Para descrever o mais novo disco da compositora, cantora e pianista letã Aleksandra Vilcinska, precisamos antes destacar sua carreira, que não é pouca coisa. Conhecida também como Sasha, ela é vencedora do prêmio MASA 2024 Rising Star e indicada à trilha sonora do HMMA 2024 Short Live Action.
Também trabalhou em um videogame vencedor do BAFTA 2024 “There Was a Home”, no documentário finalista do prêmio ACADEMY 2024 “The Undertakers” e no documentário vencedor do Kerry International Festival 2023 “Harvest”. Só isso já mostra o quão multifacetada Aleksandra é, além de jogar ainda mais responsabilidade diante de “Book Of Dreams”, sua mais nova oferta.
E ela não se fez de rogada, entregando um trabalho que não se prende ao que ela moldou e participou durante sua jornada pela música, criando uma identidade própria e um trabalho que é, em sua maior parte, focado no piano, criando composições versáteis em solo do instrumento.
Outra ousadia da artista da Letônia é que ela apostou em um disco conceitual que, mesmo sem linhas vocais, conta a história de uma princesa traduzida pela sonoridade de 13 músicas versáteis dentro de sua proposta, o que mostra que também é mais uma façanha da artista.
A história é uma jornada pelo mundo caprichoso e misterioso de uma jovem princesa chamada Elara. De uma bola mágica cheia de criaturas estranhas a voar pelas estrelas e se apaixonar pelo Rei dos Sonhos, sua aventura explora o delicado equilíbrio entre fantasia e realidade. Conforme o sonho se desenrola, Elara descobre a importância de si mesma, do amor e da coragem de voltar para casa. Uma história de beleza, desejo e a promessa de sonhos ainda por vir.
Cada faixa do álbum é um capítulo do sonho de Elara, onde cada nota e pincelada faz parte de sua história. Mas, não se resume a isso, já que essa trilha sonora envolta de beleza e sentimentos pode também servir como inspiração para histórias particulares de cada um que ouve o disco, transformando a apreciação de “Book Of Dreams” em uma jornada particular reflexiva.
Musicalmente, a abordagem de ‘Sasha’ também é abrangente, e ela explora diversas facetas, desde o clássico, erudito, moderno, o que faz audição do disco ainda mais prazerosa. Sem contar a autonomia que o álbum possui, podendo ser incluso em um contexto de música ambiente, que só enriquece a energia local e ainda prima por trazer um relaxamento da alma.
Em quase 1h de música, Aleksandra prima por não se repetir, criar diversos climas e destilar as composições em seus momentos exatos, gerando um tracklist de equilíbrio impressionante. Tudo captado com uma produção muito bem lapidada, que prima por mostrar um som cristalino, audível em cada detalhe de cada música.
A começar pela belíssima composição de abertura intitulada “Princess Lullaby”. Uma perfeita faixa de abertura, que prima por nos incluir da forma mais bela possível a essa viagem sonora. “Sleeping Dance” se revela uma peça sutil e dinâmica, quase como se fosse um interlúdio.
Incrível como a terceira faixa, “Rain”, traduz bem o título da canção (‘chuva’ em uma tradução livre), mostrando o quão sucinta a compositora é. Enquanto isso, com uma introdução levemente dramática, “Paper Boat” se revela uma composição mais introspectiva. “Asleep In The Forest”, por sua vez, mostra uma abordagem mais delicada, servindo de contraponto à sua antecessora.
“Spinnig Sky” é mais uma peça que dá aquele respiro ao disco, porém com uma das melodias mais encantadoras do álbum, para que possamos entrar de cabeça na segunda metade do ‘tracklist’. Que logo começa com “Flying on a Dandelion”, uma música naturalmente reflexiva, onde a passagem dos graves para o agudo acontece de uma forma maravilhosamente natural.
Outra tradução do título, “Space Voyage” mostra uma abordagem mais moderna do piano, com dinâmica e objetividade latentes. A cadência de “King Of Dreams” encanta, soando praticamente como uma valsa dos tempos antigos, enquanto “Butterflies” parece colorir o mundo com a dinâmica das teclas agudas que a incrementam.
“Time” abre o sprint final de “Book Of Dreams”, parecendo ser tirada diretamente de uma trilha sonora de Alan Silvestri, o que já resume bem a qualidade dessa belíssima composição. Ou seja, aquele clima de drama e beleza que só ele sabe fazer, mas, claro, com as características de Aleksandra bem postas.
“Until Next Time (in my Dreams)” parece ser exatamente uma continuação de sua antecessora, mas ainda mais característica e com a identidade de ‘Sasha’. E para o momento final, “Surise Epilogue” finaliza o disco com uma primazia impressionante, soando como a faixa mais emotiva e tensa (no bom sentido) do disco.
Incrível a capacidade de Aleksandra Vilcinska em contar uma história apenas com música instrumental e tudo isso fazer sentido. Amantes de piano irão se deleitar, pois sua abordagem é completa e fãs de boa música devem ouvir e exaltar essa maravilha atemporal.
https://www.aleksandravilcinska.com
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