Inspirado em ícones da literatura, Mathias Baker lança EP que lamenta a humanidade

A peculiaridade de alguns trabalhos já chama atenção desde o início. Este aqui, do britânico Mathias Baker é um deles. Ele trabalha em músicas instrumentais usando uma mescla de trilha sonora, com música clássica, onde insere alguns diálogos inspirados em obras de nomes como T. S. Eliot e Charles Bukowski.

T.S., chamado Thomas Stearns Eliot, foi um poeta, dramaturgo e crítico de língua inglesa, considerado um dos representantes mais importantes do modernismo literário. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1948. Eliot estudou filosofia e literatura em Harvard. Talvez não seja tão conhecido por aqui, mas foi importantíssimo.

Já o segundo talvez seja mais conhecido no Brasil pelas suas conotações ácidas. Henry Charles Bukowski foi um poeta, contista e romancista estadunidense nascido na Alemanha. Sua obra, de caráter inicialmente obsceno e estilo totalmente coloquial, com descrições de trabalhos braçais, porres e relacionamentos baratos, fascinou gerações que buscavam uma obra com a qual pudessem se identificar.

Intitulado “Specific Gravity”, este novo EP de Baker não traduz os temas no clima das letras, ou seja, não é nem clássico ou coloquial, mesmo diante de uma versatilidade impressionante. Mas, não tenha dúvidas que o disco transcende isso variando em seus climas e causando reações, assim como são as obras dos autores mencionados.

O novo EP traz seis faixas em pouco mais de 15 minutos, e a peculiaridade mencionada no início do texto se baseia pelo fato da objetividade, mesmo em se tratando de algo muito bem explorado, trabalhado e com uma diversidade de climas impressionante. Dificilmente se vê uma concisão assim, principalmente primando por qualidade e trazendo um resultado maravilhoso!

Um fator preponderante é o fato de as composições se interligarem, no final das contas sendo partes que geram um ensaio inteiro. E isso é simplesmente fenomenal, pois ao mesmo tempo em que juntas dão um resultado, as faixas caem bem também se ouvidas separadas, tendo suas distinções bem claras.

“Mythic Texts: I”, por exemplo, que abre o disco, tem um início clássico misterioso, onde parece abrir para um filme obscuro da Disney. A faixa é perfeita para sua ocasião, deixando bem clara a intenção de Baker. É uma das mais eruditas do trabalho, porém…

Já a parte dois, ou seja, a segunda faixa do disco, continua com seu teor erudito, mas demonstra ser uma música de transição. O ar misterioso continua, porém com leves toques eufóricos, provando como o compositor e produtor tem um tato impressionante ao mexer com as emoções.

Em “Mythic Texts: III” a continuidade é dada, aumentando um pouco o volume e causando ansiedade, pregando uma peça no ouvinte, ligando-se toda a trinca inicial, inovando no modo de introduzir um trabalho. Simplesmente encantador e vai ficando ainda mais interessante nas audições posteriores.

Enfim, em “Man Mowing the Lawn Across the Way from Me”, canção inspirada no poema de Charles Bukowski. Enquanto a parte final do poema é citada em forma de fala, Baker insere um piano melancólico e definitivo, com guitarras leves aparecendo esporadicamente e discretamente, sendo a primeira canção com um teor mais moderno.

De linguagem direta, o poema conhecido como “Homem Cortando A Grama do Outro Lado Da Rua” no Brasil, é mais um em que Charles dá margem para interpretações em sua visão cotidiana e coloquial, provando sua genialidade tão sucinta como é “Specific Gravity”.

O clima fica tenso em “This The Way The Worlds Ends”, baseado em “The Hollow Men”, de T.S.Eliot. Enquanto parte do poema é citado, Baker trabalhou em um fundo onde batidas da música contemporânea se entrelaça com toques de clássicos do suspense, gerando uma trilha com teores caóticos.

O legal dessa composição, é que as partes recitadas do poema não são somente faladas, já que em uma delas, onde se repete uma frase, Baker transformou-a em um refrão cantado. Os temas de Eliot são sobrepostos e fragmentados, preocupados com a Europa pós-Primeira Guerra Mundial sob o Tratado de Versalhes, desesperança, conversão religiosa, redenção e, argumentam alguns críticos, o seu casamento fracassado com Vivienne Haigh-Wood Eliot. “The Hollow Man” foi publicado dois anos antes de Eliot se converter ao anglicanismo.

“Mythic Texts: IV” é uma peça de pouco mais de 1 minuto que finaliza o disco objetivamente, dando continuidade ao teor misterioso e de suspense da trinca introdutória inicial, mas com o ar de despedida muito bem inserido por esse gênio da música que se chama Mathias Baker.

O contexto geral de “Specific Gravity”, de uma forma resumida, mexe com as estruturas humanas e todos os erros que a concerne. Se assemelha a tragédias gregas e, principalmente neste fim, traz um aceno final à arrogância dos humanos que nada fizeram para melhorar a situação, mas que agora estão colados ao espetáculo que se desenrola, à medida que a música diminui. Trata-se de algo simplesmente arrebatador e que necessita da ligação tema/música para ser compreendido.

https://ian.mathias-baker.com/#

https://open.spotify.com/artist/071HzHmRc0SdYO1n6oLhxc?si=zVnnCW3LSuiU9w9HgNjNWA

https://www.youtube.com/channel/UCu11BRk9-0ue0CIiI4_XruA

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