Carl Liungman nos leva às lágrimas em seu novo álbum “Change”

Dono de uma sensibilidade que impressiona, o pianista sueco Carl Liungman acaba de lançar o seu mais novo álbum “Change”. Assim como o título, as músicas trazem uma sensação de simplicidade, embora impactantes. São nove músicas distribuídas em pouco mais de trinta e sete minutos. Liungman, que lançou obras como “Shine” e “Born” – ambas de 2022 –, segue o mesmo parâmetro de nomenclatura de seus discos com uma palavra apenas no título. Da mesma forma, envereda-se toque aveludado de sua técnica em todos os movimentos, criando uma mistura clássica e moderna nas composições. O que está documentado é puramente arte.

O álbum lançado pelo próprio selo independente Caliu Piano, começa com a singela faixa “Mother”. Com frases prolongadas e texturas aveludadas, o músico europeu tece as notas da música com exímia precisão. Seu estilo neoclássico aflora em cada toque na tecla, revelando a sua pessoa um compositor inteligente e sentimental. O minimalismo destacado em sua técnica, converge profundamente com a beleza harmônica extraída de suas mãos. Talvez a música faça homenagem a sua genitora, mas pode fazer um gancho as muitas mães pelo mundo, portanto, se percebe tanto virtuosismo dentro da melodia. Liungman, nesta música, exemplifica o paradoxo inicial deste texto onde se destaca o simples e fantástico.

Assim como são os títulos dos álbuns, são os nomes das músicas, pois em “After”, assim como em sua antecessora e em quase todas as outras, denotam-se o monotítulo. Na segunda parte, no entanto, se sente um clima mais soturno. A melodia que não é crescente aqui, anda por um caminho mais introspectivo. Em certos momentos, o espaço de uma nota e outra parece chamar o ouvinte a uma reflexão. São espaços longos, determinando a distância entre uma melodia e outra. Entretanto, a beleza transformadora continua única e inabalável. Aos poucos, sentimos que as dores e mágoas vão embora com a própria música.

O pianista de Västervik, em sua jornada, acabou incluindo em sua personalidade artística influências mais modernas como alguma coisa do jazz mais contemporâneo e, até mesmo, do pop. Tais facetas o deixam em uma posição bastante destacada entre outros, permitindo-o trilhar caminhos também pela área cinematográfica. Músicas como “Final Days”, tomam um pouco dessa reflexão com andamentos soltos, mas sem perder o clima acinzentado. Sua estrutura, antecipadamente, promove um despertar inicial para, no final, fechar com uma atmosfera densa. Isso funciona como dois lados de uma moeda, bem e mal, yin-yang… cabe a você decidir.

Parte do talento de Liungman é provindo do próprio DNA, pois seus pais já eram admiradores vorazes dos mais diversos nomes. Entre eles, Beatles e Mozart estavam incluídos em numerosas fitas que adornavam todo o conjunto sonoro da família. Por conseguinte, aquilo tudo representou uma formação de caráter para o pianista compor músicas como “Hope”. Com trechos delicados, o passeio harmônico se estende em direção íngreme até atingir o seu ponto máximo. Daí em diante, declina-se sustentado em um sentimento melancólico e, por que não dizer, desesperançoso? Essa contramão de sentimentos já se torna retrato da versatilidade desse artista.

O movimento seguinte se chama “Wind In June”, com uma base de piano imprescindível dando suporte ao solo protagonista do mesmo piano. É importante salientar que, melodias como esta, são verdadeiros véus de seda ao vento. A sua maciez, unindo-se a sua textura formam uma atmosfera fina e de bom gosto. Aqui, deixa transbordar um pouco mais do seu lado clássico, executando uma performance quase barroca em um estilo menos tempestivo. Essa é uma das características mais marcantes do músico e compositor, pois o seu senso criativo o permite ligar eras. Lembrando que, tal habilidade, provém de décadas de estudo, além de um dom sobre-humano.

O que ainda não foi dito, é que “Change” é meio que uma representação existencialista do autor da obra. Portanto, algo nos diz que todo o sentimento, carisma e virtuose inseridos aqui são frutos de inspirações profundas que culminam um ciclo para então iniciar outro. Dessa maneira, pode-se chegar à definição do título. A esta altura do álbum, Liungman apresenta como a faixa de menor duração, “Father”. Ela se resume em notas calmas de piano, sem climas rechonchudos e tensos, como se demostrando a saudade de seu pai. Na verdade, esta música é uma das mais simples, esteticamente falando, mas que pode representar muito para o compositor.

Enquanto isso, o disco segue com a cativante “Survivor”. Assim como a sua estrutura, o próprio título remete a uma sobrevida ou a um recomeço. Aqui, os dedilhados são mais eufóricos e consegue erguer o nosso ânimo. O movimento seguinte, chamado “Peaceful”, faz parte da seção ternura do álbum, como quase todas as outras, ok! Mas aqui, o relaxamento é quase hipnótico em um curto período de tempo. Por conseguinte, a faixa título reflete em seu próprio significado. Uma verdadeira canastra de melodias, sentimentos e leveza. Uma palavra para esse álbum: espetacular.

Ouça “Change” pelo Spotify:

Acompanhe o músico em seus canais oficiais:

https://carlliungman.bandcamp.com

https://www.youtube.com/@carlliungman/featured

https://www.instagram.com/carl_liungman_pianist

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