Bruner em seu álbum “My Descent Into Madness”, redireciona o seu estilo musical

Este é o primeiro álbum completo de um personagem chamado Bruner, de Bryn Mawr, Pensilvânia (EUA). Bem diferente de seu EP de estreia “Everybody Wants to Be a Cowboy” (2023), que permeia pelo pop com algumas incursões country, este último lançamento chamado “My Descent Into Madness” que contém dez músicas, é uma mistura de sons bem orientados com elementos complexos, deixando uma marca quase abstrata na obra. Em síntese, o que se ouve aqui é um conglomerado de pop rock, indie rock e experimentalismo que aos ouvidos de alguns pode soar cansativo, mas em outras pessoas pode soar inovador. A banda, que de acordo com o próprio comunicado consiste em Bruner (guitarrista e vocalista), Fritz Rango (produção) e Whippet (demais instrumentos) inicia o álbum com “Granola”, uma música com um pouco de groove e clima descontraído. Aqui a melodia é fluvial e a base rítmica é relaxante. De maneira idêntica, essa vibe segue em “With You” com um andamento um pouco mais trabalhado. No entanto, as batidas dividem o destaque com um solo sutil que chega a ser o charme da canção. Esse brilho todo é conduzido por um riff gostoso de guitarra que guia a canção com poucas notas.

De canções mais vibrantes a execuções mergulhadas na acidez do experimentalismo. Isso é o que você irá conferir com músicas como “Jack-O-Lantern”, que surge com uma outra atmosfera, embora o som ainda seja envolvente. Em continuidade a essa mutação, “Another Slow Song” é o martelo que prega na parede o quadro tristonho desse tema. Mas isso tem explicação, como conta o autor: “O álbum começa com muitas músicas alegres e pop, já que Bruner está esperançoso em seu relacionamento, mas conforme surgem os problemas ele começa a ficar um pouco fora do limite”. Com isso, conclui-se que o álbum é uma explanação sobre as vivências de Bruner. A sexta canção, “How Come?” possui uma mistura interessante de clima sombrio com o brilhar do sol. Não sei como você poderá entender essa analogia, mas talvez não represente isso, pois Whippet, que na verdade é o nome dado a vários músicos que gravaram esse álbum, possui ideias mirabolantes com bons resultados. No entanto, méritos devem ser atribuídos também ao vocalista que possui um estilo singular na forma de cantar. Exemplificando, às vezes Bruner usa interpretações debochadas e outras vezes mais depressivas, vai depender da vibe da música.

Apesar de este novo trabalho do Bruner buscar outros horizontes para a sua música, os elementos caóticos não são disformes, apenas apresentam peculiaridades em suas formas, que pessoas com sensibilidade musical não terão dificuldade em aceitar, pois a complexidade aqui é apenas um manto para a verdadeira essência sonora, que está guardada em cada movimento das músicas. Como por exemplo, temos aqui a “Monster Mash” que mostra todo o talento dos músicos numa incrível execução cheia de arranjos e efeitos, beirando o virtuosismo do rock psicodélico que, diga-se de passagem, é mais uma influência neste álbum, somada às referências já mencionadas. Referências essas como o pop, onde a veia mais pulsante está em “Road-Trip” com o retorno daquele groove envolvente, que chega com mais intensidade na parte da cozinha e nos acordes de violão. A alegria também está presente na melodia vocal que acompanha, ou contribui, com a atmosfera da música em uma levada de rhythm and blues super alto astral. A cada faixa que corre o álbum, é como se descobríssemos algo novo cheio de surpresa. Isso é fruto de mentes que trabalham para encontrar uma identidade própria que, sem sombra de dúvida, é o caso dos compositores deste álbum.

E pensar que o resultado de tudo isso saiu de um porão, onde fica o estúdio dos Whippets que, aliás, ajudaram a compor todas as partes musicais do álbum, sendo que a autoria de todas as letras são de Bruner. Essa junção de talentos não poderia sair melhor, pois não apenas a acidez, mas a carisma e inúmeros recursos inteligentes são inseridos aqui, como na canção “Descent Into Madness”, que é a mais pesada do álbum que traz o seu nome. No entanto, diante de tanto peso e propulsão sonora, ainda cabem partes mais suaves. Basta conferir e sentir os timbres trelearem a sua membrana auditiva, para depois massagearem. E para finalizar o álbum, nada melhor do que uma boa execução soturna com notas refrescadas de violão. E isso fica a cargo de “Won’t Last”, que funciona como um epílogo de uma peça teatral que acabamos de assistir (lê-se, ouvir). Os acordes suaves desta instrumental que, em dado momento, deixa empoderar-se através do ar, encanta o nosso espírito com os seus pouco mais de um minuto de duração. É como se a cortina do espetáculo estivesse fechando sem sabermos se haverá uma segunda parte. E resta a nós, diletos contempladores, deixar o nosso agradecimento por uma obra tão subliminar.

Ouça “My Descent Into Madness” pelo Spotify.

Acompanhe Bruner em seus canais oficiais:

https://www.youtube.com/channel/UCW60utBNB4-r_HUo0YIZwJA

https://www.instagram.com/brunerclams

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