Beloved | David Schaefer lança álbum em forma de cura e acerto de contas

De maneira um tanto inusitada, o álbum se permite despertar através de um relâmpago de excêntrica ambiência campestre na forma de um deslizar da batuta do violino. Seguidamente, a obra que lhe confere o amanhecer começa a ser desenvolvida de maneira a experienciar texturas de pura ternura e dulçor. Graças à viola, a composição, ao mesmo tempo, é agraciada pela elaboração tanto da melodia quanto da harmonia. Um processo que se torna marcante através da difusão de um sabor doce e de um senso de aconchego penetrante. Enquanto isso, o violão, sob o efeito lap steel, vai permitindo que o ouvinte, gradativamente, vá sentindo o cheiro da grama molhada, dos cavalos no curral e a textura da terra batida sob os pés descalços. Serena e delicada, Play It Safe, assim que tem iniciado o seu primeiro verso, tem seu escopo conjuntural completo com a entrada de uma voz agridoce preenchendo o escopo lírico com evidente fragilidade. Importante destacar que, além do charme tão singelo da viola, a faixa tem um engrandecimento na sua consistência sonora graças à maturidade com que o baixo insere seu groove lexicalmente encorpado.

Lenta, uivante e essencialmente delicada, a presente composição não apenas faz com que o ouvinte vislumbre o cair da noite, mas, também, lhe permite vivenciar, mesmo que imageticamente, o seu acolhimento por entre as texturas fofas do cobertor. Agraciada por uma levada rítmica macia fornecida pela bateria, a obra, consequentemente, consegue oferecer um bom senso de fluidez ao ouvinte, o qual se vê entorpecido em seu próprio mundo inconsciente instigado pela textura mansa que a composição vai amadurecendo. Não é de se assustar, portanto, que Asleep At The Wheel soe como uma aconchegante, reconfortante e acolhedora canção de ninar. Uma espécie de cantiga que instiga os sensos de proteção e ternura em sua máxima essência.

Generosamente diferente de tudo que o álbum apresentou até então, Dangerous apresenta ao ouvinte um escopo rítmico-melódico provocante e sensual a partir de um instrumental vivaz, solar e, até, de certa forma, elétrico. Capaz de difundir uma energia irresistível de disposição e mente aberta, a faixa é onde o baixo se mostra mais saliente e desenvolto, enquanto que, no que se refere à guitarra, ela vai adquirindo para si a alma da canção com seu riff agudo e aberto em meio a movimentos curiosamente atraentes e, principalmente, ardentes. Esteticamente, é importante salientar que a presente canção possui uma arquitetura que a faz ser categorizada como um single de apelo radiofônico indiscutível em virtude de sua estética que, inclusive, bebe de influências do pop.

É verdade que Beloved é um álbum de um total de 10 faixas. Por isso, é difícil rotulá-lo em uma só palavra, uma vez que, cada um de seus títulos, exploram atmosferas diferenciadas que, às vezes, se ligam entre si. Porém, existem certas constatações que são unânimes em relação à trajetória do material como um todo. E a primeira delas é a percepção de que ele é um álbum versátil e aberto a mais de um arranjo rítmico.

Da atmosfera campestre desdenhada pela ambiência folk à base pop desenvolvida conforme o álbum amadurece, é possível que o ouvinte ainda encontre nuances de soft rock e incursões do indie rock através de suas paisagens instrumentais. Claro que, no sentido estritamente emocional, Beloved é um álbum que não se envergonha em explorar o dulçor, a delicadeza e, principalmente, a fragilidade escancarada em cada esquina sonora.

É inevitável aferir, porém, que essa espécie de miscelânea estrutural, além de uma dose intensa de imersões no campo do inconsciente em busca das emoções mais cruas, seja encontrada, principalmente, no decorrer de seus três primeiros títulos. Isso acontece porque, neles, existe a evidência de uma natureza doce e nostálgica envolta em um frescor que incita, mesmo que brevemente, a melancolia. 

Essas nuances, por sinal, não só cooperam, mas dão uma notável consistência à narrativa de Beloved como um todo. Dessa forma, a sua história de acerto de contas e cura transpassa o limite do som, toca e emociona o ouvinte com seu viés cheio de sinceridade e honestidade. Em suma, eis aqui, através da sensibilidade de David Schaefer, um álbum folk rock místico exortado pelo coração.

Mais informações:

Spotify: https://open.spotify.com/intl-fr/artist/6gpBDDMBbSTBxl6Nwp1W9D

Instagram: https://www.instagram.com/davidjschaefer/

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