O silêncio ensurdecedor vai sendo rompido de maneira gradativa. Porém, ainda que a ausência de som pudesse surtir um efeito emocional de pura insegurança e medo, a sonoridade que vai sendo construída acaba, invariavelmente, causando o mesmo efeito. Na forma paulatina de uma espécie de marcha fúnebre, a bateria, através de golpes sequenciais e lentos na caixa, vai fazendo a estridência ecoar pelo cenário. Porém, é interessante perceber como os novos ingredientes, os quais mais se assemelham com o ressoar de violinos, conseguem introduzir um súbito de esperança e tranquilidade. Uma paz de caráter um tanto enganosa, no entanto. Em verdade, quanto mais se desenvolve, mais June Yui evidencia a sua natureza soturna, de postura intimista e de sensibilidade, de fato, morfinesca. É assim que a obra captura com grande requinte de facilidade o emocional do espectador.
Não existe qualquer questionamento que seja justificável. Afinal, desde seu início imediato, o que a canção oferece é o puro suspense. Um suspense do tipo que causa suor frio e deixa as pupilas dilatadas em um nítido sinal de alerta. Com o som do vento preenchendo o ambiente como se o personagem estivesse em um topo de montanha enevoado e inóspito, a canção, através do ecoar daquilo que parece ser a guitarra em sua afinação fina, consegue difundir um senso de temor a ponto de se configurar como algo aterrorizante. Surpreendentemente, enquanto o ouvinte se vê na iminência de se entregar ao torpor, Guanasha Ride, em um súbito, permite a entrada de um instrumental potente, rascante e dramático em sua forma mais lancinante. De aparência delicada, a faixa se desenvolve de tal maneira que permite o vislumbre de uma harmonia terna, mas cuja textura é sentida de maneira audaciosamente corrosiva.
Nascendo de maneira a evidenciar sua natureza crua, algo observado através dos chiados que preenchem o cenário em uma clara comunicação da inserção de lo-fi, a canção, de início, se vale pelos ecos agudos da guitarra. Proporcionando um agradável e curioso senso de aconchego, a canção parece, quanto mais se desenvolve, enaltecer um aspecto introspectivo pungente. Se destacando pela sua performance soturna, sonoridade intimista e postura dramaticamente chorosa, At Last, I Fades vem como uma chuva de incompreensão, incredulidade e desalento. Um estado de desesperança e orfandade de crenças que faz com que o personagem se veja completamente esquecido em meio às suas dores.
É difícil para que um álbum ou uma música alcance patamares que tocam o ouvinte em sua mais profunda camada sensorial. Mais difícil ainda é atingir esse ponto com um material que se vale unicamente pelo som, sem o auxílio literal das palavras. Porém, com Endless, o Summer Fades Away parece ter chegado a essa seara de maneira ao mesmo tempo comovente, pungente e rascante.
Por meio de sua track list de sete faixas, o álbum convida o ouvinte a atravessar terrenos banhados por energias sombrias e aterrorizantes ao ponto de despertar o que há de mais frágil e vulnerável dentro de cada um. De outro lado, existe, entre os diálogos sonoros, uma melancolia dramática tão rascante que transforma as lágrimas em ácido e a esperança em descrença e desalento.

Ainda que apresente momentos em que o personagem lida com a presença de brechas de luz natural em meio à escuridão pegajosa lhe oferecendo requintes de resiliência e até mesmo compaixão, o próprio álbum não esconde que esses mesmos cenários surgem como uma espécie de alucinação da própria mente humana quando em contato com o medo. E nesse sentido, não é de se espantar que as três primeiras faixas acabem ganhando maiores holofotes.
Esses títulos escancaram com mais visceralidade as questões da precisão, coesão, consistência e força no que diz respeito estritamente ao som e aos seus âmbitos técnicos. Do lado emocional, elas fazem com que o ouvinte experiencie mais profundamente o temor, a solidão e a desesperança a tal ponto que, invariavelmente, auxilia o ouvinte na percepção lírico-temática do álbum.
Dialogando sobre crescimento pessoal, a passagem do tempo, a transformação urbana e o caos inerente a uma nação em processo contínuo de mudança, Endless, cujo lançamento é previsto para o dia 02 de abril, soa como um álbum sobre mudança. Sobre um processo de metamorfose que passa pelo caos, o bruto, o sombrio e a desordem para chegar na utopia do equilíbrio e da harmonia. De fato, o álbum marca um retorno triunfante do Summer Fades Away.
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