O norueguês Kjetil Rønningen desde seus treze anos, quando pegou seu primeiro violão, mergulhou de vez na música, em especial em estilos alternativos. Sua primeira banda Mars University surgiu nestes tempos, mais precisamente em 2003 em Holmestrand, na sua terra natal. A banda ficou junta por alguns anos, lançando dois singles e seis faixas adicionais em um EP, além de algumas ótimas apresentações ao vivo na própria Holmestrand e Oslo.
Em 2009 foi formada a Bravo Papa, que ainda está na ativa. Em 2023, depois de cinco álbuns de estúdio com Bravo Papa, Kjetil, sob a alcunha de IN Kelly, resolveu seguir carreira solo, afinal, além de poder expor suas próprias ideias, ele também queria mais dinamismo do que nas produções da então mencionada banda.
2024 tem sido prolífico, e depois de três singles, ele chega ao disco de estreia, este “Under The Birch Tree”, que acaba de ser lançado. Vale destacar que todos os singles prévios constam no disco, que ainda traz mais 10 faixas inéditas. Tudo composto, tocado, cantado, gravado e produzido por Rønningen, no maior estilo ‘do it yourself’. Por isso, o disco de estreia é um trabalho intimista, e tem muito da personalidade do artista envolto nele.
O trabalho abre com “Sleepwalker”, uma faixa que além do indie rock tradicional, tem um ‘quê’ de krautrock, graças às suas incursões eletrônicas, que começam pela bateria programada de ritmo dinâmico e timbre bem moderno. O refrão forte é um dos grandes trunfos da faixa, que é seguida por “Thought I Was Sidekick”, o último single lançado antes do disco. A faixa é levemente melancólica e pode ser considerada uma semi-balada.
A primeira incursão acústica, incluindo aí uma bateria real, fica por conta do indie folk “Home to My Honeycomb”. De ritmo supostamente alegre, a canção tem uma batida interessante, mas fica visível (ou audível?) que a melancolia e um leve ar sombrio, está marcado pela voz de IN Kelly. Não, isso não é pejorativo, apenas faz parte da característica natural do timbre e interpretação do artista.
Pois, bem, na quarta faixa, “In The Right”, o violão continua comandando a parada, mas se entrelaça com uma produção levemente sintetizada, inclusive da bateria, que a tira do contexto folk e mantém dentro do indie. O clima da composição também se mostra mais esperançoso.
“Will You Do It For the World”, uma das músicas mais interessantes do álbum, chega mostrando os primeiros ares de peculiaridade do IN Kelly. A música, conduzida por um belo piano e em clima de ‘Imagine’, ganha incursões de sintetizadores com microfonia, chiados e barulhos espaciais, mostrando que o norueguês gosta de confundir nossas sensações. Isso é arte e também uma forma de mexer com o ouvinte.
“Back To Rome”, mais um dos singles prévios presentes no álbum, dá dinâmica ao disco, com seu post-punk típico e muito bem estruturado. De ritmo intenso, a música traz as guitarras góticas e uma cozinha típica, com marcação certeira, além de uma interpretação um pouco mais enérgica de IN Kelly. Detalhe para as camas de teclados eruditas, discretas, mas essenciais para os arranjos da música. Sem dúvidas, uma das faixas mais legais de “The Under The Birch Tree”.
“She Can´t Reach You” é mais uma que entrelaça o acústico ao eletrônico, colocando uma base de violão para conduzir a canção com uma batida quase que dançante. De letra fácil, é daquelas músicas que saímos cantarolando imediatamente. Enquanto isso, “Something New” mostra que IN Kelly não fecha seu leque, e revela um ritmo inspirado no jazz e bossa nova (guardadas as devidas proporções), o que surpreende já na reta final do álbum.
A penúltima música, “Ducks and Drakes”, segue o contexto post-punk, mas com uma boa referência indie, mostrando-se uma faixa mais sombria, porém encorpada que suas coirmãs. O teor erudito aparece mais uma vez discretamente com a incursão de metais bem ao fundo, ao menos a simulação de tais instrumentos.
“The World Might Listen” traz todos os elementos do disco nos arranjos. Desde o violão com uma base simples, que é incrementado por uma guitarra limpa, a bateria de batida bem sacada, levemente sintetizada, além de sintetizadores que dão um ar futurista e mais melancólico à faixa. IN Kelly insere suas linhas magistralmente, já deixando um ar de despedida que permeia a música.
Apesar de não ser conceitual “The Under The Birch Tree” é um disco que tem como tema central o tempo entre o dormir e estar acordado, ou seja, algo sonhador. Mas, o mentor do disco prefere dizer que as letras do álbum são todas abertas a interpretações.
De produção orgânica, o disco de estreia de IN Kelly tem um som bem natural, onde dá pra captar a essência de cada instrumento e elemento. O grande trunfo é o equilíbrio entre as faixas do ‘tracklist’, o que faz dele um disco legal do começo ao fim.
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