São quase 15 anos de atividades. Mais precisamente 14, desde quando o australiano Dan Webb lançou seu primeiro EP em 2009. Mas, além de todo esse período de experiência, que moldou o produtor, músico, DJ e compositor, outros fatores colaboraram com o que é a identidade do cara de Melbourne.
Webb, além de um explorador natural da música, é um artista que desbrava muitas coisas, não apenas experimentando, mas também incrementando e quebrando barreiras, tanto que um de seus motes é derrubar as fronteiras entre gêneros e subgêneros, o que nem sempre acontece (pois não depende só dele), mas acaba gerando sonoridades inovadoras.
A inspiração de Webb para gravar este novo disco, intitulado “Sunshine/Dialogue”, já tem um grande diferencial. Isso porque ele se baseou em conversas que teve com artistas diversos, experientes ou iniciantes, veteranos ou emergentes, além de vencedores do Grammy, membros do Hall da Fama do Rock and Roll, entre outros.
Tudo que foi coletado e aprendido, o australiano colocou em seu disco, obviamente com o aval de sua criatividade. Inclusive, frases de um destes artistas com o qual Webb dialogou acabou entrando em uma das canções. O resultado é este que destrinchamos a seguir, 12 composições onde a música eletrônica flerta principalmente com o jazz, rock e psicodelismo.
A primeira composição, “Drifter”, não tem cara de faixa de abertura. E isso não significa que seja pejorativo. Ela simplesmente é uma música com uma batida direta, que não faz cerimônias, e na hora que o ouvinte vê, ele já imergiu no álbum. Isso é bom, afinal, a canção com bases interessantes de sintetizadores e guitarras, puxa a gente para dentro do disco, sem nem convidar.
Logo, a segunda canção, “A Good Song”, vem como uma trilha sonora de fundo para algumas falas de Greg Saunier, baterista da banda de indie Deerhoof, que é resultado de uma das conversas de Dan Webb em sua pesquisa não encomendada para criar o disco. Nela, Saunier recita algumas frases como “Quando a definição de uma boa música se torna uma proibição, ela é completamente inútil” ou “você quer o oposto. O que você quer é que uma boa música fique indefinida, para que tudo o que foi proscrito agora é permitido, tudo o que não foi ouvido agora pode ser ouvido”. São frases que resumiriam bem “Sunshine/Dialogue”, pois estamos diante de um disco que é impossível de ser pontualmente rotulado, tamanha sua gama de elementos e experimentações.
Mas, não pense que se trata de um álbum complexo de ouvir. “Europa”, a terceira faixa do disco, deixa isso bem claro e nos explica porque alguns chamam o som de Dan de electronic jazz. É exatamente assim que ela soa, com sua suavidade e sofisticação, incluindo a simulação da bateria programada e sua melodia atraente. Já sua sucessora, “Sungere” é um rock industrial descendente do noise, com direito a guitarra distorcida e levada caótica, além de ser a primeira a incluir vocalizações, não necessariamente cantadas.
E a transição de emoções, não para por aí. É incrível essa capacidade, levemente proposital, de Dan oscilar com os sentimentos musicais alheios. Depois de um jazz eletrônico e um rock industrial, ele derrama um ar futurista e todo atmosférico em “Florence Street”, levando o ouvinte lá de cima pra baixo (no sentindo sentimental). Com ar de chamada pra intervalo, chegamos na metade do disco com “Sunshine”, um emaranhado de tudo que foi apresentado até então, com um ótimo solo de guitarra bem ao fundo, porém perceptível.
“Ice Kachang” abre a segunda metade do trabalho, revelando que Webb também carrega influências da bossa nova, afinal, se esse ritmo com esse baixo desprendido não teve tal influência direta, teve indiretamente. Enquanto isso, “Divide” entra de vez no mundo mais jovem, sendo uma batida eletrônica intensa, onde os amantes das pistas irão se deleitar com seu ar moderno e dançante. “Conquer”, no entanto, parece uma continuação natural disso, ganhando elementos leves do jazz como metais, por exemplo.
“Dialogue” chega toda complexa, com batidas e sintetizadores levemente desconexos para depois entrar numa melodia de fácil assimilação e um final brando, representando realmente um diálogo bem desenvolvido. “Ollie”, que traz o trabalho percussivo e de cozinha mais destacado, serve como um respiro e introdução para o fim do disco, que precisa de uma retomada, depois de uma viagem musical prazerosa e contagiante.
Enfim, chega “Back To You”, que surpreende a todos, sendo a mais tradicional, trazendo linhas vocais e uma base simples, de violão e batida eletrônica, podendo ser inserida no indie, rock ou pop. A faixa parece ser escolhida a dedo, pois chega para finalizar um disco onde o ouvinte, naquele instante, parece estar convencido de que mais nada de novo pode acontecer. “Sunshine/Dialogue” fica mais interessante a cada audição e, apesar dos experimentos, é objetivo e não fica enrolando o ouvinte. Dan Webb acerta um chute certeiro com seu novo disco.
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