Entrevista: Gerasimos Papadopoulos fala sobre sua nova criação, o single “Bazaar”

Você pode conferir a análise deste single, basta clicar aqui: “Bazaar”: embarque nesta jornada colorida e movimentada criada por Gerasimos Papadopoulos

Olá, Gerasimos Papadopoulos! Tudo bem?! Vamos conversar um pouquinho a respeito deste encantador single instrumental chamado “Bazaar”, que você nos presenteou?!

1) Em primeiro lugar gostaria de agradecer, por você compartilhar sua música. “Bazaar” é uma trilha sonora que cabe no conto, “Zahrenia”, e também alegra e participa do imaginário de qualquer pessoa, no dia a dia. Gerasimos, você já tinha a ideia (narrativa) pronta para compor a faixa? Como foi o processo? Por favor, conte ao leitor.

O conto de fadas ‘Zahrenia’ foi escrito pela filóloga grega Fotini Kaimaki, inspirada por uma viagem que ela fez à Síria há vários anos, antes de ser destruída pela guerra…

Em uma de suas belas narrativas, ela descreve o universo colorido e movimentado de um bazar oriental, que me lembrou muito os chamados “farmer’s market” de Atenas, onde vários vendedores de frutas vendem seus produtos nas ruas dos bairros. Esta imagem, combinada com minhas memórias de minhas viagens a Izmir e Istambul, me levou a criar esta música!

2) Seu próximo álbum terá como título “Zahrenia”. Existe um significado específico ou é o nome de um personagem do conto, por exemplo? “Bazaar” já está inclusa no disco?

“Zahrenia” é o nome de uma pedra preciosa imaginária, que o protagonista do conto – um pequeno beduíno – procura ao longo de sua jornada. Poderia se assemelhar simbolicamente ao sentido da existência, ou – simplesmente – o amor que cada um de nós procura na vida, percorrendo vários caminhos. “Bazaar” obviamente já está incluída no álbum, que deve sair nos próximos meses.

3) “Bazaar” traz uma instrumentação marcante, envolvente e muito agradável! Como você vê essa riqueza cultural sendo dividida com as pessoas mundo afora?

Muito obrigado por suas amáveis ​​palavras! Além disso, uma pergunta muito interessante que estou particularmente preocupado, mas em vão! Se ao menos houvesse uma máquina incrivelmente sofisticada que me permitisse entrar brevemente no cérebro de um motorista de ônibus chinês ou de um agricultor canadense e ouvir esta peça filtrada por sua própria cultura e experiências! Sinceramente, não tenho a menor ideia sobre o assunto…

4) O “Ferah” é uma reunião recente? Há uma química sensacional entre vocês, que proporciona muita qualidade sonora ao ouvinte! Conte-nos, há mais projetos juntos a caminho?

‘Ferah’ começou como um trio, com Achilleas Tigas no ney, Stefanos Agiopoulos nas percussões tradicionais, e eu no oud, voz e composições. Para fins do álbum, também chamamos o tocador de oud Thomas Meleteas, para tocar contrabaixo!

Com os caras a gente sai, bebe, ri e às vezes toca música! Se houver algum tipo de química na execução de música, definitivamente não é devido a ensaios repetidos (que nós não fazemos), mas à experiências comuns, percepção comum das coisas (musicais ou não), e nosso amor comum pela vida!

5) O vídeo arquitetado para o single “Bazaar” é um pedacinho do cotidiano de vários bazares em Istambul. Você colaborou nas imagens ou ficou por conta da criatividade de İmge Yüksel?

Com a fotógrafa e cinegrafista turca İmge Yüksel, embora nunca tenhamos realmente nos conhecido (só online), tivemos uma química inesperada na estética, nas ideias, em todo o conceito do que deveria ser feito para este vídeo. A ideia original para as cenas dos bazares de Istambul foi minha, mas a escolha dos bazares, a escolha destas filmagens e a edição imaginativa foram todas derivadas de sua própria engenhosidade artística!

6) Cores, sons, gostos. Um bazar é movimentado, com vozes negociando as mercadorias, pessoas procurando algum objeto ou apenas aproveitando o tempo, misturando-se à multidão. “Bazaar” desperta uma vontade imensa de fazer parte daquelas cenas! É convidativo! Essa é uma das propostas ou apenas um campo para visualizar uma narrativa (ideia)?

