O projeto radicado em Nova Iorque do AUTiSM, desde primórdios dos anos 2000 construiu uma trajetória carregada de respeitabilidade e conseguiu se impor singularmente frente a incensada cena da cidade. Sua visibilidade recorrente perante público e crítica especializada veio deste ensejo de construir um conceito sonoro embebecido em experimentações, mas coeso nas composições com paradigmas eletrônicos dos mais sedutores sensorialmente. Mas como surpreender é basicamente a missão do cara, antes de se restabelecer na “The Big Apple” tinha um álbum culminado no Continente Europeu denominado “Neverberator”, imerso em referências de artistas electro-alternativos populares do Velho Mundo.
Mas como se preza o AUTiSM, exaurindo personalidade pelos poros e denotando a poderosa identidade artística desprendida no projeto. Esse tipo de som acabou destoando bastante do que se propôs a fazer em solo americano nestas duas décadas, por isso teve uma cartada genial tirada da manga: remasterizar o registro de acordo com maturidade musical acumulada em todo esse tempo!
E essa imersão mediante esse material, acabou gerando uma injeção de entusiasmo dos mais provindos nessa experiência: “quando penso neste álbum como algo tangível, imagino algum tipo de enorme máquina alienígena que está correndo debaixo d’água. Não tenho dúvidas que é meu melhor trabalho!”, atesta o autor Vadim Militsin, a cabeça pensante por trás de tudo isso. E realmente temos um trabalho FANTÁSTICO, que soa ABSURDAMENTE ATUAL e teremos o prazer de esmiuçar aqui faixa a faixa para vocês…
A abertura com “Old Tape Monofreak” solta uma base ritmada eletrônica frequente de grande arquétipo hipnótico e que dialoga com grooves primorosos, não tendo como não destacar o protagonismo de baixo e guitarra nesse processo. A aura futurista underground acaba esvaindo surpreendentemente em uma quebrada de cadência com beat pesado ao extremos, encaminhando a cerebralidade de outrora para um sedutor aceno as pistas esfumaçadas de clubes europeus! O final da jornada é outro maravilhoso “susto”, com insights ambient de proporção cinematográfica…
“The First Drunk on Mars” reverbera digressões que “abduzem” o ouvinte em caráter imediato, é inevitável não viajarmos subliminarmente frente a esse cenário de ficção-científica deveras transgressor em seu intento. Temos um “encadeamento” natural das canções perceptível, pois “Science 77” mantém a perspectiva anterior, só que emergida em patamares mais lisérgicos. Dessa vez fica impossível não perceber a explosão de cores das mais vívidas em nosso consciente, e os sintetizadores em abrupta profusão garantem a festa amplificada em ruídos incandescentes diversificados!
“Upper Stream” remete a introdução clássica de “One Of These days” do Pink Floyd, com uma linha de baixo tão “destruidora” quanto, para depois (para variar!) quebrar a dinâmica perante um esmero melódico elegante e intuitivamente sensual, fazendo um paralelo com momentos cruciais da cena trip-hop. Simplesmente INCRÍVEL esta “caminhada” pelo álbum até aqui, e pensar que ainda temos bastante material pela frente…
“Catching Up with Eletricity” tem ritmo de montanha-russa desgovernada, desbaratando efeitos e “tecladas” constantes de synth, corroborando para uma vibe caótica mas aprazível ao mesmo tempo. É inevitável não mergulhar de cabeça na “freneticidade” desprendida! As incisões tribais também corroboram para um magnetismo perspicaz ao extremo, permeio absolutamente poderoso nesta missão instrumental-eletrônica.
“Dullgreen” tem um sequenciamento magistral, que acaba remetendo a experimentalismos de ordem progressiva, com sons de bateria vigorosamente primordiais! Não podemos nos esquecer que trata-se de uma releitura remasterizada, então obviamente o tratamento traz prerrogativas de contemporaneidade inclusive nos disparates de ordem técnica. O som emanado é simplesmente irrepreensível neste deliciosamente “requentado” contexto!
“Like a River Inside The Ocean” como o próprio título já sugere, mergulha de cabeça no paradigma ambient, trazendo sons da natureza aprazíveis e belíssimos em sua gradativa textura. A sensação de iminente relaxamento é devidamente abarcada por “Steel Breath”, com sua estrutura apocalíptica cercada de tensão e mistérios abrangentes. O cenário de perigo eminente se desdobra através de imagens conseguintes em nossa mente, e particularmente me remeteu a roteiros de catástrofe alienígena, tão bem promulgados nas trilhas das lendas Hans Zimmer e Jean-Michel Jarre! O desdobramento propagado aqui é realmente algo de outro mundo, indescritível para descrever com meras palavras…
“Flicker” desprende um “batidão” que novamente nos remete ao contexto dançante, e ficamos absolutamente alardeados com tamanha diversificação emancipada até aqui! Realmente estamos perante um poderoso ACONTECIMENTO, muito mais que apenas um lançamento (ou “relançamento”, como queiram) musical! Os pés levitam do chão porque está devidamente instaurada a festa nesta premissa, que termina em contexto proeminente singelo e intimista…
“Hidden Pix” volta para a hipnose sonora de aprofundamento único, com percalços épicos sendo desbaratados ao longo deste ensejo, ainda mais com as pitadas de psicodelia espacial saborosas que adornam este processo arrebatador ao extremo. E a inerente encore “Acute Angels” representa uma união de todo o conceito promulgado neste álbum em patamares tão surpreendentes (inevitável não recorrer a esta palavra!) e FANTÁSTICOS!
AUTiSM está certíssimo em parte frente a sua conclusão: “Neverberator” não é apenas o melhor trabalho de sua carreira, mas também uma das maiores preciosidades lançadas nos últimos tempos! Mergulhe ávidamente desde os primeiros segundos da introdução até o último suspiro em seu “fechar de cortinas”. SENSACIONAL! Disponibilizado abaixo:
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