Com experiência de mais de quarenta anos vividos na música, GF Morgan adquiriu um estilo natural baseado em elementos celtas. Seu primeiro álbum, “Driftwood”, de 2020, conquistou elogios pelo mundo. Por conseguinte, surge agora mais um álbum nominado “Magenta”, cujo repertório de onze faixas destaca mais da magia do cantor e perícia com grandes melodias. Dessa forma, “Bonnie George Campbell”, que abre o disco, é um exemplo da sua musicalidade suave e precisa nas notas e, para ampliar o clima cheio de virtuose, “An Mhaighdean Mhara” complementa a dose de perfeição. Uma verdadeira obra de arte e respeito a sua audição.
O folk enraizado na música de Morgan, merece um certificado de qualidade e competência, pois as instrumentais que o músico extrai de violões e outros aparatos, chegam a possuir propriedades curativas, como na própria faixa título do álbum, onde somos capazes de sentir os seus dedos deslizarem sobre as cordas. Mas não são só as partes instrumentais que alimentam o nosso gosto pela boa música, a voz grave do artista, sempre repleta de pompa, também corrobora para uma fluidez salutar da melodia em geral. Você pode constatar isso ouvindo músicas como “Henry Martyne”.
O encanto melódico da música celta baila neste álbum como se fosse uma trilha sonora do próprio estilo. Em execuções como “Slán le Cara Maith”, sentimos o calor da melodia tocar a nossa alma e nos arremeter a um mundo fechado, com árvores, brisas e raios solares escapando pelas brechas. É impossível não despertar a imaginação, principalmente com interpretações de grandes clássicos como em “The Great Sun” da peta Charles Causley, que nos deixou em 2003. Nesta canção sentimos aquela vibe de estarmos em torno de uma fogueira, em uma noite na floresta, ouvindo cantigas de trovador. Mais uma pura excelência.
Tanta sensibilidade, amor e delicadeza para a música só poderiam sair de um artista criterioso como Morgan. Criterioso porque se percebe em suas harmonias, toda a disciplina e cuidado com criações de forma que elas ganhem o mundo com tudo encaixado e preparadas para brilharem. Mesmo que tais criações exijam só um instrumento como violão, por exemplo, o traço harmônico é intocável pelas imperfeições. Assim, você consegue acompanhar em músicas como “The Candle and the Moth” toda essa perícia, sensibilidade e emoção. É o tipo de música que, ao ser exposto às suas ondas sonoras, você se entrega confiantemente ao autorrelaxamento.
Algo que podemos notar, além de tudo o que já foi dito, é a associação em que Morgan faz entre música e “estória”. Fascinado pelo folclore celta, muitas danças e sons tradicionais de épocas remotas lhe servem de inspiração na hora de compor e reproduzir. É o caso de “Vale of the Red Wolf”, com uma hipnotizante melodia. Nesta aqui, o artista se inspirou em duas canções galesas. A intimidade do músico com o seu instrumento revela um ar de pureza e sofisticação, embora seus temas sejam cunhados em épocas que inspiram rudimentalismo. Para tal proeza, não me espanta a técnica do autor.
A melancolia também é presente nesta obra de GF Morgan, como a música tradicional “Roselyn Castle”. A sua história se passa na Escócia do século XVIII. Trata-se de uma peça de despedida usada pelo regimento tocada em flauta. Nesta versão, o violonista repassa o seu legado com uma emoção inabalável, evidenciando todo o respeito que a tradição pede, além de enriquecer ainda mais a sua melodia, ainda que melancólica, com mais beleza, direção e sedução. Aqui, Morgan deixa deslizar entre as cordas do seu violão, toda a virtuose e polidez de um ser humano notório.
Em versões mais atuais como em “Josefin’s Walz” de Roger Tallroth, o músico cria um clima que expande mais a melodia, acompanhado de um arranjo de foles encantador. O dedilhado no violão é como se fizesse base a um balé suave, contrapondo a pressa em uma linda atmosfera de melodia. A esta altura, o álbum “Magenta” já conse te prender em um cárcere psicológico que você mesmo se recusará em sair. Tudo por causa da sua magia, transcendência e valor sentimental. É no mínimo gratificante, o prazer de ouvir cada tema ou cada segundo dessa obra, e também é gratificante conhecer a arte de uma pessoa tão cheia de sensibilidade.
Para finalizar a audição do álbum, Morgan se inspirou em um hino tradicional germânico, originário no século XIV, mas também teve como referência uma criação para harpa do século XVIII. “Lo, How a Rose E’er Blooming/Planxty Irwin” é o nome dessa aglutinação que foi contemplada com o amor e técnica de Morgan. Depois de ouvir este disco, se aprecia uma boa música celta e suas ramificações, duvido muito que não o queira guardar em sua playlist. Gf Morgan, além de excelente músico, intérprete e compositor, é um verdadeiro curandeiro da alma.
Ouça “Magenta” pelo Spotify:
Visite o site oficial do músico:
https://www.gfmorganballads.com
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