De Minnesota (EUA) para o mundo transportado pelo hip-hop, Stoop lança o álbum completo chamado “Cratehead”, climatizado nas origens do estilo, mas com uma produção requintada. São nove faixas referenciadas por nomes como DJ Premier, J Dilla, The Alchemist e Apollo Brown, onde a primeira “The Origin”, já funciona como um túnel do tempo, embalada pela magia do vinil. O suingue toma forma em “Daybreaks & Heartaches”, com um groove suave e envolvente. Construído a partir de uma atmosfera vintage, onde elementos do soul e incursões eletrônicas são essenciais, o álbum é um desbravador.
Porém, tais elementos eletrônicos são inseridos moderadamente, embora muitas vezes representam o charme da música como em “Dreamland”, onde em seus mais de três minutos, ouvimos uma melodia belíssima de teclado, que chega devagarzinho e se instala em nossa alma. Como resultado dessa invasão, o seu encantamento derrama paz e sossego aos nossos corações. Isso mostra o quão versátil é a capacidade de Stoop em dar vida às suas ideias. De um balanço mais voltado à dança de rua a sons de texturas espaciais, o músico manda muito bem. Portanto, não se ouve aqui qualquer elemento complexo que possa burocratizar a melodia.
Os recursos de música ambiente são inseridos também em “Cherry Blossom”, que entrelaçam as batidas fomentadas no groove à melodia do sintetizador. Essa é mais uma que vai te fazer viajar pelos ares da sua mente onde, seguindo a melodia do som, colocará a sua própria história de vida como letra em cima dessa base. Mas você pode apenas pegar uma carona nessas ondas sonoras e embarcar no tempo-espaço por onde elas te conduzem. Garanto que a sua experiência auditiva será marcante e viciante, pois o poder de meditação que essa base amplia em você possui efeito anestesiante.
Como a intenção de Stoop neste álbum, é manter viva a gloriosa névoa dos anos sessenta quando baluartes do soul, folk e até do pop pavimentavam caminhos que hoje são percorridos por muitos, em “Breathe” ele consegue trazer um pouco disso. Nessa música, o protagonismo da guitarra em cima de uma base mais pulsante, faz ligação incrível entre o ritmo e a melodia. Por assim dizer, aqui se faz presente um campo harmônico que embeleza tanto as batidas de frases longas e cativantes, como o solo contínuo das seis cordas que brilha em toda a extensão da faixa. Não tem como não aplaudir!
A capacidade que Stoop tem de criar sons é transcendental. De maneira idêntica, reina a sua marca registrada nas batidas que podem surgir como diversos ritmos. Em “Mystic City”, por exemplo, o autor insere batidas arrastadas para impor mais personalidade à melodia ‘jazzy’ da música. Ao mesmo tempo em a empolgação nos guia por esse pulsar, a emoção toma conta de nós como forma de alegria e satisfação. Em bases como esta, percebemos a importância da vanguarda no cenário da música atual, pois nada seria muito perfeito se lá atrás pessoas com cérebros inquietos não tivessem presenteado a cena contemporânea com suas loucuras.
E por falar em vanguarda, o álbum que foi lançado pelo selo Hotdish Records mergulha mais uma vez nos estalados de vinil em “Stay High”, e mais uma vez a doce melodia toma conta do ambiente, vagando livremente pelo espaço. Uma das coisas que tem que se destacar é a limpidez e, ao mesmo tempo, a sensação empoeirada que a produção desse álbum nos faz sentir. Muito do que ouvimos aqui nos remete a uma sala madeirada com um sofá emborrachado no canto, perto de um velho toca-discos. Mas é bom que se diga que apenas pessoas de uma sensibilidade singular entende isso.
A abordagem de Stoop nesse disco, abre um leque de possibilidade a vários letristas, pois a versatilidade deste produtor não se limita a uma direção, mas quantas forem possíveis chegar. E sobre a sensibilidade citada agora há pouco, mais um exemplo está em “If It’s Doubting”. Essa faixa reforça o fator eclético contido em “Cratehead” que, em seus 25 minutos de duração, oferece um mostruário de pura magia inundada por execuções vibrantes e tranquilas, mas com o mesmo potencial. Ou seja, consegue congelar a nossa atenção e fazer-nos esquecer do tempo.
O álbum se encerra com a exótica “The Banjoint”, que dentre as nove faixas do trabalho, possui um ritmo mais country, ou oriental. Quem manda é a sua imaginação, no entanto, as batidas inseridas na base são algo vibrantes e complementam o carisma da música. Não esquecendo que as influências vintage até aqui permeiam. Em resumo, “Cratehead” que te põe para dançar, refletir e se emocionar. A forma carinhosa com que ele foi concebido é sentida desde o primeiro instante. Em um mundo onde a cultura musical cada vez mais se atrofia nas mãos de artistas enlatados, surge uma opção de valor inestimável.
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