Talvez os mais novos não saibam, mas Seattle, em Washington, nos Estados Unidos, é a capital do grunge. De lá vieram os grandes nomes do estilo, que tiveram um boom meteórico nos anos 90, mas que foi suficiente para coloca-los como lendas do rock. Nirvana, Pearl Jam e Alice Chains formam o trio de ferro, mas nomes como Soundgarden e Mudhoney não correm tanto por fora assim.
O que caracterizou a cena foi o som mesclando punk, com leves toques de metal e um penso sorumbático, no mínimo original para aqueles tempos que descendia do domínio do glam metal, estilo característico por levar a sério o conceito sexo, drogas e rock and roll em sua forma mais divertida.
O grunge tirou só a diversão de tudo, ganhando contextos mais tristes, melancólicos e agressivos, dando voz e ouvidos a jovens que se sentiam excluídos e perturbados na época, do qual seus cabelos, quando os tinham, não eram adeptos do laquê que o ‘hard rock farofa’ tanto ostentava.
E, apesar de não ser somente de lá, Seattle se tornou o ambiente perfeito para essa cena, sendo até hoje de certa forma berço de algumas sonoridades mais sombrias. O motivo disso (o som sombrio) ninguém consegue explicar plausivelmente, mas é fato que a cidade ainda nos entrega bandas de qualidade, o que é o caso do La Need Machine, que chega agora ao seu primeiro álbum cheio.
Trata-se de “Pourquoi? C’est L’Amour!”, um disco que vem para ser um grande passo na carreira da banda, que antes havia lançado somente alguns singles, inclusive alguns deles estando no disco.
E se o leitor (futuro ouvinte) acha que se trata de uma banda de grunge, não está errado, mas também não está certo. Estamos diante de um grupo que une diversas facetas dentro do rock alternativo, logo o indie e o grunge se fazem presentes. E a banda não fecha seu leque, revelando influências da música clássica e aquela pincelada do pop dando uma lapidada final.
Isso tudo pode ser conferido em 10 músicas onde eles conseguem entregar e criar sua identidade de uma forma extremamente natural e convincente, mantendo um equilíbrio impressionante em nível de qualidade das composições.
A começar por “Our Song”, uma música com uma introdução erudita que vai se transformando no detalhe dos arranjos, inclusive os vocais femininos líricos. A música revela seu contexto alternativo, com um bom ritmo e soando dinâmica. “I Wish I Could Fly” mantém essa premissa, continuando com os elementos acústicos e os backings líricos, mas com um teor mais de balada.
A terceira faixa é uma versão clássica, com violino e violoncelo, da icônica “Over The Rainbow”, vencedora do Oscar, composta por Harold Arlen com letra de Yip Harburg, tendo sido escrita para o filme “O Mágico de Oz” (1939), sendo cantada pela atriz Judy Garland em seu papel de Dorothy Gale. A versão é bem fiel a estrutura original, com um show de vocal feminino lírico.
Aliás, o trabalho vocal é preponderante no disco, com um time de quatro vocalistas encantadores. “The Mountain” é a primeira a música a contar com guitarras distorcidas, revelando a veia rock alternativo do disco, mas mantendo o fundo clássico, com orquestrações bem-postas, o que é corriqueiro.
“Maria” chega com uma aura um pouco mais leve, vocais mais naturais, bebendo na fonte do pop rock, enquanto “Vincent Van Gogh” é uma balada alternativa tradicional, de violões com bases simples, e uma melodia introspectiva muito bem escolhida, contando com uma guitarra de fundo discreta, é uma das raras faixas, talvez a única, que dispensa orquestrações no disco.
“These Old Jeans” chega com um ritmo e melodias mais clássicas, apresentando um dueto vocal inspirador, e a cozinha mais consistente do trabalho. A banda, guardadas as devidas proporções, já traz bastante influência de Smashing Pumpkins, e a música “Sardonic Love” é um bom exemplo disso, sendo a que mais se aproxima da linha da banda de Billy Corgan.
Em grande tom de despedida, mas sem soar piegas, revelando praticamente todos os elementos da sonoridade do La Need Machine, “The Hometown Heroes” fecha o disco com um alto requinte, onde um piano ajuda nas bases e um sax cai como uma luva em meios as guitarras poderosas e um ritmo cativante. Uma versão pop de “Over The Rainbow” encerra o disco com chave-de-ouro.
O resultado final mostra que “Pourquoi? C’est L’Amour!” é um disco agradável de ouvir e que exige o mínimo de esforço, pois as músicas fluem com uma naturalidade impressionante. E, no mais, com a identidade focada em requintes clássicos e o bom gosto nos arranjos, pode agradar tanto fãs de rock alternativo, quanto os amantes da boa música em geral. O grande trunfo do La Need Machine é soar atemporal e gerar uma música que tende a ser irrotulável, o que é uma façanha para qualquer banda.
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