Em seu sentido original, o termo grunge, significa sujeira em inglês e sua atmosfera peculiar na música, mistura revolta, aflição e melancolia. Traços marcantes do estilo, que o italiano, Kasta, traz para seu primeiro álbum, “Belli fuori sporchi dentro”, traduzindo: bonito por fora, sujo por dentro.
Outra característica acentuada, desta expressão musical em sua originalidade, é o som das guitarras distorcidas combinadas à sonoridade pesada e crua. Desta maneira, por aqui, as cordas ganham força e destaque nas melodias e desenvolvem belíssimos riffs e dedilhados.
E esse material bruto, acústico e visceral acompanha a voz do artista, que entrega uma performance sincera, que não nega suas influências, e de uma maneira transparente, nos concede em suas 5 apresentações, a marca do rock alternativo, que não se importa com regras ou conduções rítmicas redondas. O importante é oferecer ao ouvinte, uma mensagem que o conecte e traga-o para este mundo.
Calzini sparsi ovunque inicia e o instrumento nos informa que uma narrativa sentimental se aproxima. E essa troca amarga de emoções, que reclamam as falhas cotidianas, salienta a tristeza de não ter o outro por perto. Coração partido, cabeça confusa e a voz conduzindo esse território inóspito, que não aceita facilmente o fim. O violão e os vocais habitam a mesma intensidade e combinam a melodia, para andarem juntos no mesmo movimento. E notamos claramente essa vibração tranquila, quando necessária e agressiva também, andando de mãos dadas: voz, violão e melodia.
Bambole tem, junto ao som que sai da caixa acústica, uma progressão de acordes melódicos, para nos contar, que essa preocupação estética é um problema e envolve a saúde mental e física. Essa ideia vazia, que as redes sociais provocam nas pessoas, de que beleza é importante e os famosos likes dizem quem você é, cria apenas personagens que vivem uma vida de lágrimas e dor. Mensagem marcante, que vem combinada aos traços mais calmos de Kasta e trabalha a voz adicionando uma segunda, em alguns momentos. Uma balada que deixa para o refrão, um desenho que cintila o coração da canção, que ao final, apresenta delicadas notas.
Andrà tutto bene é uma melodia profunda, onde o compasso não segue uma linha única e anda conforme a voz entrega a composição e aposta na segunda voz, para destacar as emoções. Essa faixa é uma entrega daquelas que nos acerta em cheio. Chega com afirmações e questionamentos e projeta no ouvinte essa sensação de que vivemos em um mundo sem muitas escolhas, e apesar de tê-las, não há muito que possa ser feito. Apenas seguir em frente e achar que, de alguma maneira, tudo vai ficar bem, mesmo que tudo esteja pegando fogo. Certamente, em algum instante, nós olhamos para este espelho e refletimos, o que de fato, estamos fazendo com nossas vidas. Uma belíssima performance, que destaca o sentimento ressoando sob as cordas do violão.
Adesso surge acelerada. Os vocais informam essa pressa e buscam a intensidade no refrão. O interessante é que o artista, mesmo com essa veemência e peso na melodia, equilibra o tom, e delicadamente trabalha com os backing vocals. As adições de riffs melódicos, acompanhando linhas mais agressivas, formam uma harmonia charmosa, que cativa o ouvinte. E seu lirismo romântico e dilacerante, faz da composição uma apresentação comovente. Esses sentimentos profundos, que arrasam a vida deste personagem, são amplamente expostos e sua aflição descrita, combina e encaixa simetricamente com o desenho sonoro. Destaque para o riff, em uma segunda camada, e para os que finalizam a faixa; encantadores.
Belli fuori sporchi dentro, canção que fecha o álbum e dá título a ele, revela o talento e capricho imposto às construções. A guitarra avisa que é dona do espaço e a composição ganha um ar mais elétrico, apesar do violão acentuar os dedilhados. Bonito por fora, sujo por dentro. Muito significativo e também, genial. E mais uma vez, a dramaticidade ganha espaço, e o tom vocal destaca o refrão associando os riffs pesados e acelera o compasso para entregar a mensagem. Ao final, desacelera e em tom de despedida, os ecos aparecem. A canção fala dessa imagem, destes rótulos impecáveis por fora, mas que quando abertos, não são tão belos assim. Uma comparação implícita e inteligente, sobre a atitude das pessoas e como de fato, elas são.
Essas são as cinco primeiras faixas lançadas este ano, o restante ficará para o próximo. E tudo, nesta arquitetura, é edificado com a voz e o poder estrondoso das cordas. Do acústico ao elétrico, tudo permanece na crueza, como um alicerce firme, que não se interessa por adições floridas. Deseja apenas, a pureza dos acordes. Regras para o grunge, aquele raiz? Somente o sofrimento, a angústia e rebeldia.
“Belli fuori sporchi dentro” é uma obra que certamente, foge dos padrões, e desta maneira, nos conquista sem dificuldades. O álbum rock, em italiano, que oferece mais do que música e estilo, reativa um modo de ser e resgata memórias, de quem aprecia abrir esta janela de emoções e calçar um all star preto.
Deixamos o convite para que confiram a performance de Kasta e vistam aquela camiseta rasgada novamente. Aproveite.
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