O ritmo latino nos proporciona algumas das mais envolventes e excitantes experiências com a música. No campo do rock virtuoso, talvez o que temos de maior referência seja Carlos Santana. No entanto, em porto rico outro guitarrista se destaca por sua técnica e destreza. Esse músico se chama Israel Romero Pérez que contribui às bandas The Mirage Theory, As Blood Runs Black, Gary Brandon, Sudden Abduction, Amore Ad Lunam entre outras. Depois de um trabalho destacável em sua banda The Wrong Sides, Israel – que ainda trabalha como músico de estúdio –, vem ao público lançar o seu primeiro álbum solo “World With Many Names”.
Composto por sete músicas, o álbum explora elementos versáteis que vão do experimentalismo ao peso de algumas execuções. Aliás, essas duas qualidades podem serem ouvidas logo na primeira faixa que, por ventura, é a música título. Ela chega tímida, cercada de um clima exotérico para então deslanchar-se sobre temas empolgantes e solos maravilhosos. O lado latino do compositor é reparado em trechos de violão que corroboram para a complexidade da música. Percebe-se também, que a cozinha, pesada e complexa, também exerce papel importante para a identidade musical do artista. Baixo solto e bateria cativante arredondam mais a música.
Solos melódicos e introspectivos parecem ser especialidades de Israel, mas além dessa relação com a introspecção há algo que brilha em sua técnica. Isso está contido em músicas como “The Storyteller”, onde climas bem mornos se misturam com riffs fantásticos e superdosados. Se você for um apaixonado por temas épicos, essa faixa talvez lhe sirva de entrada para algo ainda mais mágico. Por outro lado, se seu interesse for apenas encontrar boas vibrações esse caminho não deixa de ser boa opção, pois aqui tudo é feito na mais perfeita simetria. Encoste a cabeça em algo confortável e se deixe levar.
Para ampliar mais esse assunto, vemos em músicas como “All the Beautiful Things” uma expressividade distinta aos temas épicos. Na verdade, essa execução cai mais no campo da empolgação do que do virtuosismo, embora seja indiscutível a qualidade de suas linhas melódicas. Entretanto, o ritmo mas rocker e o timbre da guitarra meio canastrão nos guiam à lembrança de um bar com pessoas e amigos em confraternização. Essa atmosfera contribui para a versatilidade do álbum que agrupa vários contextos onde, obviamente, enriquece o extenso portfólio desse músico. Por conseguinte, revela a nós competência musical, inteligência harmônica e criatividade.
Particularmente, as músicas que me deixam mais feliz são aquelas que, assim como “Ethereal Starfield”, possuem um pouco de heavy metal melódico em suas estruturas. Você observará que a cozinha em modo cadenciado contribui para a base de maneira que os solos se perpetuem graciosamente. Além disso, alguns riffs mais pesados ajudam a empurrar a nossa satisfação às alturas. Esse protagonismo todo da guitarra é tão substancial que às vezes se torna palatável. Sim, é algo que nos gera a sensação de prova como a degustação de um bom vinho europeu e, se, pudermos fazer comparação, eis aqui um exemplo.
O bom de se apreciar um álbum como este, é que à primeira audição nunca saberemos o que está por vir faixa a faixa. Observe que, no início, Israel introduziu ali um pouco de suas raízes nas linhas melódicas. Na sequência, o guitarrista enveredou por vários caminhos fazendo florescer o rock progressivo e heavy metal. Em “Cartoon Walk Cycle”, esse leque se abre ainda mais com influências do hard rock clássico e que, por mais que o destaque esteja nas linhas de guitarra, é impossível não se render à performance do baixo. Desde a introdução até o final, os graves pomposos circulam majestosamente na música.
A última dobradinha de “World With Many Names” se inicia com “Luminous”, e essa é mais uma da esfera do heavy metal que Israel Romero coloca muito bem em suas composições. Aqui, conferimos uma típica execução de prog metal do mais fino conceito. Não seria exagero se disser que isso é algo que bate de frente com qualquer Dream Theater que apareça. Riffs organizados, solos performáticos e uma base pesada é o que se tira da penúltima música desse álbum. Por conseguinte, o DNA de leveza e virtuose soa presente em cada nota desse capítulo que, prazerosamente, nos cativa e proporciona conforto.
Talvez a música mais divertida e alto-astral seja “Mango Peach Psychedelic Alien”. Para isso, a cozinha aqui fez um crucial inserindo andamentos rápidos, além de um certo groove. Israel com sua guitarra, na sequência, responde com solos lunares e cheios de embelezamentos. Isso tudo é fruto de um músico que, junto ao seu instrumento, externa uma relação tão íntima que em alguns pontos é impossível imaginar o ser humano sem seu objeto. Em resumo, a relação entre o guitarrista e sua guitarra é tão homônima que a figura de um é a figura do outro. Sensacional!
Ouça “World With Many Names” pelo Spotify:
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