Bobby Pilllowslança o versátil disco de estreia “A Rebel And A Blunt”

Olha que interessante, até 2023, Blacks Harbour, comunidade no Canadá, era considerada uma vila. Hoje é uma comunidade rural de Eastern Charlotte, em New Brunswick. Situa-se em um porto de mesmo nome, com vista para a Baía de Fundy. O mais doido é que o lugar não chega a ter mil habitantes. Por lá, 902 pessoas vivem suas vidas.

James Morabito, artisticamente conhecido como Bobby Pillows, é um destes habitantes e a sua existência é uma das provas do quanto o hip-hop, com ênfase no rap, chegou a todos os lugares do mundo. Afinal de contas, estamos diante de um praticante do estilo que acaba de lançar um novo disco.

E ele estreia no cenário autoral independente já apostando em um trabalho cheio, o que é de uma ousadia e tanto, já que hoje em dia o mercado está mais pronto para coisas imediatas. Porém, isso não é uma crítica, mas sim um alívio, afinal de contas, o cenário tem sentido falta de lançamentos mais completos e ele colabora com isso.

E tudo trazendo onze composições, onde ele mostra um talento imenso dentro de sua proposta, transitando por diversas eras, além de impor sua identidade própria, o que de cara não costuma ser algo normal. Logo, mais pontos para este artista incrível e versátil.

E ele não admite ter feito tudo sozinho, afinal de contas, Bobby contou com artistas como Sayzee, que mixou e masterizou o disco, e Dialect Sosa, que faz uma participação especial em uma das músicas. A composição, execução e produção ficou por conta do próprio Pillows, que aliás entrega um som de timbres fantásticos e muito bem lapidados.

Como tema, o canadense não cai no comum e sai um pouco da zona de conforto do rap, apostando em letras que vão num caminho antiestablishment, ou seja, contra o sistema em sua concepção política e / ou social, mas sem cair na agressividade curta e barata.

O rapper, inclusive, entrega descontração, que pode ser conferida já na primeira música, “Bugatti Bobby”, uma faixa de batida e sintetizadores misteriosos, que se destaca pelo trabalho de jogo de palavras, do qual ele mostra uma habilidade incrível. Diferente de muitas faixas títulos, a música não resume o disco, só o abre com uma energia excelente.

“Ichiban” já é uma faixa diferente de sua antecessora, mostrando dinâmica e agressividade acima do normal, com um certo ar intimista, e a participação especial de Dialect Sosa, que dá um frescor ao som. Enquanto ela traz uma mescla do velho com o novo, sua sucessora, “A Couple Bucks”, entrega uma veia mais ‘old school’, com sintetizadores bem sacados, que entorpecem o ouvinte e uma batida vintage.

Com um som mais orgânico e batida sucinta, surge “Old Crackers”, uma música que comprova a versatilidade de Pillows, que prima por manter sua essência, mas mantém uma amálgama impressionante de influências, tais como Jeru Tha Damaja, Shabazz The Disciple, Black Thought e Redman.

Com uma batida bem sacada, suave na medida em que pode, “Hold Up” prima por ser uma música moderna, mas não tendenciosa. Enquanto isso “Big Banks” chega com um teor mais pop e acessível, sem apelar para tal, de uma forma totalmente objetiva e atual.

“Tokyo 2099” entrega uma música bem característica do rap, que no final ganha alguns trejeitos asiáticos, mas simplesmente como um acessório e conta com a participação de Sayzee. Ela é sucedida por “Living Off The Land”, um rap dinâmico, fincando nos moldes ‘old school’, que irá agradar os mais saudosistas. Destaque para a batida precisa e rápida, que deixa a música melhor ainda.

Não é muito diferente em “Blicky”, que continua com uma boa dinâmica, apenas ganhando um sinal de alerta, que deixa a faixa mais tensa e com um teor mais sério, incluindo no trabalho vocal. “Last of My Kind” tem um suingue diferenciado, com ‘groove’ rápido, mais uma vez surpreendendo e revelando ainda mais diversidade de Pillows.

Chegando na reta final, ele encerra com “Shopping Bags”, mais uma música vibrante e com ‘groove’ na medida, mostrando que ele apostou em abrir mais seu leque no final do disco. A música foge dos preceitos comuns, e finaliza “A Rebel and a Blunt” com um alto astral, ficando uma deixa para mais coisas…

E tomara que essa deixa se concretize, pois um artista como Bobby Pillows não deve se restringir a apenas um disco, muito pelo contrário, ele tem muito caminho a seguir, além de muita coisa pra entregar. Que isso seja feito e sempre que possível.

E, além de soar acima da média, com composições que podem ser hits do estilo ou até mesmo da música pop, “A Rebel and a Blunt” se mostra um trabalho onde a versatilidade fica visível até em seu teor, que une momentos mais sérios e outros satíricos. Que venham mais trabalhos como este!

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