A introdução, curta, traz uma sonoridade ácida e estridente provinda da distorção que é como a anunciação de um dia curiosamente banhado em chamas flamejantes. No entanto, tal impressão rapidamente se esvai no momento em que uma voz masculina de timbre afinado em seu grave entra em cena desenhando os primeiros contornos do enredo lírico. É aqui que a canção começa a caminhar por um terreno estético interessante por promover a intersecção entre o stoner rock e o rock alternativo. Entre estridências ofertadas pelo groove do baixo, marcante inclusive em seu caráter ácido, a canção continua sendo abraçada por um azedume trazido pela distorção da guitarra, enquanto golpeadas na caixa da bateria iniciam os traços rítmicos. Por meio de um lirismo construído sob uma verve narrativa, a canção acaba, curiosamente, transpirando uma atmosfera de levante. De revolta. De manifestação. Splatterpunk Chic começa a ter sinais devidamente melódicos e fluidos apenas a partir do pré-refrão, momento em que o lirismo se torna fluido e os instrumentos se combinam em um uníssono ligeiramente amaciado.
Risadas editadas e ligeiramente digitais soam quase como gargalhadas esquizofrênicas e cínicas. Essa é a estratégia do I Am Your Wife! de introdução para uma canção que, rapidamente, explora uma temática rítmico-melódica lúdica que mais parece a sonoridade de um circo de horrores. Por meio de uma bateria curiosamente desesperada, o enredo rítmico parece propositadamente descontrolado, inquieto e ofegante em sua falta de coesão energética. E o interessante é perceber como essa contribuição acaba casando com a cenografia da obra, que vai se tornando cada vez mais caótica e estranha, conforme o vocalista passa a se comunicar por meio de falsetes estridentes e a esfera rítmico-melódica se confunde entre dissonância e caos. Tudo isso somado a um som agudo e contínuo que, produzido pelo sintetizador, deixa When Tigers Used To Smoke ainda mais maluca.
A introdução já vem com uma sonoridade madura e consciente de sua causa. Por meio de um baixo grave e ligeiramente estridente caminhando pela base melódica com uma cadência ligeiramente acelerada, a bateria se sente na ânsia de acompanhá-lo de forma uníssona. A partir daí, a estética punk está tomada. Enquanto isso, inclusive, a distorção da guitarra ecoa pelo cenário dando noções sujas e doses extras de estridência que cooperam com tal percepção. Evoluindo para um cenário em que a guitarra finalmente tem uma contribuição mais marcante, ofertando linhas solares por meio de sua sonoridade aguda e excitante, Drainer vai ganhando energia, sensualidade e excitação, características que acabam se mantendo durante toda a sua execução. É assim que a canção, ainda com um vocal ecoante e psicodélico, consegue ser intrigante e curiosamente radiofônica.
Gore Confetti é um EP que, desde seu início, mostra caminhos rítmico-melódicos calcados na exploração de texturas e de melodias propositadamente dissonantes. Entre estridências, sujeira e melodias interessantemente melosas, o material dá ao ouvinte a capacidade de degustar cada instrumento tanto individualmente quanto em coletividade, o que lhe proporciona a identificação de gêneros musicais que vão do punk ao psicodélico. Tais fatores, inclusive, já podem ser observados nas três primeiras canções. Afinal, elas carregam grande parte da essência de todo o conteúdo do extended play.
Mais informações:
Spotify: https://open.spotify.com/artist/5Qy2vgfESkBw8igZa1cDMD?si=5Tbyx6igRZKDFjCvDQd6IQ
Site Oficial: https://iamyourwife.band/
Bandcamp: https://rsprecords.bandcamp.com/music
YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCgr4Q718ifMuf81jy6L69Jg
Instagram: https://www.instagram.com/iayw_band