Scott Ferguson e Bryn Carlson se conheceram por volta de 1980, em Boston, Massachusetts (EUA). Juntos, tocaram em muitas bandas entre os anos oitenta e noventa, mas foi em 2013 que resolveram montar o Underdog. Juntos, revezam funções de vocalista, guitarrista, baixista e baterista, além de compositor. Bryn, no entanto, é guitarrista solo e para se apresentarem ao vivo, contam com a colaboração de Aram Heller (baixo) e Harry MacKenzie (bateria). O primeiro álbum “Ether Dome”, só veio em 2020, mas conquistou muita coisa com relação à receptividade. Atualmente, a dupla promove o segundo ‘full-length’ “Trans Global Amnesia”.
Existe muita peculiaridade na música do Underdog, como riffs sujões, vocais despojados e uma produção musical no mínimo despretensiosa. Contudo, foi com essas mesmas características que a dupla conseguiu o status de ser uma das melhores bandas de rock alternativo de Boston. Entre as façanhas, a banda chegou ao segundo lugar nos charts locais, assim como em terceiro em paradas de outros países. Hoje, mais uma vez lançado pela Sonic Vibration Records, o álbum “Trans Global Amnesia” espera repetir o sucesso de seu antecessor, pois a fórmula é basicamente a mesma com a acidez instrumental e clima sujo perambulando entre suas doze canções.
A primeira música do álbum se chama “You Told Me”, que faz jus ao que já foi dito aqui. A levada é bem rock’n’roll com uma timbragem de guitarra suja, mas com acordes bem definidos, enquanto a outra protagoniza um solo chamativo. Como todo músico veterano, o blues está no sangue desses caras, e isso fica claro em algumas técnicas que o duo usa, tanto na parte do ‘feeling’, como na parte musical. Climas gerados em “Helsinki Airport Blues”, por exemplo, os qualificam como ótimos artistas, apesar dos insistentes arranhões sonoros das guitarras.
Em “Summer Song”, o clima de férias de verão vem junto com uma sensação legal de velharia, pois a música parece ter saído dos anos setenta com uma vibe tipicamente vanguardista. Para realçar mais esse clima, a melodia vocal também nos transporta através de uma espécie de túnel do tempo. Nesta música, e na seguinte “New World Raga”, há uma forte influência de Beatles, inclusive com lindos arranjos orientais, tais como George Harrison costumava inserir nos discos dos quatro garotos de Liverpool. Em uma instrumental como essa, podemos ter certeza de que Scott e Bryn fazem muito mais que produzir riffs distorcidos, como um Motorhead mais melódico.
As músicas mais trabalhadas da banda, como as últimas aqui supracitadas, nos dizem muito sobre a competência e poder de composição da dupla. Porém, a marca registrada mesmo se arquiteta em cima de canções como “Rocket Baby”, que traz velocidade e peso ao disco, deixando as execuções até mais charmosas com a velha faiscada nas cordas. Mas “Trans Global Amnesia” também possui músicas mais pesadas como “Louie & Marie”, que é uma verdadeira marretada na cabeça. Com uma cadência mais lenta e condução mais marcadora, a música é simplesmente busca uma sonoridade sombria.
A versatilidade do Underdog também chega ao punk rock com “Echo Of A Dream”, que além de possuir belos acordes formando a base, ainda tem um desfile encaixado de solo. Tudo isso fazendo cama a uma melodia vocal solta e cheia de ‘drive’. Para quem prefere um som mais solto, essa música é ideal. A seguir, “Munchausen By Proxy” também possui uma cara punk rock, mas com um pouco mais de groove e empolgação. Essa harmonia, claro, está mais representada na bateria, que faz ótima pegada em suporte ao riff principal. Outro destaque vai para o refrão grudento e ácido.
A execução que dá seguimento ao álbum é “K-9”, mais uma instrumental que, diferente de “New World Raga”, não possui qualquer relação com virtuosismo e música típica indiana, mas uma profunda ode ao punk agressivo que em seus pouco mais de um minuto, é capaz de levantar qualquer traseiro do sofá para pogar na sala. Mais agressividade chega em “Mallus Maleficarum”, mas com muito mais peso e velocidade. Aqui, Scott e Bryn dão uma aula de como usar a melodia e a rispidez sonora a favor da arte. E é por causa de particularidades assim, que a banda consegue juntar o crescente número de fãs.
Nesse sentido, eles conseguem colocar em um único álbum músicas que estraçalham os seus ouvidos, com riffs pesados, sujos e velozes, ao mesmo tempo que chamam atenção com canções influenciadas pelo blues e country, como é o caso de “Regeneration”, uma música para alegrar a alma. De maneira idêntica, outras como “Blow Your Face Off” são inundadas pela beleza peculiar da banda executar suas obras. Sempre com mão na massa para modelar ótimas músicas e, ao mesmo tempo, chutando o balde com composições altamente agressivas, segue o Underdog com o seu estilo único de conduzir a sua arte.
Ouça “Trans Global Amnesia” pelo Spotify:
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