É como o abrir dos olhos em um outro mundo. Uma outra dimensão. É como experienciar a visão turva perante uma atmosfera utópica em virtude de suas belezas fantásticas e intocadas. Virgens. Nativas. Cada perfume é uma nova experiência sensorial, enquanto cada movimento permite uma série de novos vislumbres que fazem com que a noção do real seja completamente desmantelada para dar voz pura e unicamente à sensibilidade e o rumo que ela pode levar o indivíduo. Com uma sonoridade sintética que mistura, com delicadeza, tons agudos, azedos e brandos com notável fragilidade através de uma instrumentação que permite a construção de sonares sintéticos, a canção leva o espectador para um mundo de fantasias. Um mundo em que não existe dor, sofrimento, preconceito. Um lugar em que tudo existe e coexiste em harmonia e equilíbrio. É o impossível do possível. Através do etéreo e do seu flerte com um viés transcendental, Ad Astra se configura como uma obra hipnótica em meio ao seu viés entorpecente.
É no mínimo interessante. Afinal, enquanto que na música anterior a proposta foi o belo e o fantástico, aqui existe o tenso, o denso. Existe a vulnerabilidade como consequência da fragilidade. Um sinal de alerta perante o perigo. Perante o desconhecido. Conforme a canção se desenvolve, porém, tudo vai se transformando de maneira gradativa. O medo e a insegurança dão lugar à curiosidade, uma vez que o denso e o tenso se tornam uma leveza tão extensa que chega a ser flutuante. Por meio de sonares opacos que remetem, mesmo que brevemente, à paisagem estética do dub, a canção vai hipnotizando o espectador por meio de uma levada percussivo sintética que soa como um batuque nativo. Como se funcionasse como o som da iniciação de um indivíduo para com um novo mundo. Um mundo desconhecido e rudimentar, mas nada que flerte com o primitivismo. Enquanto a mata é o cenário desse universo, a coexistência com a natureza se torna algo comum e inevitável. Ao mesmo tempo, porém, é interessante perceber como Nubium também agrega toques eletrônicos provenientes da paisagem forest de seu universo sonoro. Isso deixa a obra ainda mais plural, mesmo que o torpor, por vezes, impeça o ouvinte de se atentar a tal percepção.
Enquanto sonares tilintantes agudos pincelam a atmosfera com uma textura palpável e consciente, o subgrave entra em cena de forma ondulante em seu som opaco, fazendo com que a embriaguez seja algo inevitável de ser vencido ou superado. Surpreendentemente, porém, a obra, conforme evolui, passa a ser agraciada por uma estrutura rítmico-melódica fluida e, inclusive, com conotações sensuais, ainda que sem qualquer menção propriamente sexual. Fluido, portanto, esse novo ecossistema mostra que Oustivi é capaz de unir noções do trip hop com menções do rap, favorecendo uma curiosa e audaciosa intersecção entre tecnologia e um ritmo mais sincopado que beira o orgânico. Nesse ínterim, a canção acaba sendo agraciada por uma cama entorpecente criada por um sonar amaciado e valsante que preenche toda a atmosfera, a tornando mais delicada e, também, em certa medida, perfumada. Eis aqui, então, uma canção alucinante com gosto marginal.

O céu, como se sob o efeito fotográfico do time lapse, tem sua paisagem transformada em fração de segundos. De um monocromatismo cinza, opaco e sem vida, ele se torna um mar límpido em meio à sua tonalidade azul espectral. Por meio dos sonares ondulantes, em diferentes tons de agudez, é como se esse mesmo céu funcione como um verdadeiro reflexo daquilo que a Terra tem de mais puro. Delicada em sua forma e extasiante em sua essência, cada diferente som faz com que o espectador se perca perante seu próprio mundo onírico. Ayammerol é uma música em forma de interlúdio marcada pelo seu veludo entorpecente e pelo seus caráteres transcendental e espiritual pungentes.
É como se o sonar característico do sino de vento tangenciasse a tecnologia. Assim como aconteceu em Oustivi, a presente canção mistura noções do orgânico com o digital enquanto mantém o senso amorfinante já padrão no que se trata às propostas sensoriais do álbum. Agraciada por profundas incursões no universo sonoro do sci-fi, Insularum é o ápice da fantasia, o pico do êxtase e o máximo de uma sensorialidade alucinante. Com esse arranjo, mergulhado em delicadeza e brandura, a faixa chega a até parecer uma espécie de iniciação para práticas meditativas em pleno templo budista em algum lugar no Oriente. Por meio de sua sonoridade, a faixa faz com que o irreal e o inconsciente moldassem toda uma nova percepção de realidade.
O fantástico está em voga novamente e com notável protagonismo. Ainda assim, é possível de se perceber menções sonoras vanguardistas que fazem com que o ouvinte experiencie, mesmo que de maneira branda, o nostálgico. Como se fosse possível estacionar o passado e levá-lo de maneira inabalável e inviolável para o presente, Amber dá a impressão de propor a intersecção de dois momentos separados pelo espaço-tempo sem interferir no destino. Uma verdadeira fantasia sci-fi racionalmente inconcebível. Ainda que tal proposta acabe não sendo viável, a composição é marcada por um toque pungente de misticismo que a torna não apenas enigmática, mas também uma espécie de teoria não finalizada. Uma teoria que faz, do retroceder, um ato de autoconhecimento e autocompreensão.

É fantasia. É fantástico. É imaginação. Headspace Station é um álbum instrumental que propõe viagens sensoriais de difícil descrição. Afinal, não há unanimidade. Aqui, não existe o comum. Cada indivíduo e cada ouvinte, ao mergulhar em sua audição, são convidados a viverem experiências próprias e indivisíveis. Cada ser, com a sua experiência e sua bagagem de vida, por meio dos sons do material, são levados para mundos particulares que incitam desde o êxtase do bem-estar à máxima nostalgia.
Ainda que suas seis primeiras faixas se mostrarem com maior destaque por promover um processo introspectivo intensamente profundo, outras obras de Headspace Station são salientadas por diferentes razões. Alba Mons, por exemplo, traz sonoridades mais conhecidas do meio musical tradicional por apresentar, aparentemente, a guitarra dialogando com um teclado que reproduz o veludo do fender rhodes. Já Hesperia Planum promove ao ouvinte a reconexão com a natureza e com tudo aquilo que é puro. Tais músicas ajudam a explicar o fato de que o álbum se configura como um exemplar da vanguarda da música eletrônica onírica, etérea e transcendental.
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