A música é um universo tão vasto e misterioso, que alguns artistas registram coisas inimagináveis aos costumes de algumas civilizações. Em parte, podemos atribuir um pouco disso ao Aleksandr Kuzin, criador do projeto Cash U. Para entendermos melhor as composições de Kuzin, devemos saber que ele não é um músico de carreira e, sim, produtor musical. Suas composições atribuem-se a comerciais e temas ligados ao cinema e jogos eletrônicos. Por isso, ao escutar este “Best Shit”, você ouvirá várias variações a começar por “Hip so Hop (Cappuccino)”, que além do título satírico também há muita diversão na canção. Siga a melodia.
Você perceberá também que todas as músicas possuem pouca duração. Isso justifica o propósito do cantor em criar trilhas sonoras. Títulos engraçados como o da primeira faixa e “My Ass Is the Best”, são o que mais se vê neste álbum de onze músicas. Há de se notar também, que o hip-hop é uma das principais influências do compositor. Dessa forma, você confere batidas fortes, alternadas e uma produção supertransparente, sem falhas e ranhuras. O que não precisa muito é o exercício do bom vocalista, pois os temas como são divertidos, quanto mais bizarra for a voz, melhor para encaixar aos temas.
Mesmo assim, algumas canções como “I Don’t Give a Funk” exercem certa virtuose na melodia vocal, e também nos outros instrumentos. Observe, por exemplo, o cativante riff de guitarra desta música e tente ficar parado com o seu groove. Será tarefa difícil. A propósito, Kuzin é um verdadeiro multi-instrumentista, pois seu domínio em tocar guitarra, baixo, bateria, piano, clarinete e sax faz dele um músico completamente independente. Essa virtude toda só pode resultar em ideias incríveis para o seu trabalho com sonoplastia. Ou seja, suas composições vão além de apetrechos eletrônicos criados em sintetizador. Há também muita melodia no lado convencional.
Às vezes, coisas simples como as onomatopeias de “This Is so Dumb but I Like It”, se transformam em um ótimo tema. Sem muitos elementos na música, esta execução que dura apenas pouco mais de um minuto, pode catapultar muitos produtos ao sucesso tendo este ‘jingle’ como vinheta. Sem arranjos, riffs ou algo que possa grudar na mente vindo de um instrumento musical, o grunhido da música é a parte que se destaca e que de fato gruda na mente. Socorro! Já não consigo tirar, eu mesmo, este barulho da cabeça. Talvez isso seja uma magia.
Vocês não vão acreditar no que vem em seguida. Sim, Cash U, interpreta uma canção chamada “Beautiful World”, com uma pegada fazendo clara homenagem ao mestre do jazz, Louis Armstrong e seu indiscutível clássico “What a Wonderful World”. A melodia, no entanto, não tem a ver com a imortal canção, porém o vocal carregado em ‘drive’ tenta emular o estilo do grande cantor de Nova Orleans. Uma pequena nota de cordas, que pode ser de baixo ou guitarra, com marcação breve de estalados já são o bastante para que Kuzin formasse a melodia. O resto é só conforto, tal como fazia Amstrong.
Como podem constatar, na última canção o Cash U abandonou um pouco as influências do hip-hop. Em “I Don’t Like It” isso também acontece, mas não para reverberar algo de jazz ou blues. Na verdade, esta música puxa mais para o pop rock e nu metal pela sua estrutura veloz e pesada. A seguinte, “Super Epic (Feel It)” também traz um pouco disso com efeitos de sintetizador que lembram mais arranjos feitos para bandas como Rammstein e Linkin Park. Se você é fã dessa pegada mais automatizada, não se arrependerá com a performance de Cash U neste tema.
Depois disso, a zoação retorna com “Kitty Cat (Meow Meow)” que pelo nome não preciso nem falar do que se trata, mas como você ainda não ouviu o álbum – até aqui – saiba que isto nada mais é que um homem imitando o miado de um gato, acamado por uma parede sonora bem encaixada. E, para completar a bicharada, após a música do gatinho vem a música do cachorrinho. Isso mesmo, a execução seguinte se chama “Doja Dog (Woof Woof)”, onde uma batida cativante dá suporte a latidos e uivos de cãeszinhos. Diga se há algo mais excêntrico do que isso?
Para investir em um groove mais dançante, o projeto apresenta “A Song to Cheer You Up”, que é a cara da alegria e você pode ouvir enquanto pula. Embora isso seja uma boa saída, você não está livre da melancolia de “I Feel Good I’m OK”, última atração do repertório. Depois de RAPs, rocks, jazz, R&B etc., estava faltando mesmo uma balada para completar esse pacote de músicas totalmente aleatórias. De certa forma, “Best Shit” pode ser encarado como uma vitrine para o trabalho deste grande artista. Aqui, de acordo com os temas, é uma amostra da grande alegoria mental de Aleksandr Kuzin.
Confira “Best Shit” pelo Spotify.
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