Há uma máxima que este redator costuma dizer, que é mais ou menos assim. Música boa não significa exatamente que é legal, música ruim não significa exatamente que é chata. Música simples não significa que é música ruim e música complexa não significa que é boa. Enfim, deu pra entender que não há uma fórmula ideal para algo ter qualidade ou não ter.
Porém, é claro que se unir o útil ao agradável o resultado será ainda melhor. Não há como uma música boa e legal não encher os olhos, principalmente se for muito bem tocada, contar com arranjos bem elaborados e, naturalmente complexos. Talvez este seja o caso do Fish And Scale, projeto que lançou seu mais recente EP no último dia 30 de junho, e consegue essa fórmula tão rara.
O mais interessante é que o grupo, capitaneado por Roland Wälzlein (Scale), explora uma sonoridade que já foi muito difundida, e mesmo assim consegue obter algo perto de inovador e encanta com seu trabalho detalhado, pomposo e muito bem executado.
Outro fator que surpreende, é que estamos falando de um grupo alemão. Sem querer estereotipar a sonoridade feita em terras germânicas, é raro vermos algo tão orgânico vindo de lá, do qual a maior tradição gira em torno do rock e música eletrônica.
Mas, além do conhecimento de causa, em “Wonderful”, nome do novo EP, o Fish And Scale consegue um resultado muito acima da média, que, além de tudo, pode atingir diversos públicos, agradando a maioria deles.
São quatro composições onde em menos de 14 minutos eles conseguem entregar o que propõem de uma forma natural, com boa dinâmica e um repertório versátil. Versátil no quesito das composições terem suas distinções, mas com uma identidade na espinha dorsal do trabalho, do qual há personalidade e uma assinatura.
Outro fator importantíssimo de “Wonderful” é o fato de sua produção estar primorosa. Desde a sonoridade, escolha dos timbres, captação de cada instrumento e a capa vanguardista, mostrando o principal nome do projeto em foto de zoom alto a deixando totalmente expressiva.
A produção sonora prima por manter a organicidade, mas sem deixar de lado o moderno. Isso porque o trabalho utiliza-se dos recursos atuais para lapidar sabiamente o som do disco, que soa limpo, mas longe de estar envernizado, passando longe dessa pasteurização vista tão comumente em trabalhos atuais.
E, destrinchando esse disco que cresce nos detalhes a cada audição, provamos o quanto encantador é o álbum. Afinal, já em “Stay!”, faixa de abertura, os olhos se saltam pela criatividade e bom gosto da canção. Um folk moderno, tocado por cordas discretas, um piano sofisticado e levada branda de bateria nos encanta de imediato, abrindo caminho para uma audição que, nos próximos minutos, só vai melhorar.
Acelerando o ritmo, guardadas as devidas proporções, é claro, “Don’t Care” é uma canção mais dinâmica e que ganha leves contornos de rock and roll, principalmente em seu refrão contagiante. Com uma influência indireta de Rolling Stones, encanta por manter os detalhes, com um órgão ao fundo que é a cereja do bolo, e a cozinha mostrando que pode ter pegada. Mais uma vez o piano é fundamental, e os solos certeiros de guitarras nos revela que todos os timbres foram muito bem acertados.
Já em “Feel”, uma leve veia jazz se encontra com trejeitos eruditos, mostrando ainda mais versatilidade do Fish and Scale. Leves toques de blues se fazem presentes, e o mais interessante é notar o quanto a faixa soa épica em seu contexto e não por seu tamanho. Aliás, todas as composições aqui são objetivas, mostrando também como conseguem explorar muito bem os arranjos em pouco espaço.
Conduzida ao piano, a faixa título é responsável por fechar o disco. “Wonderfull” é simplesmente uma balada jazz maravilhosa, simples e muito, mas muito emotiva. O baixo acústico e sua vibração encantam, parecendo invadir nosso coração e o fazer bater mais forte.
Temos que exaltar alguns trabalhos que aparecem em comum no disco todo. O primeiro são os ‘backing vocals’ certeiros, que soaram fundamentais, principalmente nos refrãos de cada canção. O segundo é a base de piano que tornou o som do EP muito característico, sendo praticamente uma assinatura. Por último é preciso destacar que Scale é um ótimo cantor, com seu timbre natural, mas versátil e muito bem equilibrado.
“Wonderful”, o álbum, traz um conceito por trás de seus temas. Descreve várias etapas de uma jornada para a origem da própria existência, uma jornada de autodescoberta. A busca profundamente humana de realização, amor e liberdade é o ponto de partida e leva inicialmente ao desejo de seguir seu próprio caminho autêntico. Isso requer libertar-se das vozes da sociedade que o fazem acreditar que a verdadeira felicidade vem de conquistas externas. Isso quer inspirar as pessoas a abrirem seus olhos e confiar em si mesmas. Bela mensagem.
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