É sempre legal nos depararmos com trabalhos que têm seu propósito muito bem definido. Ou seja, aquilo que está direcionado e chega com o objetivo de servir para alguma coisa. É o caso de “Sem Palavras”, novo álbum do brasileiro indicado ao Grammy Latino, Grecco Buratto.
Segundo sua apresentação, a concepção, produção e execução de seu novo disco, fez com que ele se desconectasse um pouco do mundo e sua avalanche de informações, que invadem nossos dispositivos, e nos causa um verdadeiro bombardeio de notícias vindas de todas as partes, consequentemente oferecendo doses de dopamina, serotonina e oxitocina.
Com a intenção de passar o mesmo ao ouvinte, ele entrega o disco para que possamos aprecia-lo e encontramos momentos de paz e tranquilidade, enfim, coisas essenciais, principalmente nestes tempos caóticos. Afinal de contas, devemos buscar o melhor e precisamos filtrar muitas coisas e a música é sempre uma ótima área de escape para isso.
Grecco Buratto é músico, compositor, produtor musical e poeta. Nasceu em Caxias do Sul e foi criado em Taquara, ambas cidades do Rio Grande do Sul. Um verdadeiro mestre do violão, começou a estudar o instrumento aos sete anos. E de idas e vindas ao exterior, adquiriu conhecimento máximo do instrumento, mas nunca se perdeu na virtuose.
“Sem Palavras” é o seu segundo disco solo, e cumpre com sua missão. Que é a que definimos nos parágrafos iniciais, de trazer paz e tranquilidade ao ouvinte. E como o nome do disco entrega inicialmente, estamos diante de um trabalho instrumental, mas muito musical e que prima pelo conjunto da obra. Aliás, a escolha do título do álbum é simplesmente genial.
Gravado no Brasil pelo colaborador de longa data Tiago Becker durante três dias de sessões, “Sem Palavras” foi mixado por Becker e masterizado por Juan Garcia Petri na Cidade do México. O disco traz dez composições tocadas no violão, distribuídas em menos de quarenta minutos. É incrível a dinâmica que Grecco consegue atingir para não deixar que o disco caia numa mesmice, mantenha o foco do ouvinte e ainda consiga extrair-lhe as melhores das sensações.
Ele começa com “Last Days” e seu toque levemente erudito, que a deixa um pouco mais pomposa. Mesmo não representando todo conteúdo do disco, a música é uma boa abertura. Levemente dramática, traz um tom melancólico, mas inspirador. A música é seguida por “Lullaby To Gabriela”, que segue um caminho parecido, porém mais brando e com uma melodia mais romântica.
“The Glimpse of a Fleeting Moment”, a terceira faixa, chega com um ar misterioso e mais introspectivo, além de ser uma faixa que se repete mais. É nela que podemos destacar a perfeita captação da produção, onde podemos ouvir os detalhes nas mudanças de notas, incluindo o barulho da madeira do violão. Espetacular. “Contemplation” chega com mais leveza, parecendo uma faixa de primavera, onde o dedilhado de Grecco é mais expansivo.
“Paz”, a primeira que aparece com título em português, também traz um ar mais introspectivo e dramático, mas com leves toques brandos. Seu dedilhado repetido entorpece um pouco o ouvinte, parecendo ser essa a real intenção. Enquanto “Brasileira” nos remete as belas baladas inspiradas pela MPB com seu ar poético que a liga a “Circular, que parece uma continuação natural da música, porém com um ar levemente mais sombrio.
Eis que entremos numa trinca final fenomenal. A começar por “Bgp”. A faixa praticamente traz todo teor que a antecedeu em pouco mais de 5 minutos. Tem elementos levemente neoclássicos e eruditos, mas Grecco consegue deixar isso no melhor conceito popular. Cai perfeitamente como uma música ambiente, seja num espaço de meditação ou em um restaurante onde uma boa comida leve seja servida. Não é densa, mas não é leve, e realmente traz paz e reflexão.
Logo, “Santa Fé” inicia-se com um clipa de despedida. A penúltima faixa do disco vem mais encorpada e objetiva, mas com um clima realmente de dizer adeus. Com uma melodia levemente triste.
Mas o fim vem realmente com “What We Once Were, We’ll Never Be Again”, que nos convida a cessar o trabalho com suas linhas repetidas pausadamente e condução cadenciada. Uma composição que realmente encanta por fechar com chave de ouro um disco onde o repertório prima pelo equilíbrio.
“Sem Palavras” consegue atingir seu objetivo, que é de nos tirar de corpo e alma do caos do mundo e suas avalanches de informações. Por alguns minutos, o trabalho consegue entorpecer nossa mente com a beleza musical e a paz que nos abranda, sendo um respiro importantíssimo para enfrentarmos o dia-a-dia. E isso fica mais interessante a cada audição.
Outro fator que chama atenção é a habilidade de Grecco em transformar uma sonoridade tão sofisticada em algo abrangente, para todos os tipos de ouvintes, ou seja, ele consegue popularizar o violão sem o banalizar. Simplesmente um trabalho completo e de muito bom gosto.
‘discovered and supported via Musosoup #sustainablecurator’
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