Hickory experimenta e entrega sonoridade acessível em seu novo álbum

O Hickory é composto pelos multi-instrumentistas, compositores e produtores Gabriel Stern e Peter Mark Kendall. Um vem de Los Angeles e o outro é de Nova Iorque, isto é, cenários riquíssimos musicalmente e cada um com suas particularidades. Isso explica bem a versatilidade de “Batten Down The Hatches”, novo álbum da dupla, que chega ainda mais abrangente e com experimentos que acabam funcionando.

O primeiro fator que precisamos deixar claro, é que estamos diante de um trabalho onde as 12 composições se complementam. Se não estamos diante de um álbum propriamente conceitual liricamente, musicalmente, sem dúvidas, as canções se interligam, se enveredando por diversos estilos trazendo elementos mais modernos e também outros orgânicos.

Os temas foram inspirados exatamente no período que o disco foi criado, ou seja, durante a pandemia. Logo traz abordagens de isolamento, saúde mental, fé, justiça social e autoaceitação. Mas, o Hickory não segue o caos de suas letras nas canções, trazendo, no geral, batidas suaves, sintetizadores atmosféricos e linhas vocais brandas, o que pode ser uma contrapartida das letras.

Outro fator interessante, é que a dupla trouxe algumas participações especiais que são fundamentais ao trabalho, e se encaixaram perfeitamente no álbum, mostrando que todo mundo acabou entendendo a proposta. Entre os principais estilos abrangidos, estão o eletropop, synth pop e dark ambient, mas Stern e Kendall não se prendem, abrem seus leques e passeiam por diversas facetas da música eletrônica, do dream-pop e até do eletro rock.

Isso já fica evidente na faixa de abertura, “Adrift”. Trata-se de um perfeito cartão de visitas, onde a dupla consegue, em uma composição, resumir um pouco do que é “Batten Down The Hatches”. De experimental, consegue se transformar numa batida eletrônica acessível, que fisga o ouvinte de forma gradativa. Já “Sliding Back”, com Adam Larson, traz uma mescla eletrônica com erudita, deixando a canção em um meio tempo entre o vanguardista e futurista, neste último caso engajado pelos vocais cheios de efeitos, simulando algum robô perdido na linha do tempo.

É incrível como o Hickory consegue interligar “Slinding Back” em “All The Time”, do qual uma faixa sucede a outra, mas sendo totalmente diferentes. Aliás, “All The Time” traz o lado mais objetivo e acessível à tona, mantendo uma batida suave e com guitarras propícias. Um misto de eletro rock e dream-pop, com vocais hipnotizantes, a música os contrasta com um final agressivo e intenso.

“Minute For Tomorrow” é o primeiro interlúdio do trabalho, e com um piano bem sacado e sintetizadores que simulam um ‘cello’, mantém o teor erudito. Detalhe que possui linhas vocais, ainda característicos da dupla, brandos, quase sussurrados. Logo entra “A Man”, que traz a participação da cantora Sianna Pavin, uma diva de voz ‘jazzistica’, que conduz a faixa dentro de seu contexto ‘lounge’ com leves toques sensuais. Além de destilar a letra, Sianna insere sua voz nos arranjos, deixando “A Man” ainda mais sofisticada.

“Upped My Dose Of Seroquel” também pode ser considerada um interlúdio eletro / dark ambient, com vocais discursados. A letra fala sobre uma dose extra de ‘seroquel’, medicamento também conhecido como ‘quetiapina’, um antipsicótico, que melhora os sintomas de alguns tipos de transtornos mentais como esquizofrenia, depressão associada ao transtorno afetivo bipolar. Tenso.

Com uma batida marcante, no sentido marcial, “Hold Me Down” é uma faixa que aposta no trabalho vocal, tendo um final apoteótico, onde ganha belas melodias em sua mudança de andamento. Com Whitney White, “On The Low” é o primeiro respiro dançante, onde a dupla mostra que bebe também na fonte do hip-hop e house. É a primeira composição que traz mais leveza ao disco, porém sem destoar do restante do trabalho.

“Monday Before Dinner” revela a faceta synth pop do Hickory, que sabe muito bem destilar o estilo e sem soar datado, além de conseguirem inserir melodias eruditas, entregando uma das melhores composições do álbum. A faixa é precedida por outro interlúdio, a belíssima e atmosférica “Empty Plane”, que é o momento mais viajante de “Batten Down The Hatches”.

Por fim, iniciando o processo de despedida, “Alone” ganha um elemento vintage quando simula o chiado de uma reprodução de disco de vinil. A faixa, penúltima do disco, já tem um tom de final, servindo como abertura instrumental de sua sucessora, a quase viagem à capela “So it Goes”, um drama perfeito para fechar o álbum com chave-de-ouro.

Em “Batten Down The Hatches”, o Hickory, que é formado pela dupla Stern e Peter Mark Kendall, consegue entregar sua proposta por completo e ainda provar como é possível experimentar sem soar pretencioso e, melhor ainda, entregar música acessível, guardadas as devidas proporções. Se você é um fã de música eletrônica, de um pop experimental (sim, eles tornam isso possível), ou apenas um apreciador da boa música, não pense duas vezes antes de ouvir este novo álbum e/ou se aprofundar na proposta do Hickory.

https://www.archieandfoxrecords.com/hickory

https://open.spotify.com/artist/1emJzDBgkRNdBtGO6JelHn?si=1a9wihfTRO6dEPgu2pem0g

https://on.soundcloud.com/72z6f

https://hickoryband.bandcamp.com/

https://music.youtube.com/channel/UC0d1geSnaDy6_UKbCKnUtPw

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