Sua introdução já vem em um formato maduro. Sonoramente transcendental e possibilitando uma vasta gama de emoções que transpiram de cada aresta melódica, a canção permite, desde cedo, que o espectador deguste clara e nitidamente cada ingrediente de sua conjuntura estética. Do baixo à guitarra, o espectador é embebido em uma energia fresca e, curiosamente, aconchegante em seu estado de intensa melancolia.
Macia, quanto mais a obra se desenvolve, mais ela destaca sua natureza monocromaticamente cinza de forma a trazer a chuva como representação de um estado introspectivo latente. É nesse momento que gritos são ouvidos rasgando a superfície harmônica em elaboração. Por meio do sonar adocicadamente ácido da gaita, a paisagem sensorial não é agraciada por agonia ou angústia, mas, sim, por uma excentricidade reflexiva que captura o interior do ouvinte com gritante facilidade.
Por debaixo de uma chuva tão fina quanto um véu de noiva, a voz agridoce de Charlie Freeman, mais conhecido como Free/Man, entra em cena sob uma performance introspectiva pungente que hipnotiza o espectador. A cada palavra por ele proferida, é como se o ouvinte fosse levado a uma viagem nostálgica capaz de umedecer seus olhos e abrir, mesmo que levemente, certas feridas do coração ainda em processo de cicatrização.
Conforme a chuva vai encerrando sua valsa espectral e gélida, as nuvens vão se dissipando e o céu começa a ganhar novos tons. A noite traz, consigo, uma atmosfera saudosa inquietante por meio de seu escuro espectral rompido, apenas, por ligeiros pontos luminosos que incitam pitadas de esperança. Isso é o que a comovente Watchtower traz para o espectador: uma experiência sensorial profunda.
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