Malpracticioner | Novo álbum do Asylum 213 é um amálgama de emoções cruas e sons intrigantes

O despertar da composição é regido por uma espécie de frescor agradável, mas embebida em uma generosa dose de melancolia. Capaz de proporcionar uma conduta ligeiramente intimista através de sua imersão branda perante o aspecto da psicodelia, o presente amanhecer faz com que o espectador seja convidado a experienciar súbitos de um torpor curiosamente aconchegante. Se valendo, esteticamente, por uma conjuntura rítmico-melódica que se vale por uma paisagem calcada no espectro do rock alternativo e, inclusive, do metalcore, a composição oferta ao ouvinte um cardápio vasto em sabores e texturas. Afinal, a faixa propõe um livre caminhar pela maciez, mas também pela agudez, o azedume e o açucarado em uma receita bastante equilibrada. Enquanto a guitarra de Dylan Lawson é o elemento que molda um ingrediente marcante na paisagem da canção, a voz suave e delicada de Lawson, agora explorando sua pose de frontman, dá à obra uma refrescância não apenas amorfinante, mas também embebida em uma postura pessoal bastante intrigante. Contando ainda com uma bateria que, sob o comando de Benjamin Pilch, soa repicada em sua consistência capaz de capturar bem a sensibilidade de um desespero entorpecido, October Beach House se configura como um produto que discute, muito mais do que a busca por empatia, a necessidade de ser agraciado pelo senso de pertencimento e o intenso caráter consumista da sociedade global atual.

Nessa nova paisagem nascente, a melodia se mostra mais áspera e suja, mas notavelmente mais encorpada. Graças à contribuição, agora completamente perceptível, do baixo de Dexy Collier, a composição já é marcada por um corpo que transborda consistência e precisão. E são exatamente essas as características as responsáveis por dar força ao aspecto melancólico rascante explorado já nos primeiros instantes introdutórios. Colocando, assim, o ouvinte em um estado de refém de sua própria fragilidade, a canção rapidamente é embebida em um turning point estético que mergulha o espectador perante a agonia e um desespero latente pronunciado, principalmente, através da desenvoltura da bateria e da interpretação lírica assumida pelo vocalista. Intensa, Subi é a definição léxica do caos. Uma visão que, para muitos ouvintes, pode ser definida como desarmônica e dissonante. Um barulho ensurdecedor. Interessantemente, porém, essa tomada sensitiva se encaixa com a proposta do Asylum 2013. Afinal, em Subi o grupo apresenta um indivíduo imerso em um profundo vazio interior, evidenciado a partir do momento em que este pensou ter total controle sob os acontecimentos de sua própria vida. Ainda, é como se esse processo de rigidez proporcionasse, a ele, o encontro com suas identidades comportamentais mais cruas, o que o tira, total e definitivamente, do controle até de suas próprias emoções.

A guitarra solo, com seu veludo e sutileza, acaba introduzindo, na atmosfera, não apenas agradáveis sensos de veludo e frescor. O instrumento acaba sendo responsável por, também, despejar generosas, mas frágeis requintes de dramaticidade em uma atmosfera sonora ainda em processo de evidência. Enquanto a guitarra base vai desenhando uma paisagem embebida em uma melancolia pegajosa, o ouvinte vai sendo hipnotizado por um estado de torpor latente que o tira de suas faculdades lúcidas com bastante facilidade. Porém, assim que o silêncio se faz, uma certa ansiedade paira pelo ambiente em vista do incerto e da sensação de vulnerabilidade que esse evento acarreta no espectador. Rapidamente se transformando, a partir de um chamado executado por um chimbal aberto e, portanto, de sonoridade suja, tal atmosfera acaba se transformando em algo densamente melodramático e lancinante, ainda que, de certa forma, transpire notas de uma delicadeza que surte em súbitos sensos de uma nostalgia melancólica. Marcada, portanto, pela mistura de suavidade e visceralidade em seu contexto rítmico-melódico, a faixa-título se torna marcante, também, por um lirismo que evidencia um personagem que não se mostra apenas órfão de fé, mas que também tem sua essência marcada por uma frieza desesperançosa que o afunda cada vez mais em seu próprio mundo confortavelmente depressivo.

Um súbito sonar digitalizado em sua essência ácida e levemente estridente se faz presente como primeiro elemento a compor a sonoridade da canção. Vindo do teclado de Marvin “Silky Piper” Ward, ele dá uma ambiência sintética interessante ao amanhecer absoluto desse novo ambiente. Contando com uma guitarra que se pronuncia de forma ácida e sensorialmente tenebrosa, o ouvinte acaba se percebendo em um terreno movediço, pegajoso e sombrio. Junto de uma bateria que se apresenta através de golpes firmes em seus tons, uma atitude que acaba por contribuir com o ressaltar de densidade estrutural, a guitarra faz com que, definitivamente, a noção de caos impere no ecossistema. Levando o ouvinte para um recorte rítmico-narrativo calcado no compasso do hardcore, a bateria se mostra, então, intensa e explosiva. Sua postura acaba sendo uma espécie de gatilho para que o vocalista possa extravasar toda a sua instabilidade através de um timbre embebido em drive. É assim que Orbiter se apresenta ao espectador. Porém, quando se avalia o espectro lírico, todo e qualquer indivíduo que tenha se proposto se aventurar por tal faixa entende o aspecto emocional áspero, inquieto e agonizante presente na obra. Afinal, Orbiter trata sobre a manipulação religiosa sob um ponto de vista completamente desumano. Retratando o descontentamento, o hipnotismo e a capacidade de seus líderes fazerem de seus seguidores peças e fantoches usados e abusados em virtude de sua fragilidade emocional e sua fraca noção perante o ato do questionamento.

Ele não é apenas um material bruto. Aliás, a sua brutalidade é apenas um escudo que, ao menos, tenta esconder suas dores, suas angústias e sua máxima vulnerabilidade. Malpracticioner é um material em que o Asylum 2013 dialoga sobre diversos contextos sociais modernos sob pontos de vista que fazem prevalecer a melancolia, o desespero e o caos. 

É justamente nesse quesito que o álbum convida o ouvinte a refletir na forma como algumas pessoas levam a vida. Porém, mesmo que o caos impere, Malpracticioner entra em cena como um perfeito estudo de caso perante o impacto que o mínimo senso de esperança causa na sociedade. Especificamente, portanto, o material se configura como uma espécie de meditação em relação à tendência humana de lidar com a vida de estranhas maneiras a ponto de atender ou, ao menos, acalentar as questões individuais. 

Nesse processo, as quatro primeiras faixas do material se tornam as mais significativas. Não apenas por mostrarem ao ouvinte, de maneira clara, a visceralidade dramática e rascante oferecida em seu aspecto rítmico-melódico, mas por proporcionar um mergulho reflexivo por assuntos que, nem sempre, são tratados com tanta abertura e liberdade.

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