Para os mais leigos, o Great American Songbook é uma lista que engloba as composições mais famosas da cultura popular dos Estados Unidos no século XX, sendo a maioria escrita pelo grupo de compositores Tin Pan Alley para Broadway e Hollywood entre os anos 1920 e 1960. Os compositores e letristas mais citados no Songbook são Jerome Kern, Irving Berlin, George Gershwin, Richard Rodgers, Cole Porter, Hoagy Carmichael e Harold Arlen.
Era um movimento musical tão intenso, que nomes como Ella Fitzgerald, Fred Astaire, Chet Baker, Shirley Bassey, Tony Bennett, June Christy, Rosemary Clooney, Nat “King” Cole, Perry Como, Bing Crosby, Bobby Darin, Sammy Davis, Doris Day, Blossom Dearie, Judy Garland, Eydie Gorme, Billie Holiday, Al Jolson, Frankie Laine, Peggy Lee, Julie London, Dean Martin, Johnny Mathis, Carmen McRae, Helen Merrill, Wayne Newton, Dinah Shore, Nina Simone, Frank Sinatra, Barbra Streisand, Mel Torme, Sarah Vaughan, Dinah Washington e Andy Williams almejavam figurar na lista. Inclusive Rod Stewart, que era de outro segmento, a frequentou.
Mas por quê estamos explicando o movimento? Isso porque o vocalista de jazz Russ Lorenson decidiu provar que The Great American Songbook não morreu em 1959. Ele acaba de lançar um trabalho inspirado no gênero, que traz momentos que retratam aquele período, além de trazê-lo a um contexto contemporâneo.
Sim, porque “Standard Time: Live in New York (Radio Edit)”, é um disco gravado ao vivo e que apresenta joias de ícones como John Pizzarelli e Harry Connick Jr, além de Michael Feinstein, entre outros. Originalmente, a apresentação aconteceu em 2008, mas se trata de um trabalho tão atemporal, que isso não é percebido.
O disco conta com 15 composições, onde Russ mostra o quão versátil ele consegue soar nas músicas, que têm um mote em comum, ou seja, um território bem explorado, em que se der bobeira, não se consegue sair do mais do mesmo. Porém, ele consegue tal façanha, entregando 1h de boa música e sem soar cansativo.
O show começa com uma faixa bem tradicional, “Raise the Roof” composta por Andrew Lippa, onde a sensação de nostalgia já dá de cara e revela a qualidade de Russ de cara. Isso porque ele entrega um trabalho vocal primoroso. A música é precedida por “Swing is Back in Style”, que mantém a premissa de sua antecessora, mas com uma dinâmica um pouco mais intensa.
“The Party Upstars” encerra a trinca inicial, que primou por seguir uma aura mais tradicional do estilo, sendo essa faixa uma balada intimista. Logo partimos para “Hello”, a primeira que apresenta guitarras mais consistentes e ganha um tom mais moderno. “Ask Me If I Care” segue com essa guitarra, porém um tanto quanto mais introspectiva e é incrível como destaca a voz de Russ.
Com muito requinte, ele apresenta ainda um clássico no piano chamado “How I Will Say I Love You”, uma música que poderia estar em qualquer filme de vanguarda, enquanto “Forever For Now” traz o jazz tradicional de volta aos trilhos, com um trabalho de cozinha espetacular, dando as caras na hora mais propícia.
Eis que chegamos na metade do disco, e Russ continua cantando como nunca. Vide “Luck Charm”, um jazz blues encantador, de piano sofisticado e uma cozinha que solta riffs na bateria e um baixo pulsante. Já “I’ll Dream of You Again” traz o blues ainda mais acentuado, com a guitarra dando as caras no estilo, mas sem nunca perder a essência do jazz, que belíssima canção.
E, com uma introdução romântica, como o nome pede, “Fools In Love” tem um ritmo cativante, típico, mas que sempre funciona. De Maury Yeston, “Danglin’” é uma balada de vanguarda acompanha somente pela guitarra e de forma magistral. Enquanto isso, “I Changed the Rules” tem uma cozinha que pede passagem, a começar pela introdução espetacular do baixo. E que interpretação de Lorenson.
Entrando na reta final, com a trinca final, “Diamond In The Sky” finalmente traz o que qualquer brasileiro esperaria de um disco de jazz, pois temos aquela levada bossa nova e com propriedade, diga-se de passagem. Enquanto isso, “I’m Right Now” carrega uma melodia mais intensa e tem talvez o baixo que mais vibra em todo o disco. O piano sai do normal aqui e entrega um trabalho primoroso.
Por fim, fechando “Standard Time: Live in New York (Radio Edit)”, “It’s Raining Memories”, a faixa mais longa do disco, só não é épica porque traz um tom mais moderno, porém jamais sem perder a essência do jazz clássico. Uma bela canção pra fechar um show, além de soar versátil dentro de sua proposta.
Não sabemos exatamente se “Standard Time: Live in New York (Radio Edit)” entraria para o The Great American Songbook, mas não pela sua qualidade e sim pela concorrência. No entanto, se dependesse do nível do disco, figuraria fácil no movimento e se não o fez, ao menos o resgatou. Que belo álbum!
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