Depois de algum tempo compondo e gerando temas para os mais diversos estilos de vida, a dupla Luke Barratt e Nicholas Foster decide avançar em seu propósito e agora lança o álbum “Psychedelic Soul & Trash, Vol. 3”. Com o nome Legends of the Seven Golden Vampires, Nick e Luke liberaram singles como “The Robots Are Taking Over” (2023), “Autumn Fall” (2022) e, mais recentemente, “Rialto”. Este projeto britânico, permite aos fãs de música eletrônica, indie pop e congêneres se guiarem por um mundo de possibilidades e aprovação. Ou seja, o LOTSGV não possui rótulos musicalmente, embora suas produções sejam bem datadas.
Como existe muita mesclagem em suas músicas, o projeto pavimenta aqui um dos caminhos mais versáteis para a criação de um movimento rico em sonoridade. Isso justificaria a geração de novos elementos – como pioneirismo – em uma cena de arte e diversão. Mas o LOTSGV não está sozinho nessa, pois entre as nove canções desse disco algumas obtiveram bons resultados com parcerias que se encaixaram bem na proposta. Pelo menos, isso é o que conferimos nos créditos de músicas como “Cosmic Discotheque”, “Something Wicked This Way Comes” e da já citada “Rialto”, onde os nomes de James Atkin e Richard Foster estão contemplados.
Então, vamos ao resultado que começa com “Cosmic Discotheque”, uma canção que traz em seu DNA muita coisa dos tempos da new wave. Neste primeiro momento, o LOTSGV buscou fundo o conjunto de melodia para climatizar a execução. A atmosfera que nos remete a uma tensão, nos envolve com prendimento. Nesta, Atkin dar o ar da graça no arrojamento de Nick e Luke. Na sequência, com uma proposta mais ‘house’, “Close To You” pode despertar o interesse da galera quarentona e cinquentona que frequentava os clubes dark dos anos 80 e 90. Foster, que promove a ala convencional da instrumental se destaca pelas bases de baixo e solo de guitarra.
Por falar em contrabaixo, as notas graves e introspectivas de “Something Wicked This Way Comes” são quem guiam a música que, em síntese, explora um pouco alguns elementos do jazz e groove. A primeira entrada de Richard é melódica e bem digestiva. De maneira idêntica, “Autumn Fall” também segue uma fluidez incrível. Sua pegada meio vintage, com a bateria executando partes mais poderosas, nos remete a uma boa sensação de liberdade. A empolgação, por conseguinte, é imediata e satisfatória, ainda mais com uma produção tão requintada.
Na sequência, “Summer Haze” abre o caminho com força no sintetizador. Gerador de um riff poderoso, o clima extraído do equipamento eletrônico conduz com moral toda a música. Além disso, as batidas se fundem à ambientação deixando o murmúrio vocal em estado de levitação. Para mim, essa faixa é a que mais instiga meus sentidos, mas para quem prefere algo mais literal, “Rialto” pode ser uma opção. A segunda faixa que traz mais coisas de Richard, é uma balada e estilo melancólico cuja atmosfera lembra uma ambientação escura, como o interior de uma caverna. Contudo, nessa viagem é você quem diz como quer ficar.
Ao chegar em “A Long Walk Home”, esse clima se prolonga mais por alguns minutos. A partir daqui observamos que “Psychedelic Soul & Trash, Vol. 3” possui pelo menos três divisões climáticas. A primeira, expressa a arte com ritmos dançantes com boa distribuição da energia, outra segue uma linha mais lírica com versos e grooves sintonizados e outra mais introspectiva, cujos sentimentos são penetrados. Esta, por exemplo, possui camadas sonoras que se aproximam da nossa intimidade, sugerindo ser trilha sonora para muitos de nossos pensamentos. As batidas mais tímidas, acabam não atrapalhando essa percepção e mergulha conosco em nossa própria intimidade.
A diversidade musical da dupla atinge patamares psicodélicos em “Season of the Witch”. Uma típica execução intimista, assim como suas duas últimas antecessoras, mas que pode externar várias vibrações. Sobre a criatividade cumulativa da banda, Foster declarou que vertentes como música psicodélica, soul, funk e garage rock estão entre as referências do álbum. “Uma exploração sonora de todos os estilos de música pelos quais somos influenciados”, reiterou. Em conformidade, não devemos nem rebater, pois o que o álbum mais possui em seu repertório é um conjunto de todas esses estilos. A dupla sabe mesmo empregar harmonia em tudo.
Para encerrar, o LOTSGV retorna às raízes setentistas para executar “Cosmic Discotheque Pt. 2” que, dessa vez, está acomodada em uma versão bem mais épica com longos seis minutos de duração. A magia dos efeitos sonoros parece nos transportar dentro do cérebro. A cada movimentação das notas, acordes saltam dos falantes como botes sobre um mar agitado. Dentro desse bote, estamos nós nos deixando balançar sobre a tormenta, mas na confiança de que, ao final, encontraremos a bonança. Não há mais o que falar sobre um álbum feito para deixar inquieta qualquer mente. O que temos aqui não é apenas música e, sim, sensações.
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