Na península dos Bálcãs, no sudeste da Europa, reside uma banda com estilo psicodélico hipnotizante. Refiro-me ao Bones In Butter que, recentemente, lançou o seu terceiro álbum completo “Cosmopolis”. Com distribuição assinada pela Rexius Records, o disco possui treze canções que, a exemplo de “You Just Drowned”, é recheado de grandes ideias, técnicas peculiares e um gracioso charme sérvio. Dessa maneira, Milutin Krašević (composições, vocais e sintetizadores), Luna Škopelja (vocais e samples), Todor Živković (guitarras) Dejan Škopelja (baixo), Tom Fedja Franklin (bateria) e Srdjan Popov (mixagem) conseguem inserir um pouco da própria cultura em suas músicas versáteis, virtuosas e harmoniosas.
Para um entendimento mais específico, o grupo cujo primeiro trabalho, “Love of Fear” apareceu nas plataformas de streaming em 2020, usa não apenas o experimentalismo nas composições, como também absorve influências do pós-punk e new wave. Você faz essa constatação em músicas como “Dumped”, que possui estrutura de um som clássico. Aqui, tudo soa oitentista, desde a acidez no vocal de Krašević, como no solo de guitarra em timbre metalizado. A harmonia da cozinha também nos remete a uma boa época. Tudo isso embalado por uma cadência equilibrada da bateria, que exerce papel significativo na identidade e direção da música.
Lá no citado primeiro álbum, para quem não ouviu, existe a música “A New Generation”, que é bastante expressiva na musicalidade buscando um caminho mais empolgante. No entanto, a complementar “A New Generation, Pt. II”, que veio figurar neste último álbum, é bem mais melancólica e com peso acentuado. Embora o seu perfil não revele uma canção com fluidez livre, como a primeira parte, as suas complexidades deixam o ouvinte atento desde as notas mais inibidas às mais expostas. Portanto, as bases que sustentam a melodia, assim como os corais de vozes promovem um grande espetáculo. É só seguir os acordes.
Quem também possui influências da new wave, mas é alimentada por vários elementos progressivos é a “Skunks!”. Essa música é uma verdadeira viagem ao passado com sua melodia vintage e execução de vários trechos com teclados. Lembra alguma coisa de Yes e Rush na fase progressiva, com pitadas de Depeche Mode. Em contrapartida, “They All Shine For You” tem uma proposta menos dançante, embora o seu clima nos envolva por completo. Destaque às sutilezas nos arranjos, backing vocals e efeitos de guitarra. Aqui, temos uma música cuja beleza toma várias formas, é só você soltar a imaginação e personificar a sua.
Em “They All Shine For You”, a sessão de sintetizador domina a base musical, criando uma atmosfera de discoteca dos anos setenta. Parte dessa magia é impulsionada pelas batidas alucinantes que a música possui e combinações eletrônicas trazidas do âmago do compositor Milutin Krašević. Já deu até para perceber o quão diversificadas são as ideias desse músico e produtor. Por exemplo, temos em seguida “Are We Dead Yet?”, que é uma canção diferente de tudo que já foi ouvido aqui, pois trata-se de uma balada ácida e tempestiva ao mesmo tempo. Nesta música, as sessões de guitarra, assim como as vozes de Luna Škopelja, deixam uma nota de mistério pelo ar.
Com uma execução bem mais presente, o baixo se destaca em “Persona Non Grata” com linhas harmoniosas e cheias de personalidade. Ao mesmo tempo em que Dejan Škopelja deixa a sua marca também nas outras, é nessa música que a seu nome chega mais forte. Na sequência, “Know Nothing” tenta seguir os passos de “Are We Dead Yet?”, mas suas linhas melódicas são bem mais duras, externando uma espécie de melancolia que pode agradar até o mais insosso fã de dark music. Em conformidade, o clima de tensão chega a ser palpável.
Para se soltar mais um pouco, “I Can Love” chega com uma sessão rítmica mais trabalhada, porém complexa nas sessões de teclado e guitarra. Aliás, o que Todor Živković já mostrou o que sabe fazer até aqui, transforma esse álbum em um verdadeiro porrifólio para as suas técnicas. E não podemos esquecer de Tom Fedja Franklin que, em músicas como “A Word Before You Go”, nem cansa a beleza por se tratar da canção mais cadenciada do álbum. Mas técnicas de condução, viradas e desenhos complexos são suas especialidades. A dupla de cozinha do Bones In Butter é notável.
Saindo um pouco da parte musical e mergulhando na arte da capa, você sente a harmonização entre a ilustração que, aparentemente, representa uma sociedade com suas camadas de nobreza com a própria música. Em “Going To Cosmopolis”, canção que reporta ao título do álbum, pode se referir a isso. A seguinte, “Escape”, pode representar a fuga de toda a pressão que a sociedade de uma grande cidade pode promover a quem só procura por paz, ou sair da matrix. Bom, se é isso que você precisa, não perca mais tempo e corra para conferir este lançamento.
Ouça “Cosmopolis” pelo Spotify:
Visite a banda em seu site oficial.