontade para encaixar a peça que desejar, no lugar que julgar adequado. Aqui eu trouxe uma das variadas possibilidades de conexão!

Ouça agora mesmo o álbum digitronic de Tolpamin, “Smooth Roller”. Boa audição.

“Smooth Roller”

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