Após lançar dois EPs transcendentais em 2022, cujos nomes “In the Dust of This Planet” e “Disappear Here” nos projetam a um mundo completamente tomado pela imaginação futurista, James Hurst solta em 2024 nada menos que dois álbuns completos, “Story” em março e, mais adiante, “Machine” em maio. Hurst, que também escreveu o livro “Use Design To Design Change”, ultrapassa as fronteiras musicais e literárias, embreando-se pelo mundo da produção tornando-se assim, um artista multifacetado. Com pé no chão e imaginação além dos horizontes, podemos observar nas sete faixas deste álbum o seu nível de ideias, interpretações e texturas sonoras.
O álbum, como sugere o título, é uma viagem pelo mundo cibernético arquitetado pelas criações de Hurst. Durante a audição, se pode captar algumas influências, como do estilo industrial em músicas como “Boot”. Embora a nomeação do título da música nos remeta às características supramencionadas, a utilização do estilo techno que dá suporte a todas as músicas do disco como base, insere nesta execução e nas outras seis uma rica fonte de melodia. Nesse caso, estamos diante de um álbum cujas complexidades são facilmente ofuscadas por ligações harmônicas, construídas por quem entende do ‘riscado’. Mas prepare-se, que a viagem apenas começou.
Por ser uma obra instrumental, a mensagem de James pode trazer vários significados, mas por outro lado, a linguagem universal da música pode trazer clareza aos nossos olhos, ou seja, melodia aos nossos ouvidos. E essas texturas provindas de uma produção, associadas aos títulos das músicas como “Boot” e, agora, “Imput”, nos revela que o álbum “Machine” é uma representação genuína do funcionamento de um computador. Até mesmo analisando a capa, que possui um pouco de abstração entre a silhueta humana e as cores paralelas, nos dá uma ideia de transição, domínio ou extinção. Em outras palavras, evolução tecnológica.
Agora, deixando de lado um pouco as suposições, vamos à parte de composição musical. Em músicas como “Again”, observa-se o uso majoritário de um teclado tocado com maestria. As notas complexas e aceleradas criam em volta de nosso tato, uma onda sonora capaz de arrepiar os nossos pelos. São coisas assim, que deixam o álbum totalmente sensorial. Após o riff harmônico de teclado, o músico usa o sintetizador para criar um clima sólido e paradoxal que se estende até o final da música. É interessante que, mesmo depois da quebra de ritmo, a música continua a nos abraçar com a sua aura imaginária.
Com um groove bem mais rico, a música chamada “Ram” – que é mais uma que remete ao computador – é composta por uma base calma, porém pulsante. A sua melodia, além de possuir climas de industrial com arranjos estruturais, nos lembra de pista de dança. Eis aqui um bom tema para embalar play lists de boates, raves e diversas celebrações. A estética da música é de uma sofisticação singular. Não há como ficar parado com o som da batida em andamento, aliás, é uma batida em modo progressão que começa com tom inibido até assumir uma forma mais completa.
A magia segue com “Disk”, que oferece mais um banho dançante ao ouvinte. Apesar de James investir nessa pegada mais futurista, é perceptível alguns recursos vintage em sua música, e isso fica bem claro aqui. Alguns acordes remetem às ideias futuristas de composições feitas nos anos setenta e oitenta. Um dos exemplos mais lembrados quanto a isso, é do grupo alemão Kraftwerk que arrasou as paradas mundiais entre essas duas décadas. Além das influências obvias como esta, o músico e produtor de San Francisco, California (EUA), exprime seus próprios sentimentos na música, adotando uma estética única que vale também como assinatura.
Outra coisa legal em “Machine”, é o tempo das músicas que, no geral, ficam em torno dos três minutos. Somente a faixa título possui maior duração, beirando os cinco minutos. Isso se traduz na otimização auditiva, ou seja, a audição deslancha em nossos ouvidos com certa fluidez. Como dito antes, a complexidade proposta aqui não atrapalha o prazer, pois as melodias assumem papeis importantes para não deixar o álbum cansativo. E aqui entramos em mais um capítulo dessa história. Uma situação que, talvez, premie o Mr. Hurst como pioneiro de mais uma vertente da música eletrônica, talvez chamaremos essa nova vertente de “techno groove”.
E não há nada mais groove neste álbum, do que a última faixa “Everywhere All At Once”. Tal como a maioria das outras faixas, esta também promove uma viagem extrassensorial por elementos vibrantes e de industrial. Porém, uma atenção mais apurada nas batidas, nos revela uma música muito mais versátil. Resumindo o conjunto da obra, “Machine” – o álbum – é uma dose experimental de sensações vibrantes, descobertas e hipnóticas. Suas músicas nos mostram uma descoberta dentro do universo musical que, até então, se limitava à burocracia melódica de quem via isso como virtuosismo. James Hurst nos salvou.
Ouça “Machine” pelo Spotify.
Saiba mais sobre o trabalho do artista em seu site oficial.