Há shows que são experiências e há shows que são sobre música. Talvez eu nem precise dizer aqui qual essa turnê do Deep Purple que acabou de passar nesse dia c representa. Porque se você está nesse texto, sabe muito bem do que eu to falando.
Ainda que o mundo precise sim de muito sangue novo, são os gigantes do rock que movem as coisas. E se engana quem pensa que é apenas pelo fato de as pessoas conhecerem as músicas, há décadas. Claro, o fato de cantar junto, o mais perto possível do seu ídolo é impagável. Estar ali na frente ouvindo uma música que faz todo o sentido na sua vida, é impagável. Mas o que o Deep Purple trouxe para o palco da Live Curitiba nesse domingo foi muito mais do que isso.
E se você foi um dos sortudos ou sortudas que estava ali, ou que ao menos conseguiu pegar um pedacinho de turnê, parabéns! Ian Gillan (vocal), Roger Glover (baixo), Ian Paice (bateria), Don Airey (teclado) e Simon McBride (guitarra) fizeram o público lembrar de como é de fato se divertir fazendo algo que você gosta. E é isso que faz essas bandas arrastarem multidões por onde passam, e ter uma gama ampla de público. Muito se diz na internet do que se deveria gostar ou não, o que é passível de cancelado e o que é sucesso. Mas tem coisas que vão além. “A arte é para consolar aqueles que são quebrados pela vida.”, já dizia Vincent Van Gogh (ref) e me pego nessa frase desse gigante que ainda dizia que as coisas grandes são formadas pelas pequenas, uma série delas.
Deep Purple foi assim. Chegaram com uma humildade e um carisma que fica impossível não se apaixonar. De cara já entregaram tudo com Highway Star, quase como quem diz que a gente não precisa fingir o que está fazendo aqui. Todo mundo veio para se divertir e a noite será sobre isso, e esse o primeiro anúncio da noite, que perdura até o fim. Com a música que começou despretensiosa, divertida, que se tornou um clássico e alcançou o 13° lugar nos 50 melhores riffs de guitarra de todos os tempos segundo uma lista muito bem cotada da Guitar World (ref).
Além disso, importante dizer que eles foram extremamente pontuais. Ian Gillan soltava “Obrigado”, assim, em português mesmo, a cada música. Precisava? Claro que não, já estamos acostumados com “Thank You”, afinal, para o fã é comum aprender a língua do artista, mas faz uma diferença danada quando o artista fala a língua do fã. Ainda que a música já tenha ultrapassado essas barreiras. É um gesto de carinho, de reconhecimento. (e vende muito mais camisetas e discos do que muita gente pensa.)
Na sequência tivemos “Pictures of Home”, também do “Machine Head” e as novíssimas “No Need Shout” e “Nothing at All”, de Whoosh!. “Essa é dedicada a memória de nosso amado Jon Lord.”, disse Gillan anunciando uma belíssima interpretação de “Uncommon Man”. Aliás, o vocalista estava afinado e muito brincalhão entre Lazy, Blind Man Cries e Anya ele soltou: “Fantástico, obrigado, eu não posso contar essa história porque é muito suja”.
Esse humor leve e divertido não faltou também no solo de Don Airey, que simplesmente deixou uma tecla no infinito para receber das mãos de um garçom, no meio do palco, uma bela taça de vinho, ainda que eu não tenha reparado se ele bebeu de fato ou não. Como não se emocionar com a genialidade dele, e um belo pot-pourri/medley/mashup de músicas brasileiras?
Se podemos citar um ponto alto do show foi, com certeza, nas primeiras frases de “Can you remember, remember my name?”. A Live foi abaixo, ou melhor, acima, porque pulou, cantou, filmou esse clássico “Perfect Strangers”.
E se por alguma razão você ainda não tinha reparado na potência que sr Ian Gillan ainda mantém na sua voz, a sequência de “Space Truckin’” e “Smoke on the Water”, não te deixaram passar despercebido. Claro que, talvez sim, se você estivesse cantando junto ou filmando. Faz parte também deixar essas recordações guardadas.
Todo mundo saiu do palco e ficou aquele clichê. Pausa aqui para uma reflexão. Se a banda finge que acaba e volta, fica aquele gostinho de clichê, mas, na verdade, ninguém está preparado para que a banda toque todas e simplesmente vá embora. Gostamos dessa tradiçãozinha de voltar para dar aquele gostinho a mais.
Sim, eles voltaram de toalha branca na cabeça e nos ombros. Bem coisa de rockstar que faz firula para revista de fofoca. Mas o bônus aqui veio bem adocicado: “Hush”, seguido de “Black Night”. E assim, Deep Purple terminou uma noite deixando o público embalado em alegria e felicidade. Bem coisa de artista que sabe compartilhar alegria com o fã.
Ah, e a cara de Ian Gillan dando uma olhada geral para todos ali, como quem se despede de um amigo muito querido, foi a cereja do bolo dessa noite de 23 de abril pela Live Curitiba, com realização da Opus Entretenimento.
Set list:
Highway Star, Pictures of Home, Nothing at All, No Need to Shout, Uncommon Man, Lazy, When a Blind Man Cries, Anya, Perfect Strangers, Space Truckin’, Smoke on the Water, Bônus: Hush, Black Night