É como estar plainando por um céu repleto de nuvens fofas iluminadas por um azul celestial. Do alto, o mundo parece pequeno e cada detalhe que forma a paisagem terrestre não passa de meros pontos colorindo o horizonte. Ainda assim, essa paisagem é agraciada por um detalhe penetrante: a simplicidade. A simplicidade da leveza, da calmaria, do convívio com tudo aquilo que parece utópico para uma metrópole que vive à mercê do tiquetatear do relógio. Por meio de uma valsa desenhada entre violinos, Aerial View é como uma captura macro da cenografia que rege o interior de forma a identificar todas as suas nuances, indo, portanto, desde a textura de terra batida ao aroma do gado ocupando seu espaço no pasto.
É interessante nperceber como uma canção pode conseguir acordar a máxima sensibilidade do espectador a ponto de fazer com que lágrimas escorram pelo seio de sua face quase que sem controle. Durante a introdução de Countryside Vista, não apenas a sutileza e a delicadeza preenchem a paisagem melódica. A partir delas, um certo quê de gratidão pela vida passa a acalentar e amornar o coração do ouvinte de uma maneira bastante profunda. Ainda que agraciada por toques curiosamente dramáticos, a presente faixa se torna marcante pelo seu contexto harmônico-melódico tocante, aveludado e cuidadosamente aromático. Com a presença pontual do timpano compondo o espectro percussivo, Countryside Vista consegue, inclusive, conquistar posturas épicas, enquanto o explodir singelo do encontro dos pratos soam como o descortinar de um cenário lexicalmente paradisíaco.
De caráter leve, valsante e até mesmo dançante, Crops vai nascendo gradativamente enquanto evidencia uma essência curiosamente disneyresca em virtude de seu teor lúdico e até mesmo fantasioso. O interessante, aqui, é perceber que o violoncelo, apesar de sua pre-concebida sonoridade dramática, não traz consigo qualquer sinal de melancolia ou dor. Pelo contrário. Aqui ele se torna um elemento responsável por prover consistência e força a uma melodia harmoniosamente fofa e fresca que se destaca pela união dos violinos e violas eruditas. É em Crops também que a trompa entra em cena com a importante função de trazer grandiosidade à harmonia e um toque excêntrico que soa como a aquisição da redenção.
De caráter curiosamente divertido graças à delicadeza da desenvoltura do clarinete nos momentos introdutórios, a canção assume uma cenografia cuidadosamente solar por meio de uma energia que não incita a excitação, mas traz, consigo, vontade de viver mais um dia e de reverenciar a rotina bucólica. De certa forma, é como se Farmland fosse a trilha sonora da colheita, da preparação do solo para o próximo plantio ou, mesmo, do cuidado com os animais da fazenda.
Não precisa de muito para perceber que Rural TV Classical captura a vontade de Thomas Hewitt Jones enaltecer a paisagem campestre. Afinal, por meio de cada um dos 15 títulos do álbum, ele conseguiu trazer a simplicidade e a leveza da vida do campo. No entanto, não foram esses os seus maiores feitos.
Através das quatro primeiras músicas, Jones conseguiu fazer com que o álbum despertasse certo grau de sensibilidade no ouvinte ao ponto de fazê-lo conseguir enxergar a beleza em coisas que passam despercebidas por simplesmente fazerem parte da rotina. Por isso, desde o aroma do capim ao contato com o orvalho da manhã à textura da terra seca sob a superfície nua dos pés, o disco é uma completa viagem sensorial por tudo aquilo que o campo pode oferecer.
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