A música é um dos elementos da arte que é capaz de gerar mudanças na rotina do homem, mas também tem o poder de causar inércia, dependendo do quão chocante ela age na pessoa. Existe diversas formas de lidar com isso, desde o simples ato de escutar à utilização para cura de algumas doenças. E neste segundo grupo pode estar inserida a música de William Sanford, que tira do forno o seu sétimo álbum “Deep Mollusca” com quinze execuções, somando quarenta e dois minutos de pura ambientação, melodia e bela produção. Veja a seguir.
O ‘full-length’ começa com a faixa “The Pelagic Plunge” que, pela sua duração de pouco mais de dois minutos, parece ter função de introdução. O efeito inicial, que traz o canto de uma gaivota pairando pelo ar e, em seguida, barulho de algo caindo na água, já remete o ouvinte a um plano astral confortador. A sua sucessora, “Abyssal Solenogastres”, que não traz esse tipo de clima, parece de fato ser o estopim ao que você ouvirá pelos próximos minutos. Sua estrutura eletrônica é formada por climas gerados por sintetizador, que parecem sair de uma pequena lâmpada mágica ganhando espaço.
Em “Neopilina”, as influências eletrônicas se tornam mais evidentes, descobrindo o enorme manto de versatilidade que você poderá conferir durante esta audição. O jazz, por exemplo, parece ser um bom condutor para algumas bases deste álbum, como revelam umas partes mais soltas nesta música. Contudo, outros estilos podem aflorar aqui. A exemplo de “Manna from Above and/or Marine Snow”, Sanford consegue lidar com a harmonia de maneira bem íntima, pois apesar de seu virtuosismo o modo como compõe é livre de complexidades. Portanto, a melodia pura e doce se expande neste álbum naturalmente, sem pausas e truculências que, por ventura, algum efeito pudesse causar.
As batidas que Sanford usa em suas composições são bem sutis, porém cheias de personalidades e, muitas vezes, ditam a condução da música como em “Legends of the Whale Fall”, que possui um compasso gostoso nesse setor da cozinha, embora a sua execução seja interrompida por um sample de ondas de rádio mal sintonizadas. Efeito este que acaba transpassando a próxima faixa, “Muusoctopus’s Garden” que tem um gingado mais eletrônico com a já habitual melodia doce. E aqui cabe um destaque à execução ‘jazzy’ do solo de teclados, que deixa a música com um charme a mais.
A execução mais curta do álbum é “Where Bathyal Became Twilight”, com apenas um minuto cravados de duração. A pequena peça bem que poderia ser o epílogo da obra, por sua simplicidade e tom de resumo, mas aqui “Deep Mollusca” está em sua metade, e esta figura uma das influências de música clássica do músico norte-americano. A quase tribal “A Sea Butterfly Amongst the Holoplankton”, é mais uma prova da versatilidade desse autor que, além de emular recursos rudimentares com suas habilidades, também recria elementos futurísticos. E o mais incrível, é que ele une esses dois extremos, transformando-os em música.
O álbum segue com “The Terrifyingly Beautiful Lives of Sea Angels” e, aqui, temos a música mais empolgante do álbum, cujas batidas são mais aceleradas com o sintetizador lembrando um pouco as bandas de new wave, que tomaram conta das rádios pelo mundo entre os anos oitenta e noventa. A sessão mais cativante de “Deep Mollusca” segue com “The Blood Red Waters Of The Photic Zone”, com pouco de influência do hip-hop nas batidas e nos samples. Uma base como essa no álbum, abre mais um compartimento do enorme leque de possibilidades que o artista de Crown Point, Indiana, compartilha.
E se é mexer os músculos que você quer, A sessão dançante vai adiante com “Back To Benthic”, com ambientações mais pop e batidas mais direcionadas ao groove. Uma ótima resposta aos dois títulos anteriores que esperavam por esta base para tornar o álbum com aspecto mais alegremente festivo. Sabendo disso, não seria surpresa se a próxima música também obtivesse a mesma vibe. Porém, apesar de “Dentalium’s Detritus Dinner” possuir um lado mais cativante, alguns elementos de industrial a tornam um pouco mais diversificada. Até aqui, você já ouviu nesse lançamento alguma coisa de jazz, música clássica, pop e hip-hop. O que mais pode vir?
A climatização dos filmes de fantasia. Sim, aqui também este tipo de sonorização que você escuta em bases como “The Neritic Crawl”. Mas também está faltando o R&B. Ou seja, não falta mais, pois a gotosa melodia de “Rainbow Lipped, Mother of Pearl” te entrega isso. Para finalizar este mostruário de climas, musicalidade e virtuose, a música “Despite Gumboot’s Armor” com seus longos cinco minutos de duração, no entanto, sem serem nada cansativos. Em resumo, Willian Sanford pode ser comparado a um gênio da música contemporânea, pois este álbum somado às outras obras lançadas, fazem dele um artista à frente de seu tempo.
Ouça “Deep Mollusca” pelo Spotify.
Saiba mais sobre Willian Sanford em seu site oficial.
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