A guitarra é a responsável por puxar a introdução. Com seu riff que incita certo grau de melancolia embebida em um azedume entorpecente, ela rapidamente confere ao cenário introdutório uma energia entristecida e tensa. Rápida e surpreendentemente, porém, a melodia tem uma virada estética quando o minimalismo se transforma em algo maior e com mais texturas.
Embebida em um dulçor de caráter aveludado e alucinógeno, a segunda metade da introdução passa a ser regida por uma delicadeza espectral, quase espiritual, fornecida pelo teclado de Claude-Alain Biedermann, a canção é capaz de sustentar sua essência amaciadamente sensual através da levada frágil da bateria de Nicolas Pittet. Enquanto isso, fica a cargo do baixo de David Caraccio a capacidade de dar, também à base melódica, a maciez que define a energia da obra.
Finalmente, quando uma voz de timbre aberto e agradavelmente grave entra em cena acompanhada de um backing vocal formado por Vladmir Carbone e Evgenia Vieira, o qual faz nascer a harmonia lírica, Saigon passa a exortar um curioso senso latino em meio à sua ambiência clássica. Com uma estrutura precisa e consistente, a canção se torna esteticamente irresistível.
É com essa interface que Gianfranco GFN faz de Saigon uma música que, curiosamente, traz um enredo de cunho amargo em que os sonhos não deixaram de ser sonhos. Em que os desejos se tornaram uma memória azeda de um tempo regido pela inocência e pela ingenuidade.
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