É bem interessante quando nos deparamos com trabalhos musicais que trazem certo mistério em sua proposta. E sim, estamos falando de uma aura experimental, o que é exatamente que este artista quase anônimo chamado Srge_ propõe em seu trabalho. Músicas instrumentais, baseadas nos sintetizadores e com contextos diferentes do que nos acostumamos a ver por aí.
Logo, temos um desafio pela frente, pois além de desvendar qual o sentido das composições, também precisamos entender a essência e a mensagem que ele passa com sua arte. Isso é sempre interessante, nos tira da mesmice, apresenta novos elementos e ainda nos insere em novos aspectos.
Intitulado “Landfill_Vol. 1”, este é o terceiro trabalho do artista, se juntarmos todos os formatos. Como álbum, esta é a sua estreia, e ele entrega 16 músicas onde, em pouco mais de 46 minutos, consegue envolver elementos eletrônicos, pick-ups e bateria programada que não fazem questão nenhuma de manter uma conexão.
Apesar de entendermos que o hip-hop é um dos maiores focos do disco, ele não vive somente disso. O álbum traz elementos de dark ambient, indie electronic e similares, tendo até uma veia levemente industrial em algumas passagens. Porém, nunca ultrapassa seu limite, mantendo timbres suaves e obscuros.
Suas composições também costumam trazer auras variadas, já que em alguns momentos é mais intimista, em outros mais caóticas (dentro de suas possibilidades), noutra é mais relaxante. A chave comum das composições realmente é a obscuridade, aqui já mencionada aliás.
O mais incrível, é que entre as 16 faixas, em nenhum momento Srge_ se perde, pelo contrário. Ele mantém sua assinatura, mesmo com um trabalho onde há tanta distinção no repertório e, mais uma vez, caímos no teor misterioso e soturno que as composições apresentam.
Não caindo no clichê da crítica, há faixas de destaque no disco, ao menos em uma audição imediata. A primeira delas é a faixa de abertura, “Old Cabinet Tape”, onde ele mostra um hip-hop com um tempero lo-fi sem precedentes. Depois, “Chemicals” é a primeira a chamar atenção devido ao seu clima de suspense e ar hipnotizante.
“Television Is Relic” é mais uma que chama atenção, pois traz uma melodia mais comum. Porém, isso diante da sonoridade peculiar do disco. Por fim temos que mencionar “Kettle Left On Too Long”, que mostra um lado mais ‘old school’, inclusive com elementos do krautrock e eletrônico mais raiz. Conclusão é que “Landfill_Vol. 1” à primeira vista pode parecer indigesto, mas na segunda audição ele pode ser melhor compreendido e aí é só ir para o abraço!