Se fosse brasileiro, Bill Cantos sofreria com os trocadilhos por motivos óbvios. Mas, não pense que o artista de Los Angeles, na Califórnia, não tem nada a ver com as terras tupiniquins, ao menos no que se trata de música. Mas isso veremos mais a frente, quando destrincharmos este seu novo álbum.
Bill é um pianista e cantor, além de compositor multifacetado, que consegue não só dar ares mais populares ao jazz, como também oferecer canções próprias e covers em um só pacote, tudo com a sua assinatura. “Sensibility”, seu mais novo disco, é mais uma prova disso e talvez a mais evidente delas.
Mas, ainda é bom ressaltar o quanto o artista é influente. Isso porque ele já ‘emprestou’ suas canções a nomes como Ramsey Lewis, Lea Salonga e Patti Austin. Ele não só tem credibilidade, como também é influente, tudo devido à sua percepção e talento musical, além da característica de dar um ar pop à sofisticação.
Bill divulga agora seu mais novo lançamento, que acaba de sair do forno, “Sensibility”, do qual contou com apoio de nomes como Burt Bacharach e Johnny Mandel, além da co-produção de Mari Falcone, que deu todo o tempero necessário ao trabalho.
São doze faixas distribuídas em quase 50 minutos, onde Cantos consegue manter a chama acesa, sem deixar a peteca cair. Mesclando seu som próprio com versões memoráveis do jazz e da música em geral, ele ainda dá uma besuntada com elementos da música brasileira (lembra do primeiro parágrafo?) e suas diversas facetas.
O resultado é um álbum com timbres e climas homogêneos, mas com composições distintas e cada uma com suas características. Porém, sempre mantendo a essência do jazz temperado com o pop, onde cada uma vai ganhando elementos de estilos que soam como convidados e enriquecem os arranjos.
O trabalho é aberto pela faixa título que é um perfeito cartão-de-visitas, afinal, a composição resume um pouco do que é o disco. Traz uma levada jazzística com flertes pop, além de percussões discretas no ritmo da bossa nova. O mais legal é que a faixa revela o quão bom cantor Bill é, com sua voz suave e muito bem equilibrada, além de ter um timbre bem natural.
Já na segunda faixa, Cantos traz seu primeiro cover para a alegre e clássica “This Can’t Be Love”, originalmente gravada por Nat King Cole. Tentando manter o máximo de sua essência, ele a traz para os tempos atuais, apostando forte nas cordas se entrelaçando com o dinamismo de seu piano. Enquanto isso, em “Bull In a China Shop” o artista mostra o primeiro mergulho no ritmo brasileiro, principalmente na levada, além de vocalizações que herdam sem medo o soul. Belíssima.
A música brasileira volta, especialmente em ritmo de baião (isso mesmo!) para a versão de “I’m a Believer”, clássico absoluto de Neil Diamond e que ficou espetacular nessa roupagem de cantos. Logo depois, ele volta aos seus terrenos, para destilar a maravilhosa balada “Love, To Me”, do qual mostra ainda mais seus dotes vocais com uma interpretação imprescindível.
Mantendo a alternância entre própria e cover, Bill Cantos surpreende ao dar uma roupagem bossa nova jazzística ao pop rock progressivo de “Kiss On My List”, da dupla Hall & Oates, provando que pra ele não há limites. Destaque para os elementos percussivos, que mostram que o artista conhece mesmo a música tupiniquim.
Em “I May Be Wrong”, a primeira participação especial na prática aparece, já que Aubrey Logan empresta sua voz para auxiliar Bill neste jazz clássico. E que voz maravilhosa tem a cantora! E Bill é bom em escolher versões não convencionais, como “Things We Said Today”, dos Beatles, que ganhou um ritmo quase que de samba, mas arranjos de pianos mais densos, que a deixa levemente introspectiva.
Nat King Cole é homenageado mais uma vez com a belíssima “That Sunday, That Summer” e sua levada sublime, que só foi atualizada por Bill em uma versão majestosa. Tudo para provar que, na faixa seguinte, “No Halfway”, Bill realmente bebe na fonte de um dos deuses do jazz.
Num álbum de versões maravilhosas, Frank Sinatra não poderia deixar de ser homenageado e ao apagar das luzes, eis que Bill Cantos traz uma versão primorosa para uma das canções bem característica do maior de todos os tempos. “Fly Me To The Moon” ganha uma versão mais suave, sem perder sua essência e com leves dosagens de ‘groove’. Enquanto isso, Bill opta por fechar o trabalho com “I’ve Always Been Here”, uma canção romântica, com um sentimentalismo à flor da pele, além de uma melodia cativante.
Por fim, concluímos que “Sensibility” tem um nome que traduz bem seu próprio conceito, tanto nas canções próprias, quanto nas versões. Pois ‘sensibilidade’ é o que encontramos nas letras de Bill Canto e nos arranjos das versões que ele escolheu a dedo e conseguiu no mínimo manter os seus valores. Belíssimo disco!
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