Ei! Eu diria que superficialmente ‘Bazaar’ representa o mundo do bazar em termos sonoros, mas no fundo te seduz, sem mirar nada. Assim como um verdadeiro bazar! Ele não tenta convencê-lo de que vale a pena entrar em seu universo. Ele só enlouquece seus sentidos, apazigua sua racionalização automatizada de tudo, que você apenas se percebe como sendo levado a isso como uma pessoa hipnotizada. Mas você está hipnotizado pela vida!

7) No vídeo percebemos a aparição, várias vezes, das pombas. E na capa de apresentação do single, também. Essas cenas (imagens) oferecem uma mensagem específica?

Um dos bazares que İmge sugeriu filmar foi o mercado de pássaros em Fatih. Achei fantástica a ideia dela, pois as imagens dos pombos nas gaiolas, além de terem um poder artístico especial, carregam também um simbolismo mais profundo. A pomba branca é um símbolo da paz mundial, mas também da pureza pessoal. Para mim, a pureza não é uma virtude ideologizada, nem qualquer tipo de abstinência sexual por apegos imaginários. Para mim, a pureza é o retorno a elementos infantis muitas vezes reprimidos ou horrivelmente ancorados sob o pesado guarda-chuva do rígido racionalismo: vivacidade, sinceridade, imaginação, espontaneidade na expressão de alegria ou tristeza, amor ou amargura… elementos de infantilidade, que – como pássaros – muitas vezes se tornam produtos de barganha, vítimas da transformação da humanidade em uma vasta bolsa de valores.

8) Gerasimos Papadopoulos, o artista e compositor, se considera um indivíduo que aprecia o cotidiano dos ambientes populares e culturalmente marcantes dos ares mediterrâneos? Por favor, conte-nos!

Não só aprecio as culturas populares do Mediterrâneo, mas tento ativamente ser um membro contemporâneo deles como um músico e compositor ativo! Em Atenas, onde moro, toco meu oud e canto, montando o que chamamos de ‘glénti’. Um evento em que as pessoas bebem, comem, cantam, dançam, enquanto tocamos grego tradicional, turco, canções cipriotas, antigas, modernas, nossas e alheias. O Mediterrâneo tem uma luz singular, pois é banhada pelo sol quase o ano todo. Esta luz é difundida em todas as suas manifestações culturais, desde suas pinturas folclóricas até suas canções. Até a dor da morte é expresso em luz. “Deixe-me cantar e me alegrar, no próximo ano quem sabe se vou morrer ou viver ou estar em outros lugares” diz uma das minhas letras folclóricas favoritas.

9) A música é uma das formas de expressão da cultura popular, que exerce uma importante função na construção de identidades na sociedade (independente de qual parte do planeta você se encontre). “Bazaar” encaixa-se neste sentido perfeitamente, quando entrega ao ouvinte um conjunto instrumental incrível e mesmo que não tivéssemos como visualizar imagens, pensaríamos em algo otimista e movimentado, dentro de um ambiente comum ao cotidiano. Partindo deste ponto de vista, qual a importância da arte entrelaçada ao seu trabalho, para as pessoas? Como você visualiza esse processo?

No esquema artista-pessoa há sempre uma armadilha: a armadilha do distanciamento. É isso parece que o artista e seu público são duas entidades distintas. Muitas vezes eles são. Mas eu acho criativamente mais útil e mais honesto me considerar parte da multidão, em vez de um ‘debatedor’. Prefiro ser um contador de histórias cotidianas, um portador de emoções, um instigador de situações inebriantes, evitando a todo custo tornar-se um didático ou pregador de idéias pesadas.

10) Gerasimos, sempre deixo a última pergunta para relacionar com algum contexto envolvendo o Brasil. Então, vamos lá! Qual instrumento, da cultura brasileira, você traria para o seu universo de composições?

Ah, essa pergunta é muito fácil! Como sou um grande amante da percussão, adoraria criar uma composição em que minha voz, o oud e uma orquestra de percussão brasileira coexistam!

Quer acompanhar o trabalho de Gerasimos Papadopoulos? Basta acessar os links.

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