É um tanto quanto impossível não gostar ao menos da ideia do que é o EP “Birds Aren’t Real”, novo trabalho que os britânicos do Shaven Primates colocaram na praça. Isso porque tanto o conceito do disco, quanto sua sonoridade são de uma criatividade impressionante e ainda nos entretém da melhor forma.
Não que estejamos diante de um álbum exatamente conceitual, mas que tem algumas canções que se interligam. Estes temas abordam, por exemplo, a loucura espalhada pelo mundo em guerra, propaganda, mentiras, calúnias, ódio, negação e conspiração. Aliás, este último quesito inspirou o título e a canção do disco, que diz que os pássaros são nossos principais espiões.
Isso pode parecer uma viagem sem fim, mas se formos analisar o teor metafórico que a faixa entrega, é exatamente com isso que estamos lidando. Para não soar tão prepotente, o quinteto ainda incluiu um cenário distópico, que pode também deixar o ar mais leve em meio a temas tão complexos.
Sonoramente, no geral, o Shavem Primates apresenta em “Birds Aren’t Real” um trabalho que pode ser tão complexo quanto à sua abordagem lírica, porém mais na execução de suas canções, do que para o ouvinte. Afinal, temos músicas muito bem trabalhadas, que mesclam estilos que nem sempre costumam andar juntos, mas que resultam em algo mais simples do que se presume.
No disco, encontraremos músicas com levadas quebradas, elementos progressivos, riffs muito bem desenvolvidos, mudanças de andamentos e uma cozinha que se desprende das linhas comuns. Mas ao mesmo tempo, também iremos nos deparar com músicas objetivas e de melodias cativantes, que não exigem muito de nosso senso de observação para que podemos apreciá-las. E isso não é algo pejorativo, afinal, sabemos que estamos diante de algo bem tocado.
O maior problema em “Birds Aren’t Real” é destacar uma ou outra composição em meio a um curto repertório tão equilibrado como este, logo, fica a imediata a recomendação de que se ouça o trabalho por completo para não se arrepender depois do diagnóstico final.
Mas, não tem como não esconder a emoção inicial ao ouvir as faixas de abertura “Fade Away”, que mostra que é possível inserir o progressivo no post-punk, e a viajante segunda faixa “A Decision” e seu clima atmosférico. E não poderíamos deixar a versátil faixa título para trás, com sua levada bem sacada no verso e o refrão agressivo punk rock. Simplesmente um dos discos mais interessantes de 2023.