A atmosfera oferecida é rapidamente apreciada de maneira transcendental. Sua energia branda, resplandescente, mas ao mesmo tempo compassiva e generosa, fazem com que o ouvinte se sinta acolhido por uma intensa e inebriante sensação de conforto, aconchego e até mesmo proteção. Ch 1. (Like Every Good Story) é um prelúdio aveludado que comunica ao ouvinte, com facilidade, que a ambiência na qual ele será convidado a explorar é de uma sutileza que permite a liberdade dos sentidos.
O baixo é o elemento que puxa a introdução com notável educação. Com seu groove grave e levemente seco, ele garante, em seus poucos segundos de protagonismo absoluto, uma espécie de construção de corpo e consistência ao amanhecer da canção. A partir daí, a composição flui para uma segunda parte introdutória leve e fresca em que o violão, com sua delicadeza estrutural, se torne o personagem principal da melodia. Enquanto a bateria vai demonstrando afinidade com essa energia estrutural por meio de uma levada de golpes precisos, mas de movimentação igualmente serena, o primeiro verso se anuncia por meio da entrada de um vocal feminino de timbre agradavelmente manso. Com toques de agudez na medida certa para manter o senso de sutileza, Mara Sol entra em cena desenhando as linhas líricas. Other Side é uma canção de cadência rítmica calcada na métrica 4×4 que acompanha a personagem lírica em um processo que soa como a busca por superação.
Assim como em Ch 1. (Like Every Good Story), a atmosfera apresentada aqui é transcendental e com toques marcantes de uma textura esotérica. Trazendo, por entre sonares sintéticos que criam essa energia, risos de criança, a obra enaltece a pureza, a imaturidade e, principalmente, a bondade inquebrável e inabalável que se tem quando na fase da infância. Ch 2. (We Are But Layers Of Moments) é um interlúdio que, simplesmente, traz a forma como Mara revive suas emoções, como ela reacessa a sua própria persona de criança e como ela lida com o processo de crescimento.
O mandolim traz um charme de delicadeza ímpar à introdução. O instrumento, além de dar uma conotação despropositadamente mais sofisticada, permite que a canção já ofereça uma nova forma de explorar o frescor, senso esse que se confunde por entre as notas curtas e espaçadas do baixo junto aos sonares tilintantes agudos que fortalecem uma estrutura frágil. A partir da maneira como Sol introduz o seu vocal no primeiro verso, o ouvinte consegue construir, em seu imaginário, uma paisagem bucólica em que um campo de flores faz surgir, no fundo do peito, um curioso senso nostálgico que caminha a uma velocidade gritante a cada respiração do perfume floral que preenche o ambiente imagético. Eis o poder sensitivo emocional que Flowers incita no espectador.
Permanent Recovery não é um EP folk tradicional. Afinal, ele é um trabalho em que Mara Sol, em sua plena capacidade musical, constrói ambiências que exploram a mais pura sensibilidade do ouvinte. A delicadeza com que estrutura cada uma das camadas melódicas, nesse processo, não causam torpor como forma de fuga da realidade. O torpor aqui é proporcionado pelo intenso senso de conforto, proteção, compaixão e gentileza que transcende os limites do som.
Com lançamento previsto para o início de outubro, Permanent Recovery é um material que, já em suas primeiras três canções, permite ao ouvinte ter a percepção da coragem e da maturidade emocional de Mara em tratar de temas como perda, autodescobrimento e cura. Uma verdadeira viagem pela vulnerabilidade emocional humana.
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