Blindness & Light: confira a estreia magnífica do projeto britânico

Alguns trabalhos de estreia nos surpreendem pela gana aflorando, a criatividade bombando e a energia que emana das composições. Muitas vezes associamos isso ao espírito jovem dos artistas, mas nem sempre essa é a realidade (a jovialidade). Isso porque há muitos músicos experientes que também estreiam e, além de criatividade e energia, vem no pacote a maturidade.

Collin M Potter, por exemplo, já é um músico que tem experiência no cenário e chega agora com seu primeiro disco de seu projeto, Blindness & Light. O trabalho autointitulado denuncia essa sapiência, entregando boa música e soando totalmente inspirado.

Em “Blindness & Light”, o artista britânico de Anglesey consegue inserir elementos não muitos comuns ao estilo que propõe, entregando uma sonoridade que, em alguns aspectos, pode ser facilmente reconhecida, mas com uma roupagem diferenciada. E este é um dos grandes trunfos do trabalho.

O resultado é um disco de oito composições, que em menos de 40 minutos consegue entregar muito bem sua proposta, agregar qualidade ao cenário alternativo e (por quê não?) mundial. Em comum, a sonoridade focada no post-punk, mas com a assinatura do artista e um visível leque aberto para outras influências, o que deixa o disco mais versátil e abrangente.

Em uma parceria com Helen Reynolds, Blindness & Light abre o disco com “Time For Something Drastic”. A faixa tem uma guitarra levemente distorcida e camas de teclados atmosféricas que fazem nos indagar: estamos diante de algo progressivo ou post-punk? Logo, ela ganha corpo e nos mostra que a segunda opção é a mais contundente, porém sem deixar a primeira de lado. Sim, além de tudo a faixa de abertura tem elementos progressivos. Em doses homeopáticas, mas tem.

“The Old Skylight”, que conta com um trompete acompanhando as linhas de baixo, guitarra e violão na introdução e refrãos, foi uma das prévias do disco. A faixa de trabalho nos remete muito às bandas alternativas da década 80, como o Dexys Midnight Runners, por exemplo. Aliás, que refrão maravilhoso tem essa canção. Vale destacar a participação de Helen nos ‘backings vocals’, da filha de Potter, Elise S. Potter no baixo e o trompete por conta de sua amiga. Enquanto isso, “Unholy Flaming” cai mais naquele tradicionalismo clássico, onde guitarras limpas se entrelaçam às sujas, com um teclado oitentista típico ao fundo.

Outra faixa de trabalho, “The Ballad of Them And Us”, uma das mais incrementadas do disco, traz participação do ex-The Christians, Henry Priestman, que é o responsável pela gaita no arranjo. A faixa é a primeira a mostrar a inserção do folk na sonoridade de “Blindness & Light”, a grande característica do disco. Henry também toca melódica nesta faixa, além de remixar o lançamento do single para criar a mixagem Ynys Môn que está no álbum. Realmente é uma das principais do trabalho.

“Another Day” abre a segunda parte do disco e com toda sua atmosfera e sentimentos iniciais nos leva a um pop rock a lá Bruce Springsteen, claro, com a identidade de Potter à frente. É a faixa mais objetiva do álbum e antecede “Chains”, que traz uma mixagem Old Town, e já ganha mais energia, soando mais dinâmica na cola do post-rock alternativo do tipo Inxs e U2. Lembrando que as menções não se tratam exatamente de influências, muito menos cópias, e sim para situar melhor o ouvinte.

Entrando na reta final, “We All Lose” é mais uma das composições que tem o folk inserido em suas entranhas, além de ganhar fortes elementos do indie, principalmente em seu ritmo. Ritmo que é levado com muita coesão pelo baixo vibrante e a bateria precisa, onde a base violão / teclado / guitarra é consistente. Esta talvez pode ser a canção de clima mais leve do álbum.

Não por semelhança, mas por teor, “The First Light of Day”, que fecha o trabalho, se assemelha com a abertura. Isso porque estamos diante de uma faixa de início misterioso, onde barulhos de ondas do mar se juntam a um teclado atmosférico, que nos faz viajar exatamente para qualquer zona litorânea mais fria que conhecemos. Em seu decorrer, ganha bases de violão logo acompanhada por um vocal melancólico, para explodir em um ritmo mais vibrante e na aura mais sentimental do trabalho até então. Simplesmente uma canção perfeita para encerrar disco.

E, eis que o saldo de “Blindness & Light” é mais que positivo. Trata-se de um disco extremamente acima da média que nos emociona com seu ‘tracklist’ versátil, mas cheio de identidade, porém não só por isso. A história do disco se entrelaça com o drama de seu autor, que quase morreu, por causas não reveladas, mas usou sua ‘segunda chance’ para reavaliar a direção de sua vida. E, sem melodrama, mas com muito sentimento, ele conseguiu entregar um disco que agrega muito ao cenário musical e, principalmente, ao rico post-punk!

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