Nunca é tarde para nada. Ou nunca é tarde para tudo. Nunca é tarde para estudar, para amar, para trabalhar, para praticar um esporte. Nunca é tarde para criar arte, logo, nunca é tarde para a música. Nunca é tarde para fazer o bem, e música é algo do bem.
Dito isso, o músico, compositor e cantor norte-americano, Robert Jordan tem todo o direito de lançar suas composições depois de atingir a maturidade, como ele mesmo diz. E, sem demagogia, há vantagens nisso, pois o que ele carrega de influências e absorções que o tempo lhe proporcionou, faz com que o som que ele apresenta soe diversificado, maduro e consistente.
E não estamos falando de um disco de estreia, afinal de contas Robert lançou seu debut há cinco anos. O trabalho intitulado “Time will Tell” foi o responsável por colocar ele no mapa, e agora, seu mais novo disco, este “Vincent and Theo” veio para consolidar o artista.
São dez composições distribuídas em pouco mais de 46 minutos, onde ele consegue destilar todas as suas influências, que vão do jazz, pop rock, rock, folk, além de inserir elementos como os do soul, country e até mesmo de música clássica, gerando uma sonoridade abrangente.
“Vincent and Theo” tem uma produção primorosa. Cristalina, ela é resultado dos bons recursos tecnológicos atuais, mas não cai nas armadilhas das modernices, pois soa orgânica, o que é muito importante para a proposta da sonoridade do álbum, já que não há absolutamente nada de eletrônico nele.
O disco foi gravado no Far and Away Studios, em Boulder (Colorado, EUA), terra de Robert, por Geoff Gray. Geoff teve uma carreira de cinquenta anos trabalhando em estúdios de gravação e trabalhou com muitos artistas conhecidos. O álbum foi produzido por David Snider, que também teve uma carreira de cinquenta anos trabalhando como músico de estúdio e membro de várias bandas de jazz. Foi aprendiz do grande jazzista Larry Coryell. Ainda adolescente, tocou guitarra no premiado álbum de Janis Ian, “Between the Lines” (1975). Atualmente trabalha com Carlos Santana como tecladista.
Robert é o responsável pelas cordas e vocais no disco, que teve algumas partes de bateria gravadas por Christian Teele. “Vincent and Theo” também contou com belíssimos ‘backing vocals’ de Rebecca Abraxas, que ajudou e muito a embelezar ainda mais algumas canções.
O álbum começa com a linda “Over For Good”, um rock clássico com pegadas de soft rock, onde a guitarra levemente distorcida e o órgão magistral são os grandes motes, além do belo refrão. Enquanto isso, “Invisible Friends” chega com uma mescla empolgante de folk e soul, com um violão inserido sabiamente e a primeira aparição de Rebecca, com suas linhas vocais angelicais.
Aliás, o folk pede passagem na intimista “Beautiful Wife”, mas aqui já flerta com o rock clássico. A música prima por trazer uma interpretação mais sisuda de Jordan, que tem vocais bem característicos, diga-se de passagem. Destaque para a percussão e a mudança total de ritmo e clima pro refrão, que acaba se tornando mais sutil e belo.
Logo chega “Purgatory”, uma semi-balada também descendente do soft rock, que apresenta mais uma vez os ‘backings’ precisos de Rebecca e um órgão que faz jus, mais uma vez, à importância do instrumento no disco. Fechando a primeira parte, “Sky” é uma instrumental que une o folk e o country, e foi colocada sabiamente no meio do disco.
Mas, quem pensa que haverá uma mudança brusca no setlist, se engana. Isso porque o trabalho mantém seu teor e qualidade, neste último caso, sendo muito acima da média. O que já fica provado em “Too Beautiful For Words”, uma balada rock/country com uma das melhores melodias do disco. Não bastasse isso, ainda tem um piano que, apesar de discreto, é maravilhoso.
E agora, quer um southern rock bacana e cheio de ritmo? Pegue “Song For Bob”, uma música que deixaria o Lynyrd Skynyrd orgulhoso, mas preservando toda identidade de Robert. Destaque para os ‘backings’ em forma de coral, que foi um acerto e tanto. E o rock continua, aliás, com ainda mais dinamismo, mas de uma forma com menos guitarra e mais teclados, eis “In Heaven”.
Chegando na reta final, Robert resolveu investir em faixas progressivas e mais requintadas. A faixa título por exemplo, em seu tom dramático, traz até um acordeom se entrelaçando com um belo piano, além do retorno de Rebecca, que faz um dueto fenomenal com ele.
Por fim, “Letting Go”, com uma edição de 2024 (a música foi lançada originalmente no debut), fecha o disco de forma magistral, já que carrega influência clara de Pink Floyd em seus melhores momentos, além de apresentar a melhor performance vocal de Jordan. Que música maravilhosa, com sua base de violão e teclado discreto, ritmo dinâmico da bateria e guitarra que auxilia nos arranjos. Tudo e mais ‘backings’ perfeitos femininos. Um hit do artista, que escolheu bem em a reeditar. Enfim, consolidado!