Confira o terceiro trabalho do quarteto Q3

São cinco anos sem lançar um álbum cheio. Não seria por menos, afinal de contas, o Q3, um quarteto com foco no jazz, vindo de Cambridge, no Reino Unido, explorou o quanto pôde o bem sucedido disco “The Monkey Puzzle Tree” (2019), segundo da carreira da banda, e que foi muito bem recebido por público e crítica.

Logo, agora uma das tarefas deste novo trabalho, intitulado “Water Speckled Midnight”, é manter essa chama acesa e no mínimo continuar com a qualidade do qual o grupo moldou seus trabalhos nos últimos dez anos, afinal, o primeiro disco, “Spider Dance”, foi lançado em 2014. Lembrando que a banda foi formada em 2013.

A mente pensante por trás do Q3 é do pianista Martin Hallmark. Ele tem ao seu lado músicos gabaritados, como o saxofonista americano Kevin Flanagan, que tem sido um grande nome na cena jazzística do Reino Unido desde a década de 1980, gravando com membros do Pink Floyd, Sex Pistols, Portishead e Led Zeppelin, e se apresentando com Tommy Chase, David Gordon e seu próprio quarteto.

O baixista Tiago Coimbra é um dos principais no instrumento elétrico do jazz do Reino Unido. Ele foi um músico acompanhante do superastro global do piano Hiromi e se apresenta com a banda de jazz-funk Resolution 88 e Dennis Rollins. Oscar Reynolds é um baterista baseado em Cambridge e Londres. Ele toca com uma ampla gama de grupos de jazz, funk, soul e blues, incluindo o trio Phil Stevenson, Amy Bird, Lepage Dean, Cath Coombs e H Eldritch.

Halmark formou o Q3 em 2013, por isso é o principal compositor. Sua inspiração para montar a banda veio de estudar com Chick Corea em 2012, com quem ele tocou uma de suas próprias composições. Logo, depois dessa apresentação de músicos magistrais, sabemos que o conteúdo deste novo disco não pode ser algo e nem pensar em ser abaixo da média.

O novo álbum foi gravado no estúdio Alpheton New Maltings em Suffolk, que recentemente recebeu Brad Mehldau. Com uma produção sublime, bem nítida e lapidada, prima por uma sonoridade orgânica, onde todos os instrumentos são devidamente bem captados.

São 10 composições onde o já mencionado jazz é o grande mote, mas não se restringem a isso. Nelas, durante quase uma hora de boa música, nota-se influências também da bossa nova, doses homeopáticas de blues e música erudita, que dão um tempero diferenciado ao trabalho.

Sem poupar qualidade, eles já começam com a sublime “Through The Clouds”. O início com o sax tomando as rédeas, mostra também um contexto ‘lounge’, soando muito bem como uma música ambiente. Ela é seguida por um “Odyssey”, que flerta não só com a bossa nova, mas também com a música latina, com seu ritmo suingado e percussão atípica.

“Emerald Eyes” marca o primeiro tema mais intimista, mostrando um equilíbrio impressionante do sax de Kevin, que com destreza, conduz a melodia acompanhada pelo piano brando de Halmark e uma bateria mais que suave. Já “Nomads” traz o virtuosismo impressionante do baixo de Tiago, mostrando que estamos diante de uma seleção de músicos mesmo. Incrível como ele encaixa o instrumento elétrico com precisão nas composições.

“Nocturne” recupera aquele clima do lounge, com o piano trazendo aspectos mais graves e o sax com suavidade mandando ver melodias mais intensas, um respiro considerável para a chegada da metade do disco. A bateria volta a dar o ritmo jazzístico em “Water Speckled Midnight”, que prima por marcar mais um encontro espetacular entre o piano e o sax, com o baixo primando por vibrações ao fundo.

Já “Rondo di Girulata” é a primeira canção do trabalho com um teor mais erudito, explanado pelo piano soturno de Halmark, que prova o seu talento (que nem precisa ser provado, na verdade) e versatilidade. Aliás, versatilidade é a grande premissa da canção, que se transforma em um jazz/bossa nova de um dinamismo impressionante do meio pra frente.

Entrando na trinca final, “A Good Day For Breathing” é a de ritmo mais quebrado do trabalho, onde a marcação do tempo preciso prova mais uma vez o talento do quarteto. Destaque para o baixo mais uma vez, que mostra linhas independentes e arrisca slaps que modernizam a faixa.

“Tournaround Time”, a mais dançante do disco, se embebeda de vez na bossa nova, com a bateria chegando a ritmar o samba, que vai deixar fãs brasileiros com sorrisos de orelha a orelha. Enquanto isso, “Postlude”, como o próprio nome entrega, chega como uma faixa de despedida, fechando as cortinas deste trabalho que não tem sequer um momento ruim.

O que podemos constatar ainda, em “Water Speckled Midnight”, que além da junção de técnica e feelind, o Q3 consegue fazer com que o ouvinte viaje o mundo sem sair do lugar, por incorporar elementos da já mencionada música latina, mas com referências também à música árabe, mediterrânea e até funk. Que disco, meus caros!

https://www.q3jazz.com

https://www.facebook.com/p/Q3-100063505785780

https://open.spotify.com/artist/0XMrD1DxxVGVh1zJ9RdP2x?si=V5JI-rdOR1GL8Hoph6k9pw

https://www.youtube.com/@user-hk9lc2oj8o

Digite o que você está procurando!