Com Secrets, The Northern Light leva o ouvinte para uma viagem de memórias e reflexões

A maciez com que a canção se inicia não é apenas inebriante. Ela confere ao ouvinte uma sensação de êxtase e conforto que transcende a significância do termo bem-estar. Delicada e fresca, conforme vai calmamente se desenvolvendo, a faixa vai evidenciando contornos de uma aparente jam session por meio de uma levada percussiva leve, um baixo bojudo e de notas pontuais, além de uma guitarra que despeja um quê curiosamente transcendental à atmosfera.

Ainda que cada uma dessas constatações sejam inquestionáveis, o que a canção, de imediato, oferece é uma paisagem sensorial profundamente intimista que, invariavelmente, encaminha o espectador à tarefa da reflexão. Enquanto sua base rítmica se arregimenta como uma expoente do blues, a melodia insere, nela, pitadas de um folk cuidadosamente cru que, interessantemente, se combina com o timbre levemente adocicado do vocalista.

Com tudo isso junto em uma mesma arquitetura rítmico-melódica, a canção passa a experienciar um momento de profundo e irresistível torpor até que seu compasso muda. Quando atinge o refrão, a faixa passa a caminhar em uma velocidade levemente mais acelerada que lhe garante uma menção de fluidez mais lúcida. É exatamente nesse momento que Secrets conquista um horizonte poente que despeja, sobre o espectador, um senso de esperança perante a possibilidade de recomeço. Querendo ou não, esse é o movimento que o vaivém entre a lembrança do passado e o contato com o presente estipulado pela canção oferece ao ouvinte.