Com a impressionante marca de trinta lançamentos publicados entre 2016 e 2024, Mary Knoblock, uma musicista de Portland, Oregon (EUA) é dedicada à descoberta e promoção de talentos femininos, mas o seu trabalho como cantora é tão lindo quanto essa dedicação. “Halo” é o seu mais recente álbum. Composto por quatorze sons, o ‘full-length’ é uma publicação da Aurally Records, gravadora da própria cantora que também dirige a plataforma Produced by a Girl Records, que condiciona mulheres mostrarem a sua arte. Adiante, veremos alguns tópicos sobre o seu último álbum com canções sempre banhadas pela leveza.
A primeira música do disco é justamente a faixa título, e ela possui uma duração de pouco mais de seis minutos de uma atmosfera esfumaçada, onde elementos tridimensionais se formam entre vozes e sintetizadores. Imagine você estando à beira de uma caverna onde a neblina te convida a entrar. Em outro seguimento, “Heaven’s Bride” como versão ao vivo, confirma todo poder de magia que Mary tem em mãos, para dominar a atenção do ouvinte. Acompanhada de um piano clássico, a cantora esboça uma bela comunicação lírica de forma angelical. Um verdadeiro e natural chamado em busca do paraíso.
Uma, dentre muitas outras qualidades neste álbum de Mary, é a independência temática, onde cada canção surge com um significado próprio. Mesmo que haja similaridades nos climas, pois a produção é única para cada peça, músicas como “Chrome” contribuem para uma acalentada audição e experiência encantadora. Parece até que sua voz surge de uma urna misteriosa. Em outras músicas como “Don’t Forget Me”, Mary se aprofunda em uma interpretação mais clemente, exalando uma textura auditiva de leveza e baixo alcance. Segue então, uma estética limpa e adormecida dessa viagem puramente melodiosa. Para mais uma definição, é uma música penetrante à alma.
Já vimos que, ao vivo, Mary não faz nem esforço para soar espetacular, assim como faz em estúdio. O mesmo acontece em versões acústicas, como em “Dance Card June (Acoustic Version)”. Versões assim, que tendem a ficar mais melodiosas e salutares do que as plugadas, são mais propensas a erros na execução. Mas aqui, a probabilidade de isso acontecer, pelo menos no resultado final, foi zero. Quase os mesmos elementos da faixa anterior fazem parte também de “Oh Most Beautiful Flower of Carmel”, que se destaca pela melodia encantadora de um piano, cujas notas se confundem com a solidão do vocal.
E por falar em piano, já notamos que este é um dos instrumentos mais presentes nas composições de Mary, talvez por representar bem as suas ideias, arranjos e orquestrações. Em “Lucky”, por exemplo, a cama de teclados chega a dividir protagonismo em uma canção quase inteiramente gravada só em voz e piano. “Today”, que de certa forma possui uma narrativa semelhante à da anterior, transita pelo mistério do último sopro de vida que se multiplica até a evolução da cura. Dessa forma, esta música se propaga como uma trilha sonora de teatro. Um tema que ornamenta tensões e perspectivas.
Na sessão avant garde do álbum, a mesma “Today” retorna com clima ainda mais nebuloso, denso e misterioso. Para despertar sensações, essa execução cumpre um papel perfeito, com uma atmosfera completamente volátil e migratória. Pense em um pesadelo que você tenta despertar e não consegue, é isso que essa trilha pode representar. Mas quando chega em “One”, da mesma sessão avant garde, é como se abrisse as nuvens acima da sua cabeça e os raios do sol o alcançasse, revelando um espetacular céu azul. Mas as interpretações disso e de outras versões, claro, ficarão a seu critério, conforme o seu estado de imaginação.
Talvez para você isso dure pouco, ou até a chegada da versão avant garde de “Lucky”, que traz uma aura esfumaçada, como um ruído de uma sala de espíritos se libertando de seus sonos. Fechar os olhos e viajar nesse aglomerado de sons abstratos pode te levar a alucinações. Mas depois de tantos minutos de execuções instrumentais, eis que surge “The Wanderer” como se fosse um aviso de que você não está só neste incrível espaço imaginário, criado pela mente dessa talentosa norte-americana. No entanto, cabe a você levitar sozinho por entre as ondas sonoras ou segurar na mão da autora.
Se sua escolha foi viajar sozinho e sentir profundamente a experiência de se envolver nessa obra de arte, levite então aos climas de “Saints Prayer”, a última execução em avante garde do disco. Se cair em um tobogã imaginário, “Dreamer”, a canção mais extensa e ritmada do álbum, te ajuda a despertar. E com isso Mary Knoblock segue afirmando o seu espaço no universo pop da música. Com ideias criativas, singulares e encantadoras, este disco é mais do que uma amostra de todo o seu talento e contribuição para manter viva a arte feminina nesse campo.
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