Requiem | Gav Moran lança EP que explora pesar e aceitação

É muito belo e até mesmo surpreendente quando uma canção se apoia, com maestria, sobre um único instrumento. Quando a obra consegue trazer emoção pela brandura e não pelo caos ou pelo instrumental virtuoso e cheio de camadas. Na faixa-título, apenas o piano é notado. E é ele que oferece ao ouvinte não apenas conforto, delicadeza e frescor. Tal elemento faz com que o espectador experiencie um mergulho profundo em uma ternura com compassivas notas de melancolia. Com sua tomada ondulante, a obra constrói uma cenografia de céu cinza que leva a audiência a perceber o drama. Ainda assim, a dramaturgia aqui presente não é pegajosa, mas, sim, tocante.

Curioso. Afinal, em meio ao floral e a uma delicadeza um tanto intimista, a canção consegue exortar um suor romântico que preenche toda a atmosfera. Um romance com um viés visceral, mas de andamento brando, confundindo a embrionária dor com torpor. Ainda assim, Ascension emociona por, conforme se desenvolve, se desprender dessa impressão carnal para algo mais espirituoso, isso porque ela traz consigo um senso de superação. A esperança obtida com a luz solar em sua forma mais viva banha aquele espectador sensível às energias astrais. E a obra traz isso. Traz a superação e uma espécie de elevação densa que faz do corpo do ouvinte apenas um instrumento de sua experiência sensorial.

Requiem é um EP instrumental minimalista e unilateral. Tendo o piano com seu instrumento-chave, o material oferece uma gama de sensações e viagens introspectivas possíveis graças à sensibilidade e, principalmente, à musicalidade de Gav Moran. Do drama ao charme e à superação, o músico usa do instrumento como um elo entre os dois mundos: o físico e o astral, de forma a fazer com que suas duas primeiras músicas destaquem essa dualidade. Uma obra para sentir e se emocionar